Descrição de chapéu inflação Natal

Lojistas e clientes esperam Natal magro na pandemia

Mais da metade dos lojistas ouvidos pelo Sindilojas-SP projeta desempenho inferior a 2019

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Brasília e São Paulo

Lojistas e clientes chegam comedidos às festas de fim de ano. Até houve aumento no movimento em ruas comerciais e shoppings, com casos pontuais de aglomeração e risco de contágio em alguns locais mais populares. Porém, nada do que se vê pode ser comparado ao antigo normal para esta época.

A FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), por exemplo, projeta para o varejo estadual uma alta de 1% no faturamento de dezembro —o pior resultado para o mês desde 2015, quando houve queda de 4,3%.

Segundo Altamiro Carvalho, assessor econômico da entidade, houve uma diluição, ao longo do ano, de pagamentos de benefícios que poderiam impulsionar as vendas.

O 13º benefício de aposentados do INSS, por exemplo, foi liberado entre abril e junho. Trabalhadores de empresas que aderiram à medida provisória da suspensão do contrato de trabalho tiveram redução
no valor do abono natalino.

Corredor vazio do Shopping D, na zona norte de São Paulo, na noite de sexta (18) - Gabriel Cabral/Folhapress

No caso de informais e desempregados, o auxílio emergencial, que garantiu a retomada do comércio no meio do ano, quando a parcela era de R$ 600, chega às festas com metade do valor e não será prorrogado.

“Em termos de projeção, este é o pior ano da história”, afirmou Carvalho. “Foi um ano errático, e 2020 só não será pior do que 2014 e 2015 [quando houve impacto da recessão].”

Carvalho destaca que as projeções indicam alta nas vendas de alguns produtos normalmente ignorados no Natal e queda na procura de itens que costumam fazer sucesso.

“Este mês de dezembro e este Natal são totalmente atípicos”, disse. “Projeções apontam que material de construção terá crescimento de 43%, autopeças e acessórios para veículos, de 25%, enquanto as vendas nos supermercados tendem a ter crescimento de 15% apenas em dezembro.”

Enquanto isso, explica, vestuário e calçados não reagem e tendem a fechar o ano com retração de 37%.

Para Cardoso, o distanciamento social e as reuniões com um número menor de familiares devem ajudar lojas de móveis e decoração. Segundo ele, a tendência de cuidar mais do lar, que ganhou força na pandemia, tende a ser uma inspiração na hora da escolha de presentes.

Lojistas, que estão na linha de frente do balcão, vislumbram dificuldades. Pesquisa do Sindilojas-SP (sindicato de lojistas da cidade) mostra que, para 53% dos comerciantes, as vendas de Natal neste ano serão inferiores às do ano passado, enquanto 33% estimam que o faturamento permanecerá igual. Apenas 14% estão otimistas e projetam a retomada nas vendas.

Pessoas fazendo compras no último fim de semana antes do Natal na rua 25 de Março, em São Paulo (SP)
Pessoas fazendo compras no último fim de semana antes do Natal na rua 25 de Março, em São Paulo (SP) - Bruno Santos/ Folhapress

Nos shoppings, a preocupação é idêntica. De acordo com Luís Augusto Ildefonso, diretor de relações institucionais da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), lojistas de centros de compras dizem que já será bom se venderem 70% do que conseguiram no ano passado.

Existe até a expectativa de aumento no número de clientes perto do Natal, mas sem efeito expressivo no resultado.

“Em muitos lugares a pandemia voltou a avançar, e as pessoas estão contidas”, afirma. “Algumas até podem sair para fazer uma ou outra compra, mas não esperamos uma avalanche.”

Ildefonso afirma que o investimento em ecommerce, feito pela maioria dos lojistas durante a pandemia, está mais estruturado e poderá ser mais bem aproveitado no Natal. “A grande sacada para o Natal deste ano é o comércio eletrônico, e o lojista foi se preparando para esse momento ao longo de toda a pandemia”, disse.

Outro diferencial realizado pelos shoppings neste ano, segundo a Alshop, é o investimento em vendas do tipo clique e retire: o cliente compra pela internet e se dirige ao shopping apenas para buscar o produto. “Os shoppings neste ano estão mais aparelhados para drive-thru: a pessoa compra eletronicamente, passa na loja ou no estacionamento e já pega o produto.”

A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) até está mais otimista. Revisou a projeção de crescimento das vendas de 2,2% para 3,4% em nível nacional. De acordo com Fabio Bentes, economista da entidade, caso a projeção se confirme, o comércio nacional deverá movimentar mais de R$ 38 bilhões.

No entanto, lembrou que, historicamente, as vendas nas véspera do Natal estão perdendo força no calendário do varejo. Uma das razões é a popularização da Black Friday.

“Comparando o varejo com outros setores, como o de serviços, vemos uma recuperação relativamente mais rápida, mas não teremos daqui para a frente um crescimento em ritmo tão forte como ocorreu nos últimos meses.”

O avanço nos casos de Covid-19 é uma das coisas para a perda de fôlego. Desde 30 de novembro, o estado de São Paulo, por exemplo, voltou para chamada a fase amarela em relação à abertura de empresas. Na prática, ocorre redução no horário de funcionamento do comércio, o que limita o horário de compras para o consumidor.

De acordo com Jorge Dib, diretor da Univinco (União dos Lojistas da Rua 25 de março), a medida impactou as vendas de Natal, mas o comércio digital é suporte.

“Depois do segundo turno das eleições municipais, o pessoal voltou a ficar em casa, e os lojistas estão recorrendo aos canais digitais para melhorar as vendas”, disse.

Durante a semana, a rua 25 de Março, um dos comércios mais populares de São Paulo, estava bastante movimentada. No entanto, o volume de pessoas não se comparava às multidões vistas nesta época do ano, em especial na ladeira Porto Geral —rua que dá acesso à região pelo metrô.

“Parece um mês normal, e não dezembro”, disse Alex Oliveira, ambulante que vende camisetas na região. “Olha, até as lojas grandes estão vazias.”

O controle de circulação era muito flexível na maioria das lojas. Os Armarinhos Fernando eram uma das poucas lojas que mediam a temperatura na entrada e ofereciam álcool em gel. Havia também controle na entrada, mas, no horário em que a reportagem esteve lá, não havia fila.

Quem saiu para ir às compras disse à Folha que, no geral, neste ano o Natal será enxuto: menos convidados e menos presentes.

“Estou comprando lembrancinhas só para os mais próximos”, contou Elaine Freitas, que é autônoma.

Segundo ela, o Natal sempre foi uma reunião de famílias para muitos: reunia mas 40 pessoas, entre familiares e amigos. Neste ano, porém, ela diz que limitou o encontro para um pequeno grupo de dez pessoas mais próximas.

Caren Mello, que vende caixas de MDF e vai na região a cada dois meses para comprar o material, conta que sua festa será econômica sob todos os aspectos. Ela pretende gastar cerca de R$ 400 neste ano, metade do que desembolsou em 2019. “Até o gasto com a comida ficou menor porque seremos apenas meu marido, meu filho e eu”, afirmou.

A família da vendedora Daniela Karine resolveu o problema de presentes organizando um amigo secreto de canecas.

“Em anos anteriores a gente dava perfume, roupa, calçado, mas neste ano vamos fazer diferente porque nem todo o mundo está trabalhando.”

A costureira Luciana Oliveira foi até a 25 de Março comprar bonecas e dinossauros para os netos de 6, 3 e 2 anos —os únicos que receberão presente dela neste ano.

Ao todo, gastou R$ 300, bem menos que os mais de R$ 1.000 usados para agradar a parentes e amigos no ano passado.

A técnica de enfermagem Tatiana Ribeiro está desempregada e, com o fim do auxílio emergencial, também segurou os gastos. Foi à 25 de Março comprar o básico: chinelo e utensílio para a casa. Vai passar o Natal com a vizinha e o filho.

“Geralmente somos em 30 pessoas, mas neste ano, não tem condições.”

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