Descrição de chapéu brasil em crise

Brasil quebrado de Bolsonaro deu aumento a policiais, Defesa e cortou imposto de videogame e arma

Por outro lado, crise tem barrado promessas do presidente, como redução de encargos trabalhistas e reformulação de programas sociais

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Brasília

Embora o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha afirmado que o Brasil quebrou, o governo adotou medidas ao longo da pandemia que ampliam gastos públicos e provocam perdas de arrecadação, inclusive para os próximos anos. As ações são voltadas especialmente a setores simpáticos ao presidente.

Ao mesmo tempo em que o governo concede benesses a áreas mais ligadas ao bolsonarismo, a crise fiscal do país vem sendo usada como argumento para barrar medidas como o auxílio emergencial e até mesmo promessas feitas pelo presidente.

Em maio, já com o estado de calamidade decretado, Bolsonaro editou uma medida provisória para garantir aumento salarial a policiais civis, militares e bombeiros do Distrito Federal, cujos salários são bancados com recursos do Orçamento da União. O custo anual é de R$ 505 milhões, que também se estende para os próximos anos por ser um gasto obrigatório e permanente.

Na mesma semana de maio, o presidente também autorizou a convocação de novos agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal). Para isso, ele teve que adiar a sanção do pacote de socorro financeiro a estados e municípios na pandemia, e que também impõe fortes restrições ao aumento de despesa com servidores.

O governo adotou medidas ao longo da pandemia que ampliam gastos públicos - Lucio Tavora/Xinhua

A expectativa era que, com o decreto de Bolsonaro, fossem nomeados 614 agentes aprovados num concurso da PRF de 2018. O salário inicial é de R$ 9.800.

Em agosto, com a pandemia aprofundada, o governo enviou ao Congresso o Orçamento de 2021 com ampliação de verbas para o Ministério da Defesa para R$ 110 bilhões. No ano anterior, o projeto previa R$ 106 bilhões para a pasta.

Em outubro, o presidente anunciou um corte de imposto sobre videogames. A tarifa de importação para esses produtos já havia sofrido redução no ano anterior. A nova iniciativa baixou a alíquota de 32% para 22% para partes acessórios de consoles e de 16% para 6% no caso de máquinas de jogos com tela incorporada. O impacto é estimado em R$ 36 milhões neste ano e R$ 39 milhões em 2022.

No mês seguinte, foi a vez de uma redução das tarifas de importação de brinquedos. A medida foi criticada por empresários do setor, que temem uma perda de competitividade do Brasil em relação à China.

Em dezembro, o presidente anunciou que o governo decidiu zerar a tarifa de importação sobre armas de fogo, como revólveres e pistolas.

Na ocasião, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que a medida mostra a “falta de prioridade e de sensibilidade” do governo, que é cobrado para apresentar um plano efetivo de vacinação contra a pandemia.

Nesta terça-feira, Bolsonaro, ao falar sobre a falta de espaço no Orçamento público para realizar a anunciada ampliação da faixa de isenção do IR (Imposto de Renda), declarou: “o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada”. Segundo ele, esse foi um efeito da crise da Covid-19.

Corrigir a tabela do IR representaria queda de arrecadação, porque um número maior de trabalhadores se enquadraria nas faixas salariais em que incidem menores alíquotas ou no patamar com isenção fiscal.

Apesar do aperto nas contas públicas, Bolsonaro, portanto, tem adotado medidas que atendem a demandas de sua base de apoio político, como profissionais de segurança pública.

Procurado, o Ministério da Economia ainda não respondeu.

Membros da equipe econômica têm minimizado essas iniciativas implementadas no ano passado. O argumento é que as ações têm impacto relativamente baixo e não podem ser comparadas a propostas de valor elevado, como o auxílio emergencial.

Depois que Bolsonaro zerou o imposto de importação sobre armas, por exemplo, o ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que o custo anual da medida, de R$ 200 milhões, é baixo e não viola as ações da pasta.

O próprio ministro, no entanto, reconheceu que a isenção concedida em meio à pandemia gerou ruídos.

“O momento dá interpretações infelizes, sim. Você fala 'pô, na hora que estão precisando de vacina, você está facilitando arma'”, disse.

Diversas propostas cobradas pelo Congresso e especialistas, além de medidas prometidas pelo governo, estão travadas, com a justificativa de que a situação fiscal não permite implementá-las.

Estão na gaveta sob o argumento de falta de recursos o reforço de programas sociais, redução de encargos trabalhistas para aliviar custos a empresários, corte no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) da linha branca, como geladeira e máquina de lavar roupa, e outras medidas, como a mudança na tabela do Imposto de Renda.

Desde o início do governo, a equipe de Bolsonaro quer reformular programas como o Bolsa Família e o Pronatec (de ensino técnico), cujas marcas são atreladas à gestão do PT. Mas, sem ter como ampliar a verba dessas ações, os ministérios ainda patinam nessas discussões.

Outra promessa é a redução de tributos para empresários. A principal medida —redução dos encargos sobre contratação de mão de obra— só será viabilizada, segundo integrantes do Ministério da Economia, se houver uma compensação. Ou seja, uma outra forma de arrecadação para manter a receita dos cofres públicos, que hoje origina da tributação sobre a folha de pagamentos.


Benesses concedidas por Bolsonaro na pandemia

  • Liberou aumento salarial para policiais do Distrito Federal
  • Autorizou a nomeação de policiais rodoviários federais às vésperas de lei que impedia aumento de gasto com pessoal
  • Reduziu tributação sobre videogames
  • Zerou imposto para importação de armas (medida suspensa pelo STF)
  • Cortou imposto para importação de brinquedos
  • Concedeu anistia a desmatadores

Promessas do governo, com impacto fiscal, ainda não cumpridas

  • Reduzir tributos para empresários, especialmente desoneração da folha salarial
  • Reformular programas sociais e de profissionalização, como Bolsa Família e Pronatec
  • Corrigir tabela do Imposto de Renda e ampliar faixa de isenção
  • Reduzir IPI de produtos da linha branca, como fogões e geladeiras
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