Mudança na participação do Itaú poderia diminuir conflito de interesses, diz XP

Se o banco não pode ser controlador, não deveria ter golden shares, afirma diretor financeiro da corretora

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O diretor financeiro da XP Investimentos, Bruno Constantino, afirmou que a mudança na participação do Itaú poderia servir para diminuir conflito de interesses na gestão da corretora.

“O que poderia mudar e eu, honestamente, não sei dizer se mudará, é a melhora da governança corporativa da XP. Hoje, do jeito que está, é uma estrutura conflituosa, porque ele tem um direito de acionista controlador sem ser controlador”, afirmou nesta segunda-feira (9), em entrevista com jornalistas para divulgar os resultados da companhia.

Na semana passada, o Itaú informou que está em estágio avançado de análise e discussão de estudos para separar seu investimento na XP do conglomerado do banco em uma nova sociedade. Além disso, também informou que prevê a possibilidade de venda de 5% de sua participação na corretora.

O fundador da XP, Guilherme Benchimol, posa atrás da bancada da Nasdaq segurando uma bandeira do Brasil no alto. Atrás, o logo da XP Inc. aparece escrito em um fundo azul escuro
Guilherme Benchimol, um dos fundadores da XP Investimentos, na estreia da XP na Nasdaq, Bolsa de tecnologia de Nova York - Matheus Detoni - 11.dez.2019/Divulgação

Segundo Constantino, apesar de o acordo inicial feito pelo grande banco privado para a compra da corretora ter sido mudado pelo Banco Central em 2018, o modelo de governança proposto pelo Itaú continuou o mesmo.

“Quando olhamos para o Itaú hoje, como maior investidor que temos, com uma posição financeira única, a governança não deveria ter os conflitos de interesses que têm hoje. Quando fomos para o IPO [abertura de capital], o Itaú saiu com golden shares [ações com direito a voto e a veto em questões estratégicas da companhia], que historicamente são para controladores. Se o Itaú não pode ser controlador, ele não deveria ter essas ações”, afirmou o diretor da XP.

Pelo acordo firmado entre as duas empresas em 2017, o banco levaria imediatamente 49,9% do capital social da XP e 30% do capital votante. Em 2022, assumiria 74,9% da empresa e 49,9% das ações com direito a voto (ON). Em 2024, a XP poderia vender o controle ao Itaú.

O Banco Central, no entanto, negou a possibilidade de que o banco assuma o controle da empresa. Em 2022, em operação que demandará nova análise pelo BC, o Itaú poderá comprar mais 12,5% do capital total da XP, elevando sua participação para 62,4%. No entanto, seu poder sobre as ações com direito a voto não poderá superar 40%.

Segundo Constantino, pela estrutura atual, o banco também tem outros direitos, como o acesso a informações privilegiadas e a discussão de ações estratégicas da companhia, além do poder de veto nas decisões.

“Se o anúncio do Itaú for realmente na direção de ser apenas uma participação financeira, isso também poderia significar um ajuste na governança corporativa da XP. Seria benéfico para todos. Mas não sei se vai acontecer ou não. Depende do Itaú e do Banco Central”, afirmou o executivo.

Nesta segunda-feira (9) a XP reportou um lucro líquido ajustado de R$ 570 milhões no terceiro trimestre deste ano, mais do que o dobro (119%) do que o visto em igual período de 2019. O resultado reflete principalmente o crescimento da receita com o varejo.

Na comparação trimestral, o lucro líquido permaneceu praticamente estável, com avanço de 1%.

Segundo a XP informou em relatório, o impulso veio principalmente pelo crescimento no segmento de varejo, cujas receitas subiram 80% no terceiro trimestre em relação aos mesmos três meses de 2019, para R$ 1,7 bilhão.

Entre os principais destaques estiveram o maior volume de negociação de ações e futuros e o aumento da participação de investidores de varejo da Bolsa de Valores brasileira.

Segundo Constantino, outra linha que tende a ganhar força nos próximos meses é o crédito colateralizado (com garantia de investimentos). A carteira da companhia com a modalidade se aproxima dos R$ 1,5 bilhão.

“A vantagem do produto é que não tem nenhuma inadimplência. É um produto interessante que permite que sejamos competitivos, principalmente em um cenário que é muito convidativo para a migração fora da renda fixa, para produtos com retornos mais elevados”, afirmou o executivo.

O ambiente de juros baixos no país, com Selic a 2% ao ano, tem levado investidores a migrar recursos para investimentos de renda variável.

“Também existem outros processos, como pagamentos, cartão de crédito, câmbio e conta digital que estão no nosso horizonte. Temos aumentado nosso volume de fluxo no mercado de seguros, no qual iniciamos nossa operação no ano passado com o XP Vida e Previdência. Mas nossa custódia ainda é mínima perto dos maiores players [participantes do mercado]. Ainda tem muito por vir”, afirmou Constantino.

“O potencial para crescimento é enorme, mas será mais visível num período de cinco anos, mais ou menos”, disse.

Segundo a companhia afirmou em relatório, outros produtos financeiros, como COEs (certificados de operações estruturadas) e derivativos ligados ao mercado acionário, além de operações de renda fixa também contribuíram para o resultado do terceiro trimestre.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.