Retomada do emprego ainda é dúvida mesmo com vagas recordes em novembro

No mês foram criados quase 415 mil postos formais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília e Maringá (PR)

As empresas contrataram em novembro um número recorde de trabalhadores com carteira assinada, repondo parte das vagas eliminadas durante a pandemia e fechando o acumulado do ano até então com saldo positivo, o que não ocorria desde o início da crise do coronavírus.

Especialistas, porém, afirmam que ainda há dúvidas se a retomada veio para ficar.

No auge da pandemia, foram eliminadas principalmente as vagas de baixa qualificação e, portanto, salários mais baixos, e em setores como comércio e serviços, duramente afetados pelas medidas de distanciamento social.

No auge da pandemia foram eliminadas principalmente avagas de baixa qualificação e, portanto, salários mais baixos
No auge da pandemia foram eliminadas principalmente avagas de baixa qualificação e, portanto, salários mais baixos - Mathilde Missioneiro - 30.set.2020/Folhapress

Agora, são justamente essas categorias as que mais geraram vagas, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo Ministério da Economia nesta quarta-feira (23). Ao todo, foram 414.556 novos postos formais criados em novembro, o maior saldo da série histórica.

Com a reposição em setores de baixa qualificação, o salário médio de contratação caiu para a menor média do ano: R$ 1.684,35. Especialistas afirmam que isso é normal devido ao tipo de vaga que está sendo reposta.

Profissionais mais qualificados --cuja grande parte pôde fazer home office para manter o distanciamento social-- e com salários maiores foram mais preservados na pandemia.

Há alguns meses, especialistas avaliavam que o país poderia voltar a níveis anteriores à crise apenas no fim de 2021, com base no cenário da pandemia do novo coronavírus até então. Essa análise vem mudando, em parte por causa do programa de manutenção de emprego lançado pelo governo federal, que permitiu suspensão de contrato de trabalho e corte de jornada e salários.

"Agora as notícias são positivas. O programa teve sucesso", afirmou Cosmo Donato, economista da LCA Consultores.

Segundo ele, pode estar havendo um retorno gradual em direção ao nível de emprego formal pré-crise, embora ainda existam riscos para os próximos meses.

"O risco não é mais a pandemia [como se via há alguns meses] ,mas se a economia terá força para se recuperar ou se vier uma segunda onda severa de Covid-19", diz.

Outro problema seria a chance de o emprego formal voltar a cair no começo de 2021 após o fim do programa para evitar demissões em massa em 2020.

Para Donato, porém, esse risco caiu à medida que diminuiu, nos últimos meses, o número de empresas que adotaram o programa.

O secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, disse que o governo começou a analisar a possibilidade de prorrogar o programa, que atendeu a 9,8 milhões de trabalhadores. “Temos restrições orçamentárias. Por ora, faremos estudos e levaremos a Guedes”, informou Bianco.

Para Renan Pieri, professor de economia da FGV-EAESP, apesar de o governo ressaltar o resultado recorde do Caged, o número “talvez não seja comemorável, porque o primeiro semestre foi uma tragédia no mercado de trabalho”.

Pieri avalia que o saldo de novembro reflete o represamento de algumas contratações durante o ano e uma expectativa, naquele mês, mais positiva em relação à pandemia, que agora volta a registrar uma forte alta de casos e mortes por Covid-19. “É muito cedo para afirmar que há uma recuperação sustentável do emprego”, disse.

Com a geração de postos de trabalho no segundo semestre, no acumulado de janeiro a novembro, o saldo passou a ser positivo, com o abertura de 227.025 vagas em ano de crise da Covid-19. Mas, no mesmo período do ano passado, foram gerados 948.344 novos empregos com carteira assinada.

Em 2020, o mercado de trabalho brasileiro apresenta, desde julho, uma recuperação após o fechamento de vagas no começo da crise do coronavírus —1,2 milhão de vagas desapareceram nos seis primeiros meses deste ano.

Novembro foi o quinto mês consecutivo de saldo positivo.

“Nós realmente estamos na retomada em V, como eu disse antes. O Brasil está surpreendendo o mundo. As reformas prosseguiram, em ritmo um pouco mais lento, mas elas seguem acontecendo”, afirmou o ministro Paulo Guedes (Economia), nesta quarta.

O resultado de novembro foi puxado pelo setor de serviços, com a abertura de 179.261 vagas, e comércio, que gerou 179.077 novos postos de trabalho no mês.

Guedes comemorou que esses dois setores, mais afetados pelas medidas de restrição durante a pandemia, foram os responsáveis pelo saldo recorde de novembro. As cinco regiões do país registraram saldo positivo em novembro.

A geração de vagas acompanha um período de queda no distanciamento social e relaxamento de medidas restritivas por parte de prefeituras e estados.

Neste ano, o pior mês registrado pelo Caged foi abril, logo no início da pandemia.


Em janeiro, foram gerados 114 mil empregos formais. Influenciado pela crise, o mercado de trabalho variou no ano: fevereiro (com saldo positivo de 225 mil), março (-271 mil), abril (-948 mil), maio (-366 mil), junho (-26 mil), julho (geração de 137 mil), agosto (com saldo positivo de 242 mil), setembro (criação de 314 mil) e outubro (com abertura de quase 389 mil).

Na semana passada, o ministro estimou que, até o fim do ano, a perda de empregos formais será zerada.
​Tradicionalmente, o segundo semestre concentra a maior parte de contratações de temporários nas fábricas para produzir as demandas das festas de fim de ano. Mas, em dezembro, o resultado costuma ser negativo devido à dispensa desses trabalhadores.

Bruno Bianco chegou a arriscar que, em dezembro, por causa da demanda reprimida por contratações, o Caged poderia registrar abertura de vagas formais, ao contrário do que normalmente acontece no último mês do ano.

Mas Pieri, da FGV, tem dúvidas sobre o comportamento do mercado de trabalho em dezembro, especialmente por causa das medidas de restrição para evitar a alta de contaminação por Covid-19 adotadas, por exemplo, no estado de São Paulo.

Temporários

O Ministério da Economia mudou a metodologia do Caged em 2020. Neste ano, as empresas passaram a usar o sistema do eSocial (Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas).

As declarações passaram a obrigatoriamente informar contratos temporários. Antes, era possível transmitir essas informações, mas de maneira voluntária.

Em novembro, o saldo de empregos temporários foi de 37,1 mil. Isso representa 9% do resultado total do Caged no mês. Mesmo descontando a parcela referente aos trabalhadores temporários, o dado de novembro deste ano (377,4 mil) é o melhor da história para o mês. Em novembro do ano passado, por exemplo, foram abertas 99,2 mil vagas.}

“Isso [obrigatoriedade de contabilizar contratos temporários] não deturpa a série histórica nem a base de dados de maneira geral. Os temporários são admitidos e demitidos geralmente dentro do mesmo ano”, afirmou o secretário do Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo.

Os dados do Caged refletem o comportamento do mercado formal de trabalho. No setor informal, o IBGE apresentou também nesta quarta uma tendência oposta: o desemprego bateu novo recorde em novembro, atingindo 14 milhões de brasileiros.

A taxa de desocupação chegou a 14,2%, o maior percentual da série histórica da Pnad Covid, pesquisa do IBGE iniciada em maio para mensurar os efeitos da pandemia no país.Esse indicador considera o mercado informal de trabalho, autônomos e funcionários públicos.

No setor formal, os dados do Caged, apresentados pelo Ministério da Economia, mostram que, em novembro, o país teve 1,532 milhão de contratações formais e 1,117 milhão desligamentos. Isso resultou no saldo positivo de 414,5 mil novas vagas com carteira assinada no mês.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.