Deteriorada, balança comercial tem superávit de US$ 51 bilhões em 2020

Saldo positivo é impulsionado por forte recuo nas importações

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Brasília

A balança comercial brasileira fechou 2020 com um superávit de US$ 51 bilhões. Embora positivo, o dado reflete uma deterioração dos componentes de comércio exterior do país, sob impacto da pandemia do novo coronavírus.

O resultado, divulgado nesta segunda-feira (4) pelo Ministério da Economia, ficou 7% acima do registrado em 2019 (US$ 48 bilhões), mas é menor do que o saldo de 2018 (US$ 58 bilhões).

No ano, houve queda de 6,1% no valor total das exportações. A redução das importações foi ainda maior, de 9,7%. Por isso, a diferença entre os produtos comprados e vendidos pelo Brasil no mercado internacional permaneceu positiva, impulsionando o saldo no azul.

Desde o início da pandemia, o ministro Paulo Guedes (Economia) apostou na balança comercial como fator para suavizar a queda do PIB

De acordo com o secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia, Lucas Ferraz, o ano de 2020 foi marcado por forte incerteza, fator que ainda deve perdurar em 2021. Segundo ele, medidas restritivas e de isolamento social afetaram drasticamente o trânsito de mercadorias entre países.

O subsecretário de Inteligência e Estatística de Comércio Exterior, Herlon Brandão, afirmou que apesar dos números negativos, os dados entraram em trajetória de recuperação no segundo semestre.

“O resultado das exportações foi o esperado por conta de toda a conjuntura e a queda na demanda externa”, disse. “Do lado da importação, o que era esperado era uma queda de 13% e o resultado foi uma queda de 9,7%. Então, tivemos uma importação melhor do que o esperado, o que denota uma atividade econômica melhor”.

O dado do ano sofreu influência de fatores atípicos registrados em dezembro. No mês, as exportações caíram 5,3%. As importações tiveram alta de 39,9%, mas o dado foi impactado por uma mudança de regras na área de exploração de petróleo. No mês, foram importados US$ 4,7 bilhões em plataformas de petróleo.

Desde o início da pandemia, o ministro Paulo Guedes (Economia) apostou na balança comercial como fator para suavizar a queda do PIB (Produto Interno Bruto).

Em agosto, por exemplo, ele disse que o impacto da crise nas exportações foi praticamente zero —embora naquele momento as vendas ao exterior já registrassem uma queda de 6%.

Apesar das declarações do ministro, os números mostram que o país teve dificuldades nessa área. O saldo do ano, de US$ 51 bilhões, veio pior do que a projeção do governo, que estava em US$ 55 bilhões.

A corrente de comércio, que soma os valores vendidos e comprados, recuou 7,7%, totalizando US$ 368,9 bilhões. Esse indicador é considerado o mais importante pela equipe econômica porque mede o dinamismo do comércio exterior do país.

A avaliação do ministro da Economia estava certa no ponto em que afirmava que as vendas de alimentos do país seguiriam em alta. Em 2020, as exportações do setor agropecuário somaram US$ 45,3 bilhões, uma elevação de 6% na comparação com o ano anterior.

O movimento de expansão não foi observado em outras áreas. A indústria de transformação recuou 11,3% no período. No caso da indústria extrativa, que inclui minérios e petróleo, a retração no valor das vendas ao exterior foi de 2,7%.

No recorte por regiões, a maior parte dos países comprou menos produtos brasileiros em 2020.

Houve retração de 27,2% das exportações para os Estados Unidos e recuo de 13,5% para a União Europeia. As vendas para países da América do Sul caíram 18,3%.

Para a China, no entanto, o valor da exportação registrou alta de 7,3% no ano. Com o aumento, a participação dos chineses saltou para 33,4% de todo o valor exportado pelo Brasil. No ano passado, o patamar era de 29,2%.

As expectativas do governo para este ano são positivas, mas ainda insuficientes para recuperar as perdas de 2020.

A projeção oficial aponta para uma alta de 5,3% das exportações e de 5,8% das importações no fechamento de 2021. A corrente de comércio, na avaliação do governo, deve chegar a US$ 389,2 bilhões, valor ainda inferior aos US$ 402,7 bilhões observados em 2019.

Para a balança comercial, é esperada ligeira melhora em relação a este ano, com saldo positivo de US$ 53 bilhões.

Na avaliação do economista do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Renato Baumann, o resultado de 2020 não trouxe surpresas, mas tem fatores preocupantes. Entre eles, o desempenho ruim da indústria de transformação.

“É o setor que mais transmite progresso técnico. Isso mostra uma baixíssima competitividade, uma perda da competitividade brasileira”, disse.

Para Baumann, uma melhora efetiva do comércio exterior brasileiro depende de medidas amplas e complexas, como a reforma tributária, ações para melhorar a produtividade e abertura comercial com reavaliação de tarifas.

Embora não acredite em grandes mudanças no comércio do país em 2021, ele afirma que uma provável recuperação da economia mundial pode beneficiar o Brasil.

“A chegada da vacina contra a Covid-19 deve ter impacto positivo no setor de serviços, que foi o que mais sofreu. Deve beneficiar um pouco os outros setores, mas sobretudo o setor de serviços”, disse.

A depender da previsão do governo, o câmbio deve continuar favorável aos exportadores em 2021. Pela estimativa oficial, o valor médio da moeda americana deve ficar em R$ 5,10 neste ano. No encerramento de 2020, estava em R$ 5,19.

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