Descrição de chapéu mercado de trabalho

Tecnologia vai retardar recuperação do emprego, diz presidente do Banco Central

Segundo Campos Neto, a geração de empregos não acompanhou evolução tecnológica

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou, nesta segunda-feira (9), que o mercado de trabalho não terá recuperação tão rápida quanto a atividade econômica após a pandemia do novo coronavírus.

O titular da autoridade monetária disse, em evento virtual promovido pela revista The Economist, que a aceleração tecnológica durante a crise foi tão rápida que impactou a alocação de mão de obra, especialmente de trabalhadores informais.

“O consumo está se recuperando e o PIB [Produto Interno Bruto] também, mas o mercado de trabalho não. Isso porque a tecnologia avançou tão rapidamente que não deu tempo de alocar os trabalhadores em algum lugar", destacou.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central - Pedro Ladeira/Folhapress

"A pandemia trouxe mudanças no padrão de consumo. Alguns vão voltar ao que eram antes, outros não”, ponderou.

"Acredito que a tecnologia acelerou a um ponto que vamos ter um novo equilíbrio", disse o presidente do BC.

O desemprego bateu novo recorde e chegou a 14,4% no trimestre encerrado em agosto, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com o IAEmp (Indicador Antecedente de Emprego) divulgado nesta segunda pela FGV (Fundação Getulio Vargas), em outubro o mercado de trabalho mostrou recuperação, porém com menor intensidade.

O índice, que antecipa os rumos do mercado de trabalho no país, subiu 2,9 pontos e foi a 84,9 pontos no período, sexto mês seguido de alta, mas indica desaceleração da recuperação desde julho.

Segundo a FGV, o resultado de outubro confirma o cenário de recuperação do mercado de trabalho, entretanto, a melhora tem sido mais tímida com o passar dos meses e o nível atual ainda se encontra abaixo do período pré-pandemia.

Campos Neto ressaltou que não há espaço fiscal para mais programas do governo de combate aos efeitos da pandemia em economias emergentes, principalmente no Brasil.

“O governo tem que fazer mais programas, o que significa mais gastos, e nos leva à questão: temos espaço fiscal para isso? Provavelmente a resposta, pelo menos nos emergentes, especialmente no Brasil, é não", declarou.

"Muitos países pensam em programas de renda básica ou coisas do tipo", frisou.

Segundo Campos Neto, a sociedade tem demandado uma recuperação sustentável e inclusiva.

Em seu ponto de vista, o crescimento econômico dos próximos anos terá de ser fomentado com dinheiro privado.

"Estamos perdendo dinheiro em portfólio porque as taxas [de juros] estão cada vez menores, mas estamos ganhando em investimento no setor real", comparou.

"Em 2019, estávamos caminhando para usar mais capital privado, com reformas que reduzem o tamanho do estado. Cortamos a Selic ao menor nível da história, 4,5% [ao ano] para 2%", lembrou.

Sobre inflação, o presidente do BC reforçou que o país vive momento de aceleração nos preços de alimentos e avaliou que também há efeito de alta das commodities e do câmbio. ​

“O que chamamos de poupança precaucional vai para consumo de comida em casa. Como as pessoas ficaram mais em casa, elas não vão ao cinema, não viajam transferiram isso para o consumo de alimentos”, pontuou.

No início da crise, os Estados Unidos abriram uma linha de swap (troca) de moedas com alguns países, entre eles o Brasil, de R$ 60 bilhões.

O objetivo era prover liquidez em moeda norte-americana em meio à pandemia. O Brasil, entretanto, não chegou a usar o socorro.

No evento, Campos Neto elogiou a atuação do Fed (Federal Reserve), o banco central americano, durante a crise e afirmou que não pretende usar a linha.

"Temos US$ 350 bilhões em reservas internacionais. Com a valorização do dólar, o percentual de reservas com relação ao PIB [em reais] cresceu e por isso não precisamos usar, mas é bom ter essa parceria com o Tesouro dos Estados Unidos e esse diálogo", justificou.

Com Reuters

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