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China ataca ação dos EUA contra 5G da Huawei apoiada pelo Brasil

Para embaixada, Rede Limpa é discriminatória, e quem tem histórico de espionagem são os EUA

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São Paulo

A Embaixada da China no Brasil criticou duramente a Rede Limpa, iniciativa dos Estados Unidos para coibir a expansão da empresa Huawei no mercado de 5G à qual o governo Jair Bolsonaro aderiu aos princípios nesta semana.

O americano Keith Krach fala contra a Huawei durante encontro em Brasília, na quinta (11) - Adriano Machado - 11.nov.2020/Reuters

"A chamada rede limpa pregada pelos EUA é discriminatória, excludente e política. É de fato uma rede suja e sinônimo de abuso do pretexto da segurança nacional por parte dos EUA para promover guerra fria tecnológica e bullying digital", disse a representação, em nota.

Os chineses criticaram a fala do subsecretário de Crescimento Econômico norte-americano, Keith Krach, que esteve na quinta (11) em Brasília para celebrar a adesão brasileira e afirmou que a pressão dos EUA sobre a China no 5G continuará no governo do democrata Joe Biden.

A disputa é uma das poucas vitórias indiscutíveis do republicano Donald Trump em sua Guerra Fria 2.0 contra Pequim. Os EUA, alegando que equipamentos chineses nas redes da chamada internet das coisas são um convite à espionagem de dados sensíveis, conseguiram demover países como o Reino Unido de adotar infraestrutura da Huawei.

O Brasil deve fazer o leilão das frequências do 5G, considerado um dos maiores do mundo e que pode movimentar R$ 20 bilhões, no ano que vem.

A Huawei e suas concorrentes ocidentais, como as escandinavas Ericsson e Nokia, não disputam diretamente o leilão, mas fornecem os equipamentos para as operadoras.

O alinhamento automático governo Bolsonaro à gestão Trump é um dos obstáculos contra a Huawei, embora atores como o vice-presidente Hamilton Mourão já tenham admitido as vantagens das redes chinesas —hoje, mais avançadas e baratas.

Até aqui, o Brasil vem se dobrando à pressão americana, feita por meio de visitas frequentes de delegações a Brasília e ameaças mais explícitas, como no episódio em que o embaixador no país, Todd Chapman, afirmou que haveria "consequências" para o país se optasse pelo material chinês.

"Krach fez acusações mal-intencionadas sobre a segurança da tecnologia 5G da China e espalhou mentiras políticas. São alegações que desrespeitam os fatos básicos. O seu objetivo real é caluniar a China e tentar implantar distúrbios na parceria sino-brasileira. Manifestamos veemente objeção a tal comportamento", disse a embaixada.

O americano havia repetido o mantra de seu governo, de que a Huawei tem fortes ligações com o Partido Comunista Chinês e que seus sistemas têm "backdoors", mecanismos que permitem o roubo de informações.

A empresa, líder mundial em tecnologia móvel e hoje uma das principais fornecedoras da estrutura do 4G no Brasil, nega a acusação e diz estar disposta a assinar qualquer acordo de salvaguardas no campo.

Os chineses lembraram também que o país que conduziu espionagem em escala global contra aliados foi os EUA. Em 2011, foi descoberto que Agência Nacional de Segurança americana havia espionado líderes, inclusive a então presidente brasileira Dilma Rousseff (PT).

"Os EUA conduziram, em grande escala e de forma organizada e indiscriminada, atividades de vigilância e espionagem cibernéticas contra governos, empresas e indivíduos estrangeiros, além de líderes de organismos internacionais. Ações que constituem graves violações da privacidade e da segurança de terceiros e representam uma verdadeira ameaça à segurança dos dados das redes globais", afirma a nota.

A embaixada buscou não criticar diretamente o Brasil pela adesão ao Rede Limpa porque, afinal, ainda espera um desfecho favorável à Huawei na disputa.

"A China e o Brasil são parceiros estratégicos globais. Acreditamos que a maioria dos países, incluindo o Brasil, vai tomar decisões objetivas de forma independente e autônoma", diz o texto, que espera "regras de mercado e ambiente de negócios com parâmetros abertos, imparciais e não discriminatórios".

O 5G é um dos itens mais vistosos da disputa sino-americana. Ela abarca competição comercial e tarifária, questões políticas como a autonomia de Hong Kong, a soberania sobre o mar do sul da China, poderio militar e o manejo da pandemia do novo coronavírus.

No último ponto, o Brasil também está no meio da briga por meio da resistência de Bolsonaro à vacina chinesa Coronavac, promovida pelo governo paulista. Aqui, contudo, a questão é mais comezinha: o presidente teme o sucesso do imunizante, que poderia aumentar o cacife político de seu adversário João Doria, o governador tucano do estado.

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