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Carlos Roxo

Luta contra o racismo é dever de empresa moderna

É através do compartilhamento de valores que as empresas forjam as alianças mais sólidas com a sociedade

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Carlos Roxo

Especialista em estratégias de sustentabilidade empresarial da Maker Sustentabilidade

O papel das empresas no início do Século 21 difere radicalmente das do Século 20, e resulta das mudanças da sociedade e do ambiente de negócios.

As mudanças nos últimos 120 anos foram grandes em todas as dimensões, mas relativamente lentas, dando a sensação de que davam tempo à adaptação. No entanto, seus efeitos foram profundos, e não pararam. A transição da era industrial para a digital será muito mais rápida do que a da era mercantilista para a industrial.

Em pouco mais de um século, tivemos enormes transformações de valores, tecnologias, organização social e formas de produção, que resultaram em novos modelos de negócio e criaram incertezas agudas sobre as empresas que existirão amanhã ou sobre o seu valor. ​

O aumento exponencial da população, volumes de produção e uso das antigas fontes de energia criaram ainda um novo desafio, o aquecimento global, que transformou-se em uma ameaça disruptiva à sociedade de grande magnitude, embora a percepção dos seus efeitos seja ainda reduzida pela sociedade face à velocidade pequena embora permanente em que ocorrem.

Até agora, talvez fosse possível avançar em direção ao futuro com base apenas em cenários econômicos bem definidos. Mas os cenários futuros serão muito mais complexos, com transformações em várias dimensões.

Estes fatos fizeram com que a sustentabilidade se tornasse uma nova dimensão dos negócios, a ser tratada dentro de uma visão sistêmica levando em conta todos os elementos onde possa estar inserida. Esta visão, sintetizada no acrônimo ESG (Environmental, Social and Governance matters), demanda que as empresas tenham uma estratégia de crescimento de longo prazo considerando não só o cenário atual, mas cenários futuros que contemplem todas as mudanças de forma integrada, buscando a máxima geração de valor tangível e intangível.

Esta demanda já vinha sendo expressa por vários stakeholders, e agora ganhou a adesão dos investidores, sendo vocalizada em fevereiro deste ano por Larry Fink, da BlackRock (maior fundo de investimentos do mundo), que destacou a importância para seus clientes de que as empresas tenham como meta a geração de valor sustentável de longo prazo, atrelando-a a uma contribuição positiva para a sociedade; e afirmando que suas decisões de investimento levarão em conta a capacidade de as empresas alcançarem estes resultados através de um enfoque ESG.

A manifestação dos investidores não foi uma surpresa em vista da mudança de perfil dos seus clientes, que dado o aumento da longevidade dependem cada vez mais da geração de valor sustentável de longo prazo, que garanta as suas aposentadorias através de investimentos que tenham a máxima resiliência a fatores nem ainda de todo conhecidos.

Marcha da Consciência Negra em protesto contra o racismo no Brasil. - 20.11.20 - Danilo Verpa/Folhapress

O enfoque ESG tem como eixos as crescentes demandas por produtos sustentáveis, a sustentabilidade dos processos da cadeia de produção e o alinhamento das empresas aos valores éticos da cidadania.

A maior atenção é em geral dada aos dois primeiros fatores, deixando em plano secundário a forma como as empresas se alinham aos valores éticos da cidadania. Talvez seja um erro, pois é através do compartilhamento de valores que as empresas forjam as alianças mais sólidas com a sociedade, e é neste ponto que algumas das rupturas mais ruidosas têm ocorrido.

Todas as empresas modernas listam seus valores, mas existem duas alternativas extremas de endereçá-los: seguindo-os passivamente, como um mantra do que se espera da sua administração ou empregados, e punindo quem não os seguir; ou promovendo-os pró-ativamente, engajando-se em atitudes ou movimentos transformacionais que os reforcem, como por exemplo, a luta contra o racismo ou a promoção da diversidade.

A natureza das empresas é transformacional, convertendo matérias primas ou ideias em produtos e serviços. Se aplicada com energia aos valores, essa natureza transformacional pode dinamizar múltiplas formas de promovê-los, reforçando sua inserção na sociedade e sua capacidade de gerar valores –de várias naturezas– sustentáveis no longo prazo.

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