Países com maiores taxas de mortalidade por Covid-19 vão mal na economia, mostra estudo

Trabalho do Ibre FGV também relaciona queda na confiança com revisões para PIB

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São Paulo

Países com maiores taxas de mortalidade relacionada à Covid-19, em geral, também apresentaram piores desempenhos econômicos, segundo estudo dos pesquisadores Aloisio Campelo, Marcel Balassiano e Rodolpho Tobler, do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV).

O trabalho considera uma amostra de 12 países que representam cerca de 60% da economia mundial: Brasil, EUA, Alemanha, França, Espanha, Itália, Japão, Reino Unido, Canadá, China, Rússia e México.

O levantamento relaciona a diferença entre as projeções mais recentes do FMI (Fundo Monetário Internacional), de outubro, que já incorporam os dados efetivos de atividade divulgados por essas economias, e as previsões anteriores à crise com a taxa de mortalidade por milhão de habitantes coletada até a última segunda-feira (19) pelo site Worldometers.

A Espanha é o país com a maior taxa de mortalidade da amostra e a maior diferença entre as projeções da taxa de crescimento do PIB.

México, Reino Unido e Itália também são países com altas taxas de mortalidade e diferenças de mais de 10 pontos percentuais para o crescimento do PIB, segundo o estudo.

China e Japão apresentaram as menores taxas de mortalidade e de mudanças nas projeções econômicas.

Brasil e EUA também possuem altas taxas de mortalidade, apresentaram mudanças relevantes entre o projetado em janeiro e outubro, mas em magnitude menor que os demais países da amostra.

Segundo os pesquisadores, no caso brasileiro, o efeito do auxílio emergencial ajudou a diminuir as perdas da atividade econômica. Nos EUA, também houve expressivas medidas de estímulo que ajudaram a minimizar as perdas.

“São dois países muito ruins na condução da crise de saúde e vão ter quedas fortes [do PIB], mas que poderiam ser piores”, afirma Marcel Balassiano

“Brasil e EUA foram países que estimularam bastante as economias, principalmente o próprio consumidor, dando bastante dinheiro para a população, e isso pode ter amenizado essa revisão da taxa, mas ainda há uma correlação positiva entre mortalidade e revisão”, afirma Rodolpho Tobler

Os pesquisadores ressaltam que a relação não é perfeita, pois outras variáveis também impactam a economia desses países e que estes resultados são para essa amostra de países, considerando esse período.

Dizem também que esse é um momento de menor incerteza econômica diante da evolução da crise sanitária após mais de seis meses e dos primeiros resultados das medidas de estímulo adotadas.

“Em outubro, temos muito menos incertezas do que em julho e muito menos do que em abril. Em junho, a projeção do FMI para o Brasil passou para -9%. Agora, passou para -5,8%. A gente pode dizer que essas projeções de outubro já incorporam muito os dados efetivos e as políticas de estímulo adotadas”, afirma Balassiano.

Os pesquisadores também pegaram os índices de confiança de consumidores e empresas e concluíram que países em que essas expectativas eram maiores no período anterior à crise apresentaram maiores revisões para o crescimento do PIB.

Os pesquisadores também compararam a mudança nos índices de confiança de consumidores e empresas e concluíram que, países em que o nível da confiança estava maior no período anterior à crise apresentaram maiores revisões para o crescimento do PIB.

“Os países que estavam com melhores perspectivas em termos relativos, conforme apontado pelos índices de confiança, foram pegos no contrapé pela inexorável crise. Em vez de realizarem o desempenho mais favorável sinalizado pelos índices de confiança, estes países observaram fortes revisões para o crescimento no ano. Por outro lado, nos países em que a confiança já estava relativamente mais baixa, as revisões foram menos profundas”, diz o estudo.

Tobler afirma que, no Brasil, não havia uma confiança tão alta antes da pandemia e que houve uma recuperação no indicador por conta dos estímulos econômicos, que afetaram mais os empresários do que os consumidores.

“Nos últimos meses, a gente até vê uma recuperação da confiança da indústria, mas um consumidor muito cauteloso. Até porque o auxílio emergencial contribuiu bastante para amenizar esse momento negativo, mas a gente sabe que a questão fiscal impede que ele seja mantido por muito tempo”, afirma o pesquisador.

“Os consumidores estão ficando muito cautelosos com esses próximos meses, porque o mercado de trabalho foi muito afetado, a renda das famílias também, então, quando sair o auxílio emergencial, isso pode ser uma complicação grande no andamento da recuperação.”

“A partir do quarto trimestre é que a gente vai observar como será a evolução das coisas. Os estímulos foram muito altos, o Brasil gastou muito. A gente tem essa incerteza, sem saber como as economias vão se comportar com o fim dos estímulos”, diz Balassiano.

Embora as medidas de estímulo do governo tenham ajudado a minimizar as perdas econômicas no Brasil, reportagem da Folha mostrou que um estudo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) realizado em parceria como IRD (Instituto Francês de Pesquisa e Desenvolvimento) identificou que há uma correlação entre a preferência pelo presidente Jair Bolsonaro e a expansão da Covid-19. A conclusão é que o discurso ambíguo do presidente induz seus partidários a adotarem com mais frequência comportamentos de risco.

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