Competitividade e inserção financeira são preocupações do mercado de pagamentos

Incluir quem não tem conta e garantir que não haja monopólio devem ser metas do setor em meio às mudanças

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São Paulo

Em meio a um cenário de mudanças constantes e novidades no setor de pagamentos, a principal preocupação dos órgãos reguladores, em especial o Banco Central, é assegurar que a competitividade se mantenha.

Alguns exemplos internacionais acendem o alerta vermelho. A China, país que migrou do papel moeda direto para o digital, assistiu a um império financeiro se estabelecer na Alipay, do gigante Alibaba, e no WeChat Pay, da Tencent Holdings, e agora corre para balancear o mercado.

É esse cuidado que pesa em análises recentes do Banco Central, como a autorização ou não para que as big techs —as grandes companhias tecnológicas— passem a realizar serviços de pagamento e transferências, explica João Manoel Pinho de Mello, diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do BC.

O exemplo mais recente é o WhatsApp, de propriedade do Facebook, que busca permissão para operar transações via aplicativo.

“O desafio, além da segurança no trânsito de dados financeiros, é garantir um modelo competitivo, que beneficiará o consumidor em última instância”, afirma Pinho de Mello. “Precisamos garantir que, com a entrada de uma big tech, que tem base enorme de clientes, não teremos no futuro apenas um jogador.”

A explicação foi dada durante o webinário Tendências em Meios de Pagamento, realizado pela Folha na terça-feira (26), com patrocínio da Mastercard.

Além de Mello, participaram do primeiro painel o presidente da Mastercard Brasil e Cone Sul, João Pedro Paro, e a educadora financeira e CEO da Me Poupe!, Nathalia Arcuri.

Paro, da Mastercard, afirma que as diretrizes do Banco Central seguem os anseios do setor. “O modelo competitivo tem que ser preservado. O mercado funciona quando é bastante democrático.”

A estreia do aplicativo de mensagens no mercado de pagamentos foi anunciada em meados de junho do ano passado, mas suspensa pelo Banco Central poucos dias depois. A expectativa do Facebook é de que o serviço seja liberado ainda no primeiro semestre de 2021.

No Brasil, a ideia é oferecer duas funcionalidades: transferências gratuitas de usuário para usuário e pagamentos a pequenos negócios. A primeira possibilidade está disponível desde o início de novembro na Índia, único país do mundo onde o pagamento no WhatsApp já opera. Negociações com outras nações latinas além do Brasil também estão em curso.

Os debatedores reforçam que a tendência é que a lista de possibilidades para o consumidor na hora de realizar um pagamento cresça.

No Brasil, ainda prevalecem o cartão de crédito no mercado online e o dinheiro nos pagamentos físicos, mas o volume de transferências e a adesão a carteiras digitais e móveis crescem ano a ano.

“O consumidor precisa entender o seu papel no ecossistema, que é de protagonista e não de coadjuvante”, ressalta Nathalia Arcuri.

Segundo ela, o leque de possibilidades maior exige educação financeira para tomar decisões acertadas.

Arcuri acredita que o meio de pagamento pode ser a porta de entrada para a inserção de uma parcela da população no mundo financeiro. Antes da pandemia, o país tinha 45 milhões de desbancarizados.

De acordo com levantamento da Americas Market Intelligence em parceria com a Mastercard, o número de brasileiros que não possuem conta em bancos ou fintechs diminuiu 73% de junho a outubro do último ano.

Parte substancial da mudança foi impulsionada pelo auxílio emergencial, que exigia do cidadão uma conta no aplicativo Caixa Tem para receber o benefício.

Um bom exemplo de como as atualizações nos métodos de pagamento podem beneficiar o cidadão, concordam os debatedores, é o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central.

A novidade abriu uma janela de oportunidade para consumidores e empresários, mas trouxe um guarda-chuva de dúvidas. Muitas delas, diz Arcuri, se devem ao pouco conhecimento que a população tem do mundo financeiro.

Um dos principais questionamentos que a educadora financeira recebe em seus canais nas redes sociais é sobre a gratuidade do Pix. Muitos internautas, acostumados com a cobrança para realizar TEDs e DOCs, não acreditam que o serviço de transferência não será cobrado.

Desde que começou a operar, em 16 de novembro, até 26 de janeiro, mais de 292 milhões de transações gratuitas e instantâneas foram feitas pelo sistema. E, de acordo com Pinho de Mello, do BC, mais de 60 milhões de CPFs e cerca de 4 milhões de CNPJs foram cadastrados.

Na avaliação do Banco Central, a adoção do sistema foi um “sucesso absoluto”. A segurança do Pix também é garantida pelo órgão regulador. “O sistema foi construído com a melhor inteligência de prevenção à fraude, provavelmente quase sem paralelo no mundo”, diz Pinho de Mello.

João Pedro Paro, da Mastercard, acrescenta que a constante digitalização dos métodos de pagamento e de todo o sistema financeiro fornece serviços cada vez mais transparentes para o consumidor.

O debate foi mediado pela jornalista Mariana Grazini, repórter da coluna Painel S.A.


Assista à íntegra do webinário:


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