Descrição de chapéu Financial Times inflação

Mudanças de estilo de vida afetam preços na Europa

Zona do euro tem quedas no combustível, passagens aéreas e de trem

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Valentina Romei
Londres | Financial Times

O custo de muitos bens e serviços que se tornaram populares entre os consumidores da zona do euro durante a pandemia do novo coronavírus está subindo muito mais depressa que o nível da inflação geral deprimida do bloco, segundo uma análise de dados oficiais feita pelo Financial Times.

A área da moeda única entrou em território deflacionário em agosto, de acordo com sua medida ampla da variação de preços, e a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, avisou que não espera ver um retorno da expansão nos primeiros meses do próximo ano.

Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde
Presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde - Kai Pfaffenbach/Reuters

Economistas ouvidos pela agência Reuters esperam que o índice de inflação para novembro fique em menos 0,2% quando for publicado na terça-feira (1º).

Mas essa tendência de queda dos preços é em parte conduzida pela queda no custo dos bens e serviços, que os consumidores estão comprando menos ou pararam de comprar por causa das mudanças no estilo de vida devido à pandemia, sugere a análise do Financial Times.

Por exemplo, o preço do combustível para carros caiu 12% ano a ano em outubro, as passagens aéreas caíram 15% e as de trem 4,5%. Diárias de hotel e pacotes de férias internacionais também ficaram mais baratos que no ano passado. Mas as pessoas presas em casa por causa das restrições e medidas de distanciamento social não podem aproveitar essas economias.

Enquanto isso, os preços de produtos importantes no orçamento regular, como alimentos, estão aumentando em torno da meta de inflação do BCE de pouco menos de 2%. Os preços da educação, serviços médicos, bicicletas e serviços domiciliares também estão aumentando em base anual.

A análise sugere que o número geral que os formuladores de políticas usam para moldar suas decisões não reflete totalmente a maneira como muitas pessoas experimentam as mudanças de preços na economia real.

Marchel Alexandrovich, economista europeu do grupo financeiro Jefferies, disse que as mudanças nos padrões de consumo são "um problema, com certeza", quando se trata de medir o índice de aumento dos preços.

A principal medida de inflação na zona do euro se baseia no que as pessoas compraram em 2018 e, portanto, não reflete as mudanças nos hábitos de consumo forçadas pelas restrições do coronavírus neste ano.

Florian Hense, economista do Banco Berenberg, disse: "Neste ano aumentaram muito os desafios que os órgãos de estatística e os bancos centrais enfrentavam antes da pandemia, pois a coleta de preços foi prejudicada em alguns pontos e os padrões de consumo mudaram".

Na tentativa de levar em conta a mudança nos padrões de gastos, o BCE calculou um índice experimental de inflação. Registrou uma leitura de pelo menos 0,2 pontos percentuais acima do número oficial em todos os meses desde abril. Em agosto, o último mês disponível, isso teria evitado que a inflação da zona do euro caísse em território negativo.

A medida experimental "por padrão (...) se aproxima da taxa de variação dos preços dos itens efetivamente adquiridos pelos consumidores nesse período", afirmou o BCE. A medida alternativa de inflação "reflete intuitivamente a mudança dos consumidores de categorias de inflação abaixo da média, como combustível para transporte, para categorias de inflação acima da média, como alimentos".

O índice cheio de inflação também está sendo contido pelo corte no IVA na Alemanha, que empurrou o núcleo da inflação no país –o índice de variação dos preços excluindo energia, alimentos, álcool e tabaco– para 0,7% em julho, quando foi adotado, de 1,5% no mês anterior. O efeito, que se reflete na média geral da zona do euro, deverá ser revertido quando a medida for suspensa em janeiro.

Frederik Ducrozet, estrategista da Pictet Wealth Management, disse que "não há dúvida" de que "uma série de fatores estatísticos" estão empurrando para baixo a taxa de inflação durante a pandemia. O índice alternativo do BCE "deve fornecer uma melhor avaliação da tendência real dos preços ao consumidor", disse ele.

No entanto, a maioria dos analistas concorda que o impacto geral da pandemia é deflacionário. Entre as áreas mais atingidas da zona do euro estão Itália e Espanha, onde a taxa de inflação cheia está se contraindo duas vezes mais rápido que a média do bloco.

Katharina Koenz, economista da Oxford Economics, disse que embora a experiência de muitos consumidores com as mudanças de preços tenha sido "um pouco mais alta" do que sugere a medida oficial, o efeito geral da pandemia e da recessão subsequente foi "desinflacionário".

O choque sem precedentes na produção causado pela pandemia atingiu a demanda por meio de perdas de empregos, maior poupança preventiva e menor crescimento salarial. Os preços mais baixos das commodities, principalmente do petróleo, também reduziram as pressões sobre os preços.

A demanda mais fraca e alguns insumos mais baratos pressionaram os preços para baixo, segundo analistas.

William De Vijlder, economista do BNP Paribas, disse que em toda a zona do euro a diferença nas taxas de inflação entre os setores "tendeu a aumentar este ano" como resultado da pandemia, e que "levará um tempo considerável até que a atividade seja restaurada o suficiente para gerar gargalos no mercado de trabalho, que (...) são uma condição necessária para um aumento generalizado e duradouro da inflação".

Alexandrovich disse que, além dos problemas de medição, a pandemia é "claramente deflacionária" e os membros do conselho do BCE estão "muito preocupados".

Os formuladores de políticas aguardam um aumento dos salários como sinal de que a inflação está no caminho certo, mas é improvável que essa tendência se materialize nos próximos meses, uma vez que a produção da zona do euro continua deprimida e o nível sem precedentes de apoio fiscal dos governos aos empregos começa a diminuir.

"Para o BCE, se não houver aumento salarial (...) não teremos uma taxa saudável de inflação nos serviços e, se não tivermos inflação nos serviços, não teremos núcleo de inflação", disse Alexandrovich.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.