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Brasil apoia princípios dos EUA sobre segurança nas redes, em novo gesto contra a Huawei

Plano Clean Network pretende excluir gigante chinesa da infraestrutura de tecnologia 5G em diversos países

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Brasília e Washington

Em um novo gesto contra a participação da Huawei no futuro mercado de 5G, o governo Jair Bolsonaro declarou apoio aos princípios do Clean Network, iniciativa americana sobre segurança nas redes que tem como alvo limitar a presença chinesa no setor.

O anúncio ocorreu em Brasília durante visita do subsecretário de Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado americano, Keith Krach.

"O Brasil apoia os princípios contidos na proposta do Clean Network feita pelo EUA, inclusive na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), destinados a promover, no contexto do 5G e outras novas tecnologias, um ambiente seguro, transparente e compatível com os valores democráticos e liberdades fundamentais", disse Secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, embaixador Pedro Miguel Costa e Silva, em fala ao lado do diplomata americano.

Clean Network é o nome do plano americano para excluir a gigante chinesa da infraestrutura de tecnologia 5G em diversos países –o leilão no Brasil está previsto para o ano que vem.

Krach destacou que diversos países no globo endossam os princípios do Clean Network, mas que o Brasil é o primeiro latino-americano a formalmente endossar valores da aliança.

Segundo interlocutores do setor, os princípios do Clean Network são compromissos que os países prometem seguir na área de segurança de redes. Dessa forma, a adesão do Brasil não significa o banimento da Huawei, mas é uma sinalização relevante de que o governo pretende seguir esse caminho no futuro.

O Departamento de Estado não usa meias palavras para definir os objetivos da iniciativa. Em seu site, a diplomacia americana diz que o Clean Network é uma abordagem para proteger a privacidade de cidadãos e as informações sensíveis de empresas de "intrusões agressivas de atores malignos, como o Partido Comunista Chinês. ​

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, se antecipou e disse horas antes do anúncio que tinha recebido informações de auxiliares de que o Brasil apoia o plano de excluir a Huawei das estruturas de tecnologia 5G e, sem dar detalhes, acrescentou que espera assinar um memorando sobre o tema "em um futuro próximo", apesar de autoridades brasileiras não garantirem que uma decisão já tenha sido tomada.

Pompeo disse que recebeu as notícias por meio de Krach.

"Tive notícias dele nas últimas horas de que o governo brasileiro apoia os princípios do Clean Network e estou confiante de que vamos assinar um memorando de entendimento no futuro próximo. Quero agradecer o Brasil e seus líderes por fazerem isso", afirmou Pompeo.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça que não há decisão tomada sobre o assunto, mas admitiu que leva em consideração alertas de países como EUA e Reino Unido, que querem bloquear a China.

No fim do mês passado, o embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, disse que as decisões sobre o leilão da nova tecnologia no país só seriam tomadas no início do ano que vem.

A principal meta dos EUA é banir ou ao menos limitar a participação da empresa chinesa no leilão da frequência no Brasil sob argumento de que a Huawei repassa informações sigilosas para o governo chinês, o que ameaça a segurança de dados do Brasil e a cooperação com os EUA.

O governo Donald Trump prometeu oferecer crédito, por meio de agências oficiais, para as gigantes de telecomunicações do Brasil adquirirem componentes de concorrentes da Huawei.

Nos bastidores, porém, representantes do setor de telecomunicações do Brasil dizem que as empresas têm pouco interesse em comprar equipamentos com financiamento, porque a maior parte da rede atual, de 4G, é dotada de componentes Huawei —Ericsson e Nokia também já participam.

Para fazer a transição para o 5G, seria necessário trocar esse aparato, algo que custaria muito mais do que o próprio fundo americano tem disponível.

A declaração à imprensa no Itamaraty também serviu para o lançamento de uma aliança trilateral entre os governos de EUA, Brasil e Japão.

O chamado diálogo trilateral Japão-EUA-Brasil deverá defender valores comuns desses países na Ásia e na América Latina, mas tem como objetivo principal criar mais um fórum de contraposição à China.

Os Estados Unidos, no plano global, e o Japão, no regional, são atualmente os maiores antagonistas do governo chinês.

Segundo o embaixador, o diálogo debaterá temas regionais, prosperidade econômica e governança democrática.

Os dois países também anunciaram nesta terça um fórum de cooperação na área ambiental.
A viagem do diplomata americano ao Brasil ocorre em meio ao tumultuado processo pós-eleitoral dos EUA, em que o democrata Joe Biden foi projeto o vencedor do pleito mas o atual presidente, Donald Trump, se recusou a reconhecer o resultado. Sem provas, o atual mandatário disse ter havido fraude na disputa eleitoral.

O próprio Pompeo deu uma declaração polêmica nesta terça e disse que haverá uma "transição tranquila" para um segundo mandato de Trump.

O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, ainda não parabenizou Biden pela vitória, o que é interpretado como um sinal de que ele ainda mantém fidelidade ao atual mandatário americano.

Durante a declaração à imprensa, tanto o diplomata brasileiro quanto o americano não mencionaram nominalmente Trump ou Biden.

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