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SoftBank investe em fundos do Credit Suisse que financiam suas apostas tecnológicas

Mais de R$ 500 milhões foram aportados em fundos do banco suíço

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Londres | Financial Times

O SoftBank injetou discretamente mais de US$ 500 milhões em fundos de investimento do banco Credit Suisse, que por sua vez realizaram grandes apostas em títulos de dívida de empresas startup problemáticas bancadas pelo Vision Fund, do conglomerado de tecnologia japonês.

O SoftBank fez o investimento no grupo de fundos do banco suíço que investe em financiamento de cadeias de suprimento, e movimenta US$ 7,5 bilhões, disseram três pessoas informadas sobre o assunto.

O Credit Suisse divulga esses fundos entre os investidores profissionais, por exemplo os chefes de tesouraria de grandes empresas, como um lugar seguro onde estacionar seu dinheiro em títulos de dívida de curto prazo emitidos por empresas aparentemente diversificadas.

SoftBank investe em fundos do Credit Suisse que financiam suas apostas tecnológicas - Reuters

Documentos de marketing encaminhados a investidores demonstram que esses fundos elevaram sua exposição a diversas das startups em que o Vision Fund do conglomerado japonês investiu parte de seus US$ 100 bilhões em capital nos últimos 12 meses. O investimento coincidiu com um período desastroso no qual essas apostas em tecnologia perderam US$ 18 bilhões em valor.

No centro desse fluxo circular de financiamento está a Greensill Capital, uma companhia que conta com investimento do Vision Fund e se define como uma empresa que “está tornando as finanças mais justas”.

A empresa sediada em Londres, que emprega o ex-primeiro ministro britânico David Cameron como consultor, seleciona todos os ativos que integram os fundos do Credit Suisse, nos termos de um acordo assinado em 2017.

O arranjo permitiu que o SoftBank para todos os efeitos oferecesse assistência financeira a outras companhias nas quais o Vision Fund investiu, ao realizar pagamentos adiantados aos seus fornecedores, mas por meio de um fundo que combina seus investimentos aos de outros investidores, e financia outras companhias.

Isso significa que os investidores externos passam a compartilhar do risco de que essas empresas não sejam capazes de pagar suas dívidas, o que uma das pessoas familiarizadas com o arranjo disse que poderia ser problemático caso eles não estejam cientes dos interesses substanciais do SoftBank.

“Você imaginava ser parte de um arranjo distanciado no qual o interesse de seus colegas investidores é puramente financeiro”, ele disse. “Mas imagine descobrir, então, que alguns de seus colegas investidores estão financiando a eles mesmos”.

SoftBank, Credit Suisse e Greensill Capital se recusaram a comentar.

Documentos de marketing do principal fundo de financiamento de cadeia de suprimentos do Credit Suisse mostram que, no final de março, quatro de suas 10 maiores exposições eram a companhias do Vision Fund, que respondiam por 15% de seus US$ 5,2 bilhões em ativos. Isso inclui empresas que sofreram pesadamente na crise do coronavírus, como a cadeia de hotelaria indiana Oyo e a startup Fair, que criou um sistema de carros compartilhados por assinatura e está enfrentando dificuldades.

Um documento separado demonstra que a Fair, sediada em Santa Monica, também tinha a segunda maior exposição no fundo de financiamento de cadeia de suprimentos “de alta renda” do Credit Suisse, no final do ano passado.

Em outubro, o fundador e presidente-executivo da companhia renunciou, pouco depois de anunciar planos de cortar 40% de sua força de trabalho. A contabilidade auditada de ambos os fundos demonstra que eles não tinham exposição à Fair no final daquele mês, o que indica que só começaram a financiar a empresa depois que suas dificuldades vieram à tona.

Clientes sacaram mais de US$ 1,5 bilhão desses fundos de financiamento de cadeia de suprimento este ano, depois que diversos clientes da Greensill Capital deram calotes em suas dívidas e enfrentaram colapsos empresariais, e escândalos contábeis, que ganharam destaque na mídia, como aconteceu com a NMC Health, uma companhia que chegou a fazer parte do índice de ações britânico FTSE 100. O Credit Suisse informou a investidores que um grupo de seguradoras e a Greensill mesma estão cobrindo os prejuízos dos fundos.

O financista australiano Lex Greensill fundou a companhia em 2011, e cimentou seu status como bilionário, pelo menos no papel, em 2019, quando o Vision Fund, do SoftBank, investiu US$ 5,1 bilhões na empresa que leva seu nome.

A Greensill Capital se especializa em financiamento de cadeias de suprimento, ajudando empresas a obter empréstimos para pagar seus fornecedores. Esta semana, o British Business Bank, o banco estatal de desenvolvimento britânico, aprovou a Greensill como provedora do chamado “financiamento de faturas” por meio do Coronavirus Large Business Interruption Loan, um programa de apoio a empresas que estão em crise por conta do coronavírus.

“Garantir que capital chegue à economia real, onde ele é mais necessário, é parte integral da recuperação econômica mais ampla do Reino Unido”, disse Greensill sobre a decisão.

Tradução de Paulo Migliacci

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