Caso Carrefour mostra a importância de levar o ESG a sério, dizem gestores

Companhias que não seguirem melhores práticas ambientais, sociais e de governança podem ter dificuldades

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São Paulo

O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos conhecido como Beto Freitas, em um uma loja do Carrefour em Porto Alegre (RS) mostra a importância de as empresas levarem o ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança) a sério, segundo os gestores Márcio Correia, sócio da JGP, e Florian Bartunek, sócio-fundador da Constellation.

Em evento do InfoMoney, portal de notícias do grupo XP, nesta terça-feira (24), eles participaram do painel “ESG: marketing x ação”, que também contou com Marta Pinheiro, diretora de ESG da XP.

“Obviamente o Carrefour tem uma parcela de culpabilidade, porque o evento ocorreu dentro da loja da empresa e não é o primeiro evento, já houve outros eventos ruins para a empresa, sobretudo para o Carrefour, que dá importância para o ESG. A matriz da França leva isso com muita seriedade, disse Correia.

"Mas não tem como não dizer que a empresa falhou, e isso mostra a importância das empresas levarem o ESG a sério”, afirmou.

De acordo com o gestor da JGP, para uma companhia implementar de fato o ESG, é preciso estabelecer um processo de governança em todos os níveis da empresa, começando pelo conselho, com comitês e processos internos —ele elogiou o programa de trainees exclusivo para negros da Magazine Luiza. Além disso, deve determinar o que é relevante para o negócio, identificando o que pode ser crítico.

“[O Carrefour] sabe o quão crítica é a operação de segurança nas lojas. A gente falou com o Carrefour e com outras varejistas, perguntando como é a operação de segurança das lojas. E é óbvio que ali houve uma falha. Quando você contrata uma empresa terceirizada para uma operação desse nível crítico, você tem que internalizar pelo menos uma parte do treinamento. Descobrimos que o Carrefour faz 10 mil BOs por ano de eventos que acontecem. Então, a empresa tem conhecimento”, afirmou Correia.

Beto Freitas morreu após ser espancado por dois seguranças terceirizados do Carrefour. O IGP-RS (Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul) apontou, em análise inicial, que a vítima morreu por asfixia.

“Foi um ato de racismo, que está implícito na sociedade brasileira, isto está nas estatísticas. A probabilidade de um homem negro ter sido morto daquela forma é três vezes maior que um homem branco. Em certas regiões do país, como no Nordeste, chega a ser quase sete vezes maior”, disse Correia.

Bartunek, da Constellation, concordou com os pontos levantados pelo colega. “É uma irresponsabilidade do Carrefour, não tem dúvida nenhuma, mas é uma falha de controle da empresa contratada", disse.

"É uma tragédia, mas espero que pelo menos tenha o efeito de alertar as companhias que elas não são só responsáveis sobre o que os seus funcionários fazem, são responsáveis também pelo que os terceirizados fazem e pelo que as outras empresas que elas contratam também”.

Segundo Bartunek, o ESG seria como o freio ABS, que era tido no passado como um grande diferencial dos carros, mas, hoje, se tornou algo presente em quase todos os veículos por sua importância.

“Estamos amadurecendo essa visão [ESG] e reação no mercado. É uma jornada, e empresas estão percorrendo esse caminho”, disse Marta, da XP.

“Empresas que não acreditam no ESG podem ter mais dificuldades e serem um mau investimento. Com redes sociais, se uma empresa pisa na bola, as pessoas ficam sabendo. Olha o Carrefour, imagina o custo de marketing negativo que isso teve para a empresa”, disse Bartunek.

Segundo Correia, da JGP, porém, a avaliação ESG depende muito da confiança do acionista na empresa. "Não temos como auditar, mas acho que cada vez mais vai ter mais informação disponível e vai ficar mais fácil.”

“Dá um trabalho [avaliar ESG], mas é um processo de aprendizado que o mercado local está passando. A Petrobras tinha problemas de corrupção, ela resolveu? Como ela mudou os processos? E isso é público. Como a Vale está atuando para lidar com o rompimento da barragem? É público”, completa o gestor.

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