Descrição de chapéu inflação

Disparada no IGP-M deixa investidor sem saída, e diversificação é alternativa

São poucos os ativos atrelados ao índice, que saltou 23,14%, mas boa parte das contas adota indicador

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São Paulo

Após anos de estabilidade no Brasil, o IGP-M, o Índice Geral de Preços do Mercado, tinha passado para o segundo escalão dos indicadores. No meio da pandemia, porém, foi ele que ligou a luz amarela para a economia ao medir a alta nos preços de matérias-primas. Fechou 2020 com um aumento acumulado de 23,14%.

De um lado, ele raramente é usado como referência nos investimentos, que tendem a seguir o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação. De outro lado, porém, é o indicador para reajustes de serviços importantes, como planos de saúde, e também dos aluguéis. É impossível fugir de seus efeitos.

O IGP-M é calculado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) e leva em conta a inflação ao produtor (60%), do consumidor (30%) e da construção civil (10%). Com um peso maior do aumento de preços percebidos por produtores, ele detecta altas que muitas vezes não são repassadas ao consumidor e não chegam ao IPCA.

O IPCA, por sua vez, é elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e mede a inflação de um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo e consumidos por famílias de até 40 salários mínimos.

O salário mínimo e os benefícios previdenciários, porém, seguem um terceiro índice, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que abrange uma faixa salarial mais baixa que a do IPCA, de até 5 salários mínimos.

Enquanto o IGP-M disparou 23,14% em 2020, o maior aumento em 12 anos, o IPCA teve alta de 4,52% no ano passado e o INPC, de 5,45%, ficando, até agora, acima do reajuste de 5,26% do salário mínimo.

O IGP-M também impacta contas de telefonia e eletricidade e é base para a atualização de preços de educação.

Para escapar da inflação, os especialistas costumam recomendar aplicações que rendam acima do IPCA. O problema é que, em 2020, o próprio IPCA ficou distante do aumento de preços que muitos brasileiros sentiram no bolso.

Para acompanhar o IGP-M, são poucas as opções. O título do Tesouro atrelado ao índice não é mais emitido pelo governo desde 2006.

Ainda existem duas emissões em negociação no mercado secundário (entre investidores), a de vencimento em 1º de abril deste ano e a de 1º de janeiro de 2031, que renderam 25,08% e 24,38% nos últimos 12 meses, respectivamente.

O tesouro IGP-M 2021 é negociado a R$ 5.308. O de 2031 está a R$ 8.966 cada, em média.

Porém, comprá-los não é fácil, já que seus donos raramente estão dispostos a vendê-los. Segundo especialistas, tampouco é interessante no momento.

“A tendência é de desaceleração na alta do IGP-M. Por outro lado, o IPCA pode ficar mais elevado”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

Segundo ela, o IGP-M foi pouco repassado aos consumidores pelo contexto econômico, algo que não deve se repetir em 2021, impactando o IPCA.

Por outro lado, o IGP-M subiu muito em 2020 pela forte alta do dólar, que disparou 29,27% no período.

Caso se concretize a expectativa do mercado (medida no boletim Focus) de Selic (taxa básica de juros) em 3,25% ao fim de 2021, o real deve se valorizar em relação ao dólar.

Com a Selic no atual patamar de 2% ao ano, dólares deixam o país pelo carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior.

Caso o juro suba para 3,25% em um cenário de juro próximo de zero nos EUA e na Europa, o Brasil volta ao radar de investidores, que podem trazer dólares, reduzindo a taxa de câmbio e a inflação. “Não é provável que o descolamento IPCA e IGP-M nessa magnitude [de 2020] aconteça de novo”, diz Evandro Buccini, diretor de renda fixa e multimercados da Rio Bravo Investimentos.

Ele atribui a forte alta de preços do mercado à pandemia de Covid-19, na qual o dólar subiu, insumos faltaram e preços internacionais subiram.

Bruno Musa, economista e estrategista da Acqua Investimentos, concorda. “IGP-M nas nuvens e alta nos alimentos são pontuais”.

Por mais que um IGP-M alto não esteja no radar para 2021, a disparada de 2020 ainda faz efeito. A associação que representa os donos de pequenas lojas em shoppings lançou a campanha #NãoConsigoRespirar, que pede a substituição do IGP-M pelo IPCA como base do reajuste dos aluguéis.

Ele atribui a forte alta de preços do mercado à pandemia de Covid-19, na qual o dólar subiu, insumos faltaram e preços internacionais subiram.

Segundo José Raymundo de Faria Júnior, planejador financeiro CFP pela Planejar, quem teve um reajuste pelo IGP-M no aluguel —e pesou no bolso— deve negociar com o proprietário ou a imobiliária. “Se não houver um acordo, pode ser necessário ajustar orçamento, ou se mudar”.

Ele afirma que a reserva de emergência —no mínimo seis meses de gastos alocados em renda fixa de liquidez diária— não deve ser gasta nisso.

Para proteger o patrimônio da inflação, os especialistas recomendam diversificar o portfólio com títulos do Tesouro IPCA e fundos, além de títulos de dívida com rendimento atrelado ao IPCA.

Outras opções também são fundos imobiliários e CRIs (certificados de recebíveis imobiliários). A depender do ativo em questão, sua rentabilidade pode estar ligada a recebimento de aluguéis e, consequentemente, aumentar em caso de reajuste.

Na diversificação, o dólar é uma alternativa, já que a inflação, especialmente a do IGP-M, é impactada pela moeda.

Ações ligadas a prestadoras serviços que tendem a ter ajustes com base na inflação, como planos de saúde e conta de luz, ou de alimentos, são outra maneira de driblar o aumento dos preços e proteger o valor do patrimônio.

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