Descrição de chapéu Financial Times

Pandemia traz tempestade perfeita para cadeias de suprimentos globais

Distanciamento social, funcionários doentes e demanda elevada reduzem capacidade logística e pressionam indústria de contêineres

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Londres | Financial Times

A pandemia deixou algumas das maiores companhias de navegação do mundo diante de atrasos e acúmulos crescentes, tensionando as cadeias de suprimentos internacionais e ameaçando perturbar o comércio global.

Os operadores dizem que a indústria de transporte de contêineres —a espinha dorsal do comércio global— sofre grave pressão devido ao impacto combinado de funcionários doentes, quarentena e distanciamento social, juntamente com a demanda crescente dos consumidores e a disrupção da produção industrial causada pelos lockdowns.

Doca de contêineres do porto de Yangshan em Xangai, leste da China
Doca de contêineres do porto de Yangshan em Xangai, leste da China - Xinhua/Wang Xiang

Lars Jensen, planejador chefe de serviços da Maersk, a maior operadora mundial de navios de contêineres, disse que uma "tempestade perfeita" foi criada pela mistura de demanda crescente com capacidade reduzida dos sistemas de logística.

"Há um congestionamento nos terminais", disse Jensen. "Há escassez de motoristas de caminhão porque alguns não puderam dirigir. Especialmente partindo da Ásia, vemos que uma parte disso também está ligada ao fato de muitas companhias estarem se reestocando."

Em consequência, "a produtividade diminui", o que "atrasa mais navios, e entramos num círculo vicioso".
No início de dezembro, navios esperavam para atracar em alguns portos-chave. No dia 8, a Marine Exchange of Southern California, que monitora as condições nos dois portos de contêineres mais movimentados dos Estados Unidos, Los Angeles e Long Beach, relatou 17 navios ancorados à espera de lugar para atracar. Outros quatro navios deveriam chegar mais tarde naquele dia, mas só três deveriam entrar no porto.

O porto relatou um volume recorde de importações, de 506.613 contêineres em outubro —dados mais recentes disponíveis—, um aumento de um terço em relação ao mesmo período do ano passado.

Em resposta, as linhas de navegação estão cancelando pedidos e desviando embarcações.

Singapura, o segundo maior polo de contêineres do mundo, viu sua taxa de rolagem —a proporção da carga que chega a um porto e é embarcada em um navio diferente do que estava previsto— chegar a 31% em outubro, comparada com 21% no mesmo período do ano passado, segundo dados da Ocean Insights.

"Toda a cadeia de suprimentos está sob pressão", disse Rolf Habben Jansen, presidente-executivo da Hapag-Lloyd, outra das maiores companhias de transporte de contêineres. "A situação do mercado é extraordinária."

Os surtos de Covid-19 podem rapidamente perturbar a produtividade de um terminal portuário ao forçar grande número de trabalhadores a se isolar, acrescentou ele.

"Tivemos exemplos em um porto em que 600 trabalhadores foram postos em quarentena. Apesar de aquele porto ser um dos melhores, em uma semana você tem dez navios lutando para atracar."

Conforme o comércio se recuperou nos últimos meses, a demanda por produtos enviados da Ásia se acumulou, e as companhias estão operando perto da capacidade máxima.

Segundo a coluna Painel S.A., o frete de contêineres no trecho Brasil-China, que girava em torno de US$ 2.500 antes da pandemia, quadruplicou e superou US$ 10 mil em dezembro no Norte do país. Os dados são da empresa de transporte ES Logistics.

No porto de Santos, o valor gira em torno de US$ 7.300, com perspectiva de ultrapassar cinco dígitos em janeiro.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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