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Pix coloca startups e bancos no mesmo jogo, dizem empreendedores

Empresa que inova com serviço financeiro espera ser mais competitiva com menos burocracia

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São Paulo

A democratização de tecnologias e o aumento da competitividade são as principais vantagens do novo sistema de pagamento Pix na visão das fintechs (startups voltadas para serviços financeiros).

A análise foi feita por representantes do setor, entre especialistas do ramo e CEOs de empresas —muitas criadas com o objetivo de oferecer soluções práticas de transferência, que serão possíveis com o sistema do Banco Central.

É o caso da Partyou, voltada para universitários e que mudou seu modelo de negócios há três anos, já de olho na chegada da nova solução.

“As discussões sobre o Pix começaram em 2017, e pensamos que não faria sentido a gente ter uma empresa focada em transferência de dinheiro sendo que isso vai ser resolvido de uma forma mais estrutural”, diz o presidente da empresa, Otávio Dutra.

Otávio Dutra, co-fundador e CEO de Partyou, fintech que oferece soluções financeiras a estudantes universitários - Mathilde Missioneiro/Folhapress

O foco da Partyou tem sido criar formas de integrar os serviços financeiros no dia a dia do consumidor. Isso se tornou possível com a perspectiva de um processo que democratiza o pagamento digital a um custo baixo.

“Credenciar nosso cartão em uma bandeira hoje nos custa R$ 500 mil. O Pix tira todo esse cenário das fintechs e as leva para o mesmo mesmo patamar dos grandes bancos. A minha funcionalidade Pix é a mesma funcionalidade do Pix do Itaú, vamos jogar o mesmo jogo”, argumenta.

Especialista em fintechs, Bruno Diniz reforça que as mudanças colocam essas empresas em pé de igualdade.

“Hoje nós temos um sistema de pagamento sobre o qual são processados os DOCs e TEDs, é um sistema intrabancos. Com os pagamentos instantâneos, o Banco Central coloca uma infraestrutura sobre a qual fintechs, bancos e outros players, como o delivery de um Ifood, podem desenvolver suas carteiras e soluções de pagamento.”

Diniz explica que parte disso está associada ao fato de que transferências, ao menos para pessoas físicas, serão gratuitas, baixando o custo e aumentando a competição.

Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, destaca a desburocratização como principal vantagem. A empresa tem mais de cem funcionários dedicados a implementar a nova modalidade de pagamento —que passa a valer a partir do dia 16 de novembro.

Cristina Junqueira, co-fundadora do Nubank - Karime Xavier - 6.mar.2020/Folhapress

“A gente sempre teve transferência instantânea entre contas do Nubank sete dias por semana e sem custo. Isso faz diferença e estimula a bancarização. Muitos preferem usar dinheiro e não estão no sistema bancário por ser muito caro, burocrático”, diz.

Para ela, empresas como o Nubank têm vantagem por já estarem afeiçoadas à inovação. “Há adaptações, mas já trabalhávamos com a mentalidade instantânea, é diferente de uma instituição em que tudo é DOC ou TED”.

Segundo a empresária, o Nubank deixou de cobrar mais de R$ 8 bilhões em transferências isentas de taxas, tendo por base de comparação valores cobrados por bancos.

Fundador da Spin Pay, plataforma de pagamentos instantâneos para varejistas, Alan Chusid acredita que o Pix foi ainda impulsionado pelo isolamento devido à pandemia da covid-19, que levou ao aumento das transações digitais.

“O Pix chega em ótima hora pelas suas próprias características, mas, sem dúvida entra muito fortalecido por conta dessa digitalização dos processos”, diz Chusid.

Nos últimos anos, Chusid participou do processo de regulamentação do método junto ao Banco Central. Em novembro, ele lançou a Spin Pay. “Entendi que precisávamos antecipar esse movimento, se não estaríamos agora correndo atrás do próprio rabo.”

A facilidade também traz preocupações a empresas cujos negócios sempre dependeram de inovações digitais para se diferenciar. Para Dutra, da Partyou, quem focou na experiência de cliente, com bom atendimento e serviços complementares, sai na frente.

Cristina, do Nubank, também destaca o atendimento como diferencial permanente das fintechs. “Apesar de o Pix dar para gente uma plataforma que vai ser eficiente, e acessível, nem todos vão usá-la da melhor maneira.”

“É muito difícil desenhar uma experiência bacana, um aplicativo que funcione, e a gente acha que as diferenças entre quem faz isso bem e quem não faz ficarão mais evidentes”, diz a empresária.
Chusid chama atenção para o trabalho a ser feito daqui para frente pelas fintechs.

“Vai ser muito bom para o ambiente competitivo, mas é importante que o mercado como um todo mergulhe de cabeça e entenda como tirar o melhor proveito dessas novas infraestruturas para adaptar seu ‘business’. Do contrário, até uma fintech pode morrer rápido se achar que a inovação dela vale para sempre”, afirma o fundador da Spin Pay.

Open banking é a fase mais aguardada para ampliação de serviços

As empresas dedicadas a ofertar soluções financeiras esperam ansiosas pela chegada do open banking ao Brasil. A possibilidade de um sistema bancário aberto é considerada campo fértil para as fintechs, já que permitirá acesso a informações de seus clientes mediante autorização.

A expectativa é de que, em posse dos dados, as empresas possam expandir suas ações para outras esferas da vida do usuário. Será possível, por exemplo, oferecer produtos como crédito, seguro e operações de câmbio.

“O open banking parte da premissa de que os dados pertencem às pessoas, e cada vez mais isso vai ser reforçado com a Lei de Proteção de Dados”, explica Bruno Diniz, diretor da FData e autor do livro “Fenômeno Fintech — Tudo sobre o movimento que está transformando o mercado financeiro no Brasil e no mundo” (Alta Books).

Diniz se refere à legislação que regula o uso de dados no Brasil, em vigor desde agosto deste ano.

Para Ingrid Barth, diretora-executiva da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs) e cofundadora do Linker, empresa que oferece contas gratuitas e digitais para pessoas jurídicas, outros dois movimentos podem ocorrer, associados a ampliação de serviços: uma maior possibilidade de parcerias entre empresas e a abertura de novos segmentos de negócios.

“Acreditamos que será possível oferecer não apenas o serviço financeiro, mas também criar uma espécie de hub para outros parceiros, de forma que não seja necessário desenvolver um serviço novo em minha plataforma, mas conseguir, de maneira segura, trazer colaboradores para complementar meu portfólio de serviços.”

Barth vê o open banking como um divisor de águas e compara o momento atual de mudanças à criação do Plano Real, em 1994. Para ela, haverá um mercado antes e outro depois que as mudanças forem estabelecidas.

Chusid concorda que o open banking é a “cereja do bolo” das mudanças em curso.

“O consumidor vai poder cadastrar sua história financeira com qualquer ‘player’ que quiser. Juntando os dois [Pix e Open Banking], as fintechs que souberem aproveitar a situação vão trazer mais funcionalidade, porque conseguem se adaptar mais rapidamente”, diz o fundador da Spin Pay.

A Partyou é um exemplo. Voltada para a gestão financeira de universitários, apostou não só em um nicho, mas também na verticalização ao ofertar soluções diversas. Os fundadores querem agora entrar no segmento de crédito universitário.

“Necessidades específicas podem ser atendidas pelas fintechs quando você dá todas as ferramentas que antes eram restritas aos grandes bancos”, diz Otávio Dutra, presidente da Partyou.

A possível ampliação de oferta de crédito é vista por Cristina Junqueira como a grande revolução do open banking.

“Qual é nossa grande dificuldade hoje? O cliente abre uma conta e nós não sabemos nada sobre ele. Temos que basear nossa análise de crédito numa visão mais limitada. Uma vez que a gente tenha acesso a seu histórico, podemos melhorar muito nossos modelos de análise de crédito”, diz a empresária.​

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