Com estratégias diferentes, democratas e republicanos levam EUA a dívida recorde

Biden já anunciou um pacote adicional de estímulos de US$ 1,9 trilhão para enfrentar a pandemia do coronavírus

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São Paulo

Ao tomar posse nesta quarta (20), o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, poderá ampliar consideravelmente o déficit e o endividamento da maior economia do mundo, dois indicadores que apresentam trajetória preocupante nos últimos anos.

Biden já anunciou um pacote adicional de estímulos de US$ 1,9 trilhão para enfrentar a pandemia do coronavírus e prometeu, a partir de fevereiro, mais medidas em áreas como infraestrutura, energia verde e educação —todas financiadas com mais endividamento.

Nos últimos dez anos, a dívida pública dos EUA dobrou, para US$ 27 trilhões, atingindo o equivalente a 100% do PIB (Produto Interno Bruto). Embora ainda em patamar inferior à de Japão (266% do PIB) e Itália (160%), é a trajetória de aumento que tem se destacado nas duas últimas décadas.

Se há diferenças importantes no gerenciamento da economia entre presidentes democratas e republicanos nos EUA, os dois partidos vêm recorrendo igualmente a déficits e dívidas cada vez maiores desde os anos 2000.

No caso do Partido Republicano, talvez nenhum outro presidente tenha se encaixado tão bem no imaginário econômico de seus simpatizantes como Donald Trump.

Em linha com o histórico de seu partido, o empresário de Manhattan prometeu e entregou em seu primeiro ano na Casa Branca um corte de impostos de cerca de US$ 1,4 trilhão, em dez anos, majoritariamente voltado a empresas.

Em resposta, o democrata Joe Biden passou a campanha eleitoral repetindo dados do Urban-Brookings Tax Policy Center de que 83% do corte de impostos beneficiariam o 1% mais rico nos EUA —e que seu partido, se eleito, agiria em benefício dos mais pobres e da classe média.

Republicanos e democratas que governam o país mais rico e capitalista do mundo há mais de um século divergem principalmente em um ponto: como atingir o maior nível de crescimento econômico e prosperidade.

Nesse embate, alguns dados mostram que os democratas têm se saído melhor, pelo menos em relação ao crescimento médio do PIB (Produto Interno Bruto).

Basicamente, os republicanos defendem que o crescimento e o bem-estar social são consequência da atividade empresarial.

Cortes de impostos a corporações, portanto, estimulariam empresas a contratar mais funcionários e a investir na produtividade, aumentando a oferta de produtos, fazendo a economia crescer.

O fato de o Estado abrir mão de parte da receita de impostos e potencialmente aumentar o déficit público seria compensado à frente com mais arrecadação advinda de uma economia em crescimento acelerado.

Além de Trump, o republicano Ronald Regan (1911-2004) também se destacou nesse ponto ao reduzir agressivamente os impostos sobre empresas e os mais ricos durante seu mandato, entre 1981 e 1989. Outros republicanos também fizeram o mesmo, em menor grau.

Já os democratas mantêm o discurso de que a política econômica deve beneficiar as famílias mais pobres e de classe média para diminuir a desigualdade de renda e fazer a economia crescer.

Como as famílias menos favorecidas tendem a gastar a maior parte de sua renda com bens e alimentos, e a poupar menos, isso estimularia o crescimento pelo lado da demanda. Os democratas também defendem que o Estado interfira em períodos recessivos, gastando mais.

Entre outros, Franklin D. Roosevelt, em 1944, Harry Truman, em 1949, e Barack Obama, em 2009-2010, adotaram, cada um a seu modo, diferentes estratégias nesse sentido, como a criação do salário mínimo, sua valorização e políticas de saúde pública mais abrangentes.

Embora o discurso pró “business" dos republicanos sugira que o partido tende a se sair melhor na economia, análise do National Bureau of Economic Research revela que, desde a Segunda Guerra Mundial, os democratas teriam feito a economia crescer, em média, acima de 4% ao ano, ante os cerca 2,5% entregues pelos republicanos.

Em "Presidents and the Economy: A Forensic Investigation”, Alan Blinder e Mark Watson, da Universidade de Princeton, sustentam que os democratas fizeram com que a economia norte-americana crescesse 1,8 ponto percentual acima do que conseguiram os republicanos.

Mas o estudo enfatiza que os presidentes democratas podem ter sido beneficiados por choques mais amenos nos preços do petróleo e pelo aumento da produtividade alcançada em governos republicanos.

O trabalho mostra que ao fim de governos republicanos (e início de períodos sob os democratas), consumidores e empresários estavam mais otimistas, segundo pesquisas de opinião, o que favoreceria a aceleração econômica.

Mas um dos principais indicadores de desempenho é o déficit que republicanos e democratas deixaram a seus sucessores. Entre os quatro mandatários que mais aumentaram o déficit figuram três republicanos (Trump, George W. Bush e Reagan) e o democrata Obama.

Enquanto Biden herdará de Trump um aumento de cerca de 33% no déficit fiscal do país, sobretudo por conta do corte de impostos e de ajudas emergenciais na pandemia, o republicano havia assumido após elevação de 58% no indicador sob Obama.

Em seu mandato, Obama teve de gastar mais durante a forte recessão provocada pela crise das hipotecas subprime, no final dos anos 2000.

Com Joe Biden agora prometendo não poupar recursos para enfrentar a pandemia, o aumento de mais de 300% na dívida pública norte-americana neste século só reforçará um endividamento, em dólares, que já supera os de China, Japão, Alemanha e Reino Unido combinados.

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