Descrição de chapéu Financial Times

Carlos Ghosn temia demissão se Renault descobrisse seu salário real na Nissan, diz tribunal

Hari Nada, o ex-diretor de assuntos jurídicos, disse que medo levou Ghosn a mandar funcionários da Nissan criarem esquema para ocultar valor de remuneração

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Financial Times

Carlos Ghosn temia que a Renault o demitisse se a verdadeira escala de seu salário na Nissan fosse revelada, segundo depoimento em juízo realizado pelo denunciante que provocou a queda do ex-chefão da automotiva.

Hari Nada, o ex-diretor de assuntos jurídicos, apareceu em público na quinta-feira (14) pela primeira vez desde a prisão de Ghosn em 2018. Ele disse que o medo da reação da Renault levou Ghosn a mandar funcionários da Nissan criarem um esquema para ocultar a verdadeira extensão de um pacote de remuneração que era o mais alto para um executivo-chefe de qualquer companhia japonesa.

As denúncias na quinta surgiram do que já se esperava amplamente que fosse o segmento mais explosivo do julgamento em Tóquio de Greg Kelly, o ex-chefe de Nada. Kelly foi preso ao mesmo tempo que Ghosn e hoje luta contra acusações de que ele ajudou a esconder os rendimentos do ex-chefe da Nissan.

Quando perguntado por que Ghosn queria reduzir seu salário declarado, Nada disse aos juízes: "Ele não queria ser demitido. Se ele pagava a si próprio quanto queria e isso fosse revelado, o Estado francês se sentiria obrigado a demiti-lo".

Além dos comentários em torno da suposta motivação de Ghosn, o muito esperado depoimento de Nada projetou nova luz sobre a extensão em que a Nissan e a Renault pretendiam transformar sua aliança em uma fusão completa.

Relatos anteriores feitos ao Financial Times sugeriam que essas negociações só se tornaram sérias por volta de 2016. Mas Nada declarou que Ghosn começou a planejar uma fusão a partir de meados de 2012.

O momento das negociações para a fusão é crítico. Muitos acreditam que a ameaça de uma fusão iminente que seria desvantajosa para a Nissan levou figuras graduadas a começarem a sondagem interna de Ghosn no início de 2018. Essa sondagem afinal levou a sua prisão por promotores e a queda do mais proeminente executivo da indústria automobilística mundial.

Ghosn, que chefiou a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi e escapou do Japão para o Líbano no final de 2019, negou as acusações de declarar a menos 9,2 bilhões de ienes (US$ 88 milhões) em futura compensação que o ex-presidente deveria receber em um período de oito anos.

A Nissan, que também foi acusada de falsear a declaração da remuneração de Ghosn, não quis comentar.
A explicação dos fatos por Nada acrescenta uma nova dimensão aos supostos atos de Ghosn. Em 2010, uma mudança de regra no Japão obrigou os executivos que ganhavam mais de US$ 1 milhão a revelar seu pagamento --medida que provocou preocup ações de uma importante reação interna contra os executivos japoneses mais bem pagos.

Desde as prisões de Ghosn e de Kelly, o papel de seu ex-colega Nada foi o centro de especulações e mistério. O advogado britânico-malaio de 56 anos, que trabalhou para a Nissan desde 1990, foi identificado pouco depois da prisão de Ghosn como uma figura central nos acontecimentos que antecederam o momento explosivo, mas seu silêncio nos 26 meses seguintes foi absoluto.

Nada, que disse ter aconselhado Kelly sobre como reduzir o pagamento declarado de Ghosn, também é um de dois ex-executivos da Nissan que assinaram uma delação premiada com promotores japoneses antes da prisão de Ghosn.

Em consequência, segundo pessoas inteiradas da situação, Nada passou meses sendo entrevistado por promotores enquanto formavam o caso contra Ghosn e Kelly.

Financial Times, tradução Luiz Roberto M. Gonçalves

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