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Natura investe em startup financiada por enteado de fundador e causa desconforto no mercado

Segundo influencer, aporte na Singu teria motivação pessoal; companhia diz que amplia participação digital com negócio

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São Paulo

Em uma troca de farpas entre o influencer Raiam Santos e o empresário Tallis Gomes, fundador da Easy Táxi, surgiu um problema para a Natura. Para expor os supostos fracassos profissionais de Gomes, Santos divulgou dados de sua outra empresa, a Singu, a startup de serviços de beleza delivery.

Em agosto deste ano, foi anunciado o investimento da Natura na Singu, sem maiores detalhes da operação.

Guilherme Leal, co-fundador da Natura, na festa de 50 anos da companhia, em 2019
Guilherme Leal, co-fundador da Natura, na festa de 50 anos da companhia, em 2019 - Mathilde Missioneiro/Folhapress

De acordo com Santos, o investimento seria uma salvação para a startup, que registra prejuízos desde 2016. Na leitura do influencer, a injeção de capital não seria uma oportunidade de negócios para a Natura e, sim, decisão de caráter pessoal, já que Matheus Farah de Godoy, um dos investidores da Singu, é enteado de Guilherme Leal, co-presidente do conselho de administração da Natura e também co-fundador da companhia, sendo seu segundo maior acionista, com 7,22% dos papéis em circulação.

Na Junta Comercial do Estado de São Paulo, onde a Singu é registrada, está escriturada uma emissão de debêntures, títulos de crédito que representam um empréstimo, de abril. Ela tem quatro séries que podem chegar a R$ 65 milhões. A Natura é a credora e será remunerada em 3% ao ano pela operação.

Procurada, a Natura disse investir na Singu para ampliar a atuação digital da empresa.

“Os pontos fortes combinados da Natura e da Singu fornecerão a milhares de consultoras de beleza Natura a oportunidade de gerar mais renda, ao permitir que ofereçam, por meio da plataforma, serviços de maquiadora, cabeleireira, manicure, entre outros”, afirmou a empresa por meio de sua assessoria de imprensa.

Segundo a companhia de cosméticos, o acordo não é de domínio público e prevê que a Natura tem o direito de adquirir 100% da Singu. A empresa também disse que não forneceria ou comentaria mais detalhes sobre o investimento.

“A Natura tem conhecimento de que o Sr. Matheus Farah de Godoy é um dos mais de 30 investidores da Singu e que ele jamais participou da administração da empresa ou teve qualquer influência na sua gestão. O Sr. Matheus não participou do processo de negociação envolvendo a Natura e não foi favorecido de qualquer forma”, afirma texto da nota enviada à reportagem.

Procurada, a Singu diz ter mais de 30 investidores, entre os quais Matheus Farah de Godoy, que teria apenas um contrato de mútuo com a startup, sem integrar a base de acionistas da companhia.

“Ele jamais participou da administração da Singu ou teve qualquer influência na sua gestão”, disse a empresa por meio de sua assessoria.

Matheus Farah de Godoy adotou recentemente o sobrenome Leal, do padrasto Guilherme, ao ser legalmente reconhecido como filho. Ele aparece nas atas da Singu como um de seus financiadores, com um aporte de R$ 646.440,00.

Segundo Paulo Duarte, sócio da Valor Investimentos, o episódio coloca o ESG (melhores práticas ambientais, sociais e de governança) da Natura em xeque.

“Todo o processo de compra da empresa foi nebuloso. Mas, se eles internamente cumpriram todo rito de aquisição de ativo, não tem problema. O estranhamento do mercado é a falta de comunicação deste vínculo”, diz.

As ações da Natura caíram 2,6% na terça (1º), depois que Santos começou falar sobre a Singu em suas redes sociais. No mesmo pregão, o Ibovespa subiu 2,3%. Nesta quarta (2), Natura se valorizou 0,5% e o Ibovespa, 0,4%.

“Não pegou bem, mercado ficou com pulga atrás da orelha pela falta de transparência”, diz Duarte.

Analistas do setor também apontam a troca de papéis nas carteiras de ações na virada do mês como um dos motivos para a queda. Os papéis da Natura podem ter sido trocados por de outras companhias, em um movimento de realização de lucros. A empresa acumula ganhos de 28% neste ano.

Procurada, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), responsável por regular o mercado, disse que “acompanha e analisa as informações envolvendo as companhias abertas, tomando as medidas cabíveis, quando necessário".

Até a publicação desta reportagem, o influencer Santos não retornou o contato da Folha.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior do título desta reportagem, o enteado do fundador da Natura é investidor, e não dono, da startup em que a empresa investiu. O título foi corrigido.

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