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União Europeia propõe nova aliança aos EUA contra desafio da China

Bruxelas prepara plano para reconstruir elos, com frentes comuns quanto à tecnologia, Covid-19 e interesses democráticos

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Sam Fleming Jim Brunsden Michael Peel
Bruxelas | Financial Times

A União Europeia apelará aos Estados Unidos para que aproveitem uma “oportunidade que surge apenas uma vez por geração” para estabelecer uma nova aliança, em uma proposta detalhada cujo objetivo é eliminar as tensões da era Trump e enfrentar o “desafio estratégico” que a China oferece.

Um anteprojeto da União Europeia para revitalizar a parceria transatlântica, visto pelo jornal Financial Times, propõe uma nova cooperação sobre todos os assuntos, da regulamentação digital ao combate à pandemia da Covid-19 e ao desflorestamento.

O estudo, preparado pela Comissão Europeia, afirma que a parceria entre a União Europeia e os Estados Unidos precisa de “manutenção e renovação”, se o mundo democrático deseja afirmar seus interesses contra “as potências autoritárias” e “economias fechadas [que] exploram a abertura de que nossas sociedades dependem”.

Presidente da China, Xi Jinping; União Europeia fará proposta de nova aliança aos Estados Unidos
Presidente da China, Xi Jinping; União Europeia fará proposta de nova aliança aos Estados Unidos - Ding Lin/Xinhua

O anteprojeto contendo 11 páginas de propostas políticas, intitulado “uma nova agenda União Europeia-Estados Unidos para a mudança mundial”, inclui um apelo para que a União Europeia e os Estados Unidos cheguem a um acordo sobre fontes constantes de tensão transatlântica, como a pressão europeia por uma tributação mais rigorosa dos gigantes da tecnologia americanos.

O plano propõe que União Europeia e Estados Unidos unam forças a fim de dar forma ao ambiente regulatório, o que incluiria adotar abordagens comuns quanto à aplicação de leis antitruste e de proteção de dados, cooperação para avaliar investimentos estrangeiros delicados, e trabalho colaborativo para enfrentar ameaças como hackers e criminosos cibernéticos.

Outras partes do estudo apelam por cooperação para o desenvolvimento e disseminação de vacinas para a Covid-19 e trabalho conjunto para reformar a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O anteprojeto reflete o otimismo e o grande alívio de Bruxelas quanto à perspectiva de trabalhar com a nova administração americana, mas também preocupação com o fato de que os anos de dificuldade no relacionamento transatlântico possam ter conferido a iniciativa geopolítica a Pequim. O documento apoia a ideia do presidente eleito Joe Biden de realizar uma conferência de cúpula das democracias, e afirma que a nova agenda transatlântica deveria ser “o eixo central de uma nova aliança mundial entre parceiros de mentalidade semelhante”.

O estudo, produzido conjuntamente pela Comissão Europeia e pelo alto representante da União Europeia para assuntos internacionais, deve ser submetido à aprovação dos líderes nacionais da União em uma reunião que acontecerá nos dias 10 e 11 de dezembro. O documento sugere uma conferência de cúpula entre a União Europeia e os Estados Unidos no primeiro semestre de 2021 como momento para o lançamento da nova agenda transatlântica.

Uma das frustrações mais agudas de Bruxelas durante os anos Trump era a relutância do governo americano em coordenar as respostas das duas potências à China; a Casa Branca optou por adotar medidas unilaterais de comércio não só contra a China mas também contra a União Europeia.

O estudo afirma que “como sociedades democráticas abertas e economias de mercado, a União Europeia e os Estados Unidos concordam em que a crescente assertividade internacional da China representa um desafio estratégico, mesmo que nem sempre concordemos quanto à melhor maneira de enfrentá-lo”.

Encontrar uma linha de atuação mais coincidente dependerá significativamente da capacidade das duas economias para superar as divisões que existem entre elas com relação à política tecnológica – um dos principais focos do documento. Bruxelas vê potencial para trabalho conjunto sobre questões que variam do investimento chinês em empresas inovadoras da União Europeia e dos Estados Unidos à potencial ameaça que a vantagem da China na tecnologia 5G pode representar.

“Usando nossa influência combinada, um espaço tecnológico transatlântico deve formar a espinha dorsal de uma coalizão mais ampla de democracias de mentalidade semelhante”, o documento afirma.

Algumas das propostas do anteprojeto requereriam uma mudança clara nas políticas dos Estados Unidos. Bruxelas, por exemplo, deseja um esforço conjunto para restaurar o sistema de solução de disputas da Organização Mundial do Comércio (OMC), algo que requereria que Washington deixe de bloquear indicações para o painel de julgamento.

O estudo também destaca os potenciais obstáculos a uma cooperação mais estreita entre a União Europeia e os Estados Unidos criados pelos desacordos que existem tanto entre as potências transatlânticas quanto dentro do bloco comercial europeu. As grandes empresas de tecnologia continuam a ser um foco de potencial discórdia no relacionamento entre a União Europeia e os Estados Unidos, e um fator complicador para a formação de posições conjuntas contra Pequim.

A visão de Bruxelas sobre os direitos de proteção de dados, competição ampliada no setor e reforma tributária exigirão ação contra as grandes empresas americanas que dominam a tecnologia.

A afirmação, no documento, de que União Europeia e Estados Unidos “nem sempre concordam” quanto à forma de tratar a China é um reconhecimento de que a estratégia oficial da União Europeia sobre como lidar com Pequim, envolvendo uma tripla combinação de cooperação, competição e rivalidade, é menos dura do que a política adotada por Washington com apoio bipartidário.

Embora as instituições e os países membros da União Europeia tenham se tornado em geral mais céticos com relação à China, especialmente à medida que a diplomacia do “lobo guerreiro” adotada por Pequim se tornou mais agressiva durante a pandemia, continua a existir relutância quanto a um conflito generalizado.

Alguns países membros da União Europeia, como a Hungria, têm laços individuais fortes com Pequim, enquanto o grupo de cooperação “17+1”, estabelecido pela China com países da Europa central e oriental, inclui 12 Estados membros da União Europeia.

Tradução de Paulo Migliacci

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