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Pandemia derruba investimentos estrangeiros no Brasil em mais da metade

As aplicações em ações e títulos de renda fixa, no entanto, mostram recuperação

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Brasília

A pandemia do novo coronavírus fez com que os investimentos diretos de estrangeiros no Brasil despencassem. Entre abril e outubro, os aportes somaram US$ 19,9 bilhões, 55,3% abaixo do observado no mesmo período do ano passado, com US$ 44,5 bilhões.

Os dados foram divulgados pelo BC (Banco Central) nesta quarta-feira (25).

Em contrapartida, o volume aplicado em ações e títulos públicos brasileiros mostra retorno de investidores estrangeiros ao país. Em outubro, houve o maior ingresso líquido desde janeiro de 2019, com US$ 5,5 bilhões.

"Essa conta é mais sensível às mudanças de cenário econômico e por isso mostra reação mais rápida em relação aos investimentos diretos. O mercado começou a ver problemas com o coronavírus cedo e de fevereiro a maio vimos saídas líquidas, com recuperação nos meses seguintes", explicou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.

Os investimentos diretos, diferentemente das aplicações em ações e títulos públicos, são feitos por empresas que estabelecem um relacionamento de médio e longo prazo com o país. Em outubro, foram US$ 1,8 bilhão, volume 14% menor ao registrado em setembro, quando foram aportados no país US$ 2 bilhões.

"Esses investimentos ainda refletem muita incerteza com relação ao desenvolvimento da pandemia, se haverá vacina ou não. Parecem ser decisões de adiamento e não de cancelamento por parte do investidor", destacou Rocha.

Após leve recuperação entre maio e julho, o nível voltou a cair e em agosto registrou o menor valor desde a chegada do vírus ao país, com US$ 1,5 bilhão.

Como os investimentos diretos refletem decisões de longo prazo, o fluxo de março não sofreu impactos da pandemia e ficou em US$ 7,3 bilhões.

Entre janeiro e outubro, os investimentos desse tipo somaram US$ 31,9 bilhões, montante 45% inferior ao mesmo período do ano passado (US$ 57,6 bi). Na comparação com outubro de 2019, quando o país registrou US$ 8,2 bilhões, a queda foi de 78%. Já nos últimos 12 meses, os investimentos foram de US$ 43,5 bilhões, o equivalente a 2,94% do PIB (Produto Interno Bruto).

Com baixo fluxo de comércio exterior, as contas externas brasileiras fecharam outubro com resultado positivo em US$ 1,5 bilhão, puxado pela balança comercial, que registrou superavit (mais exportações que importações) de US$ 4,8 bilhões.

Gabriel Cabral/Folhapress

A balança comercial tradicionalmente apresenta superavit em momentos de baixa atividade econômica, já que o país importa mais nas épocas de expansão.

Na prática, todo o nível de comércio exterior diminuiu com a crise. Tanto as exportações quanto as importações caíram, mas a redução no fluxo de entrada de produtos estrangeiros no país foi mais acentuada.

As exportações foram de US$ 18 bilhões em outubro, recuo de 8,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Já as importações diminuíram 26,3%, para US$ 13,1 bilhões.

As viagens internacionais permanecem em baixa em decorrência da pandemia e da alta do dólar. No mês, os turistas brasileiros gastaram R$ 283,7 milhões no exterior, valor um pouco abaixo do registrado em setembro e 81% inferior a outubro de 2019.

Os estrangeiros desembolsaram R$ 181 milhões no Brasil em outubro, queda de 60% em relação ao mesmo período do ano passado.

“O setor permanece muito afetado pelas medidas de restrição e pela desvalorização do Real. No resultado líquido [a diferença entre o que os brasileiros gastaram lá fora e o que os estrangeiros gastaram aqui], a redução fica em torno de 90% todos os meses, na comparação interanual”, ressaltou Rocha.

O BC revisou os dados do setor externo, para incluir dados dos censos de capitais estrangeiros no país e de brasileiros no exterior e valores e de outros registros. Com o ajuste, alguns valores registrados em 2019 e 2020 sofreram alterações.

"Nas transações correntes, a revisão mais significativa foi das estimativas de despesas de lucros de investimento direto, que aumentaram de US$ 10,8 bilhões para US$ 12,9 bilhões, em referência ao período de janeiro a setembro de 2020", explicou a autoridade monetária em nota.

A revisão dos investimentos diretos no país para os nove primeiros meses de 2020 aumentou o ingresso líquido em US$ 1,6 bilhão, que passou de US$ 28,6 bilhões para US$ 30,1 bilhões.

Assim, em setembro, o BC tinha divulgado que os investimentos diretos ficaram em US$ 1,6 bilhão. Com o ajuste, o valor foi para US$ 2 bilhões.

O BC faz revisões periódicas das contas externas nos meses de julho e novembro.

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