CVM abre processo para analisar movimentação atípica em ações da Via Varejo

Papéis chegaram a desvalorizar mais de 10% nos primeiros minutos do pregão de 21 de dezembro

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São Paulo

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) abriu um processo para analisar uma movimentação atípica nas ações da Via Varejo, em 21 de dezembro de 2020.

Segundo dados da Bolsa de Valores, os papéis da companhia teriam começado o pregão daquela segunda-feira em queda de 10,8%, cotadas em R$ 15. Na sessão da sexta-feira anterior, as ações da Via Varejo haviam encerrado em R$ 16,82. Na mínima do período, a ação chegou a tocar R$ 14,71 –menor valor desde junho de 2020.

De acordo com as regras de procedimentos operacionais da B3, Bolsa de Valores brasileira, variações bruscas de preços podem acarretar leilões de ações –procedimento voltado equilibrar os preços de compra e venda do ativo.

Funcionário trabalha na Bolsa de Nova York; ações da Via Varejo chegaram a cair mais de 10% em menos de 30 minutos de pregão
Funcionário trabalha na Bolsa de Nova York; ações da Via Varejo chegaram a cair mais de 10% em menos de 30 minutos de pregão - Michael Nagle - 17.mar.2020/Xinhua

“Em situações como essa, a Bolsa precisa entender de fato o que está acontecendo e, dependendo da situação, invalidar os negócios praticados. Essas negociações chegaram a ultrapassar os R$ 50 milhões logo no começo do pregão, respondendo por uma porcentagem relevante do total negociado no dia”, afirmou Fabio Bonchristiano, da Íris Investimentos.

Segundo fontes a par do assunto, os papéis da Via Varejo foram objeto de um leilão de abertura, que durou até às 10h13, e cuja interação entre as ofertas de compra e venda resultaram em 1.475 negócios.

Na sequência, o ativo teria entrado em negociação contínua por menos de três segundos –período que gerou 177 negócios– e então submetido a um novo leilão até às 10h34, que resultou em 2.283 negócios.

Na primeira meia hora de pregão foram negociados mais de 17 mil papéis –cinco vezes mais do que os cerca de 2,5 mil papéis negociados habitualmente em períodos semelhantes.

Sob a condição de anonimato, uma fonte contou à Folha que o motivo para as discrepâncias nos preços teria sido uma operação comandada pela Necton –corretora comprada pelo BTG Pactual em outubro do ano passado.

Fontes do mercado, no entanto, divergem na explicação sobre o que teria acontecido. A especulação é que teria acontecido o que o mercado chama de "fat finger" (dedo gordo, na tradução literal) – erro que caracteriza uma digitação errada ou clique incorreto do mouse por parte do operador na hora de enviar a ordem de compra ou venda de um ativo.

Procurada, a corretora Necton preferiu não se pronunciar sobre o assunto. O BTG não respondeu até a conclusão desta reportagem.

Segundo Bonchristiano, seria necessário uma investigação por parte da Bolsa de Valores e da CVM para averiguar quem teria comprado a ação por valores tão baixos.

“Quem vendeu perdeu dinheiro, mas quem comprou, ganhou muito. A possibilidade de um operador cometer um erro, existe. Mas cabe à Bolsa não deixar isso passar”, afirmou o executivo.

Em nota, a B3 afirmou que as negociações das ações da Via Varejo foram colocadas em leilão ao longo de 21 de dezembro, conforme as regras estabelecidas pelo Manual de Procedimentos Operacionais de Negociação da B3. “A companhia, no entanto, não comenta processos que estão sendo avaliados pela CVM”, afirmou.

A CVM confirmou que os fatos estão sendo analisados, mas disse que a autarquia não comenta processos em andamento.

Procurada, a Via Varejo não comentou até a conclusão desta reportagem.

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