Listas de bilionários mostram que dinheiro muda de mão devagar no país

Ao longo da década de 2010, grupos tradicionais concentraram riqueza no Brasil; dinamismo do mercado de capitais diversifica geração de riqueza

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São Paulo

A roda da fortuna é a carta do tarô que representa os altos e baixos da vida e pode ser usada como analogia sobre como as grandes fortunas trocam de mãos ao longo da história à medida que a economia se transforma. No caso do Brasil, a roda gira muito lentamente.

O economista Pedro Belisário, professor do Ise Business School, afirma que as famílias ricas no país, no geral, aumentam ainda mais o seu patrimônio ao longo dos anos.

Belisário ampara a afirmação em dados de pesquisas que realizou em 2018 e 2019 sobre Single Family Offices no país.

Um family office é uma empresa que gerencia os investimentos e o patrimônio de uma família rica. O serviço chamado single é ainda mais exclusivo e voltado para famílias com grande patrimônio. “A impressão é que, de fato, o dinheiro não muda de mão”, afirma Belisário.

 Lançamento da nova nota de R$200,00 no Banco Central. Colecionadores de notas fazem fila para serem os primeiros a adquirir a nova cédula. José Martins mostra as cédulas adquirida
O dinheiro muda de mão muito lentamente no Brasil - Pedro Ladeira/Folhapress

A revista Forbes Brasil, que traz o ranking de bilionários nascidos no país, reforça essa percepção. Uma comparação entre a lista da primeira edição brasileira, de 2012, e a da edição mais recente, de 2020, sinaliza o enriquecimento da tradição.

Quatro empresários permaneceram entre os dez mais ricos e elevaram o seu patrimônio no período. O banqueiro Joseph Safra, que morreu no início de dezembro de 2020, era o primeiro colocado ao final da década, com um patrimônio de R$ 119,08 bilhões. Em 2012, figurava na terceira posição, com R$ 25,97 bilhões.

O empresário Jorge Paulo Lemann, do fundo 3G Capital, que controla empresas como AB InBev e Americanas, é o segundo colocado nas duas listas. Em 2020, seu patrimônio foi registrado com R$ 91 bilhões, enquanto em 2012 era de R$ 29,30 bilhões.

Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, sócios de Lemann, também estão na duas listas. Em 2020, Telles estava em quarto, com patrimônio de R$ 54,08 bilhões, e Sicupira era quinto, com R$ 42,64 bilhões. Em 2012, estavam, respectivamente, em quinto (R$ 13,43 bilhões) e sétimo (R$ 11,87 bilhões).

Duas pessoas figuram como estreantes entre os top 10 em 2020. Na sexta colocação, Alexandre Behring, outro sócio de Lemann, Telles e Sicupira. Patrimônio: R$ 34,32 bilhões.

Em nono apareceu o empresário Ilson Mateus, dono do Grupo Mateus, rede de varejista das regiões Norte e Nordeste. Com patrimônio avaliado em R$ 20 bilhões, Mateus teve uma ascensão atípica entre seus pares. Começou como garimpeiro e virou história de sucesso quando levou sua empresa a uma histórica abertura de capital na Bolsa, em 2020.

Ainda estão entre os dez, na terceira colocação, o cofundador do Facebook Eduardo Saverin, com R$ 68,12 bilhões, depois que sua fortuna subiu 61% em relação ao ano anterior.

A empresária Luiza Helena Trajano, principal acionista do Magazine Luiza, subiu 16 posições no ranking de bilionários, com patrimônio de R$ 24 bilhões, e se tornou a mulher mais rica do Brasil.

Luiza e Mateus são vistos como sinais da mudança em um setor da economia. “De 2012 para cá, o varejo cresceu e se concentrou em algumas empresas. Isso tem a ver com a mudança de comportamento do consumidor”, afirma Belisário, professor do Ise.

No caso do Magazine Luiza, faz diferença também a questão do avanço tecnológico, representado pelo marketplace, por exemplo. Ele afirma que o modelo de negócios do Magalu, que oferece a plataforma de vendas para que outras empresas e pessoas, mudou o consumo no Brasil e colocou a empresa em outro patamar.

“Hoje, as ações do Magazine Luiza valem 200 vezes mais do que há dez anos, então, a Luiza aumentou —e muito— seu patrimônio”, afirma.

Existe até a percepção de que o mercado de ações pode fazer a roda da fortuna girar mais depressa e diversificar a geração de riqueza no Brasil.

“Com o boom de mercados de capitais, vemos agora uma série de empreendedores de sucesso criando enorme riqueza em pouco tempo”, diz Ricardo Lacerda, diretor-presidente do BR Partners Banco de Investimento, especializado em assessoria a grandes empresários.

“A mobilidade empresarial cresceu muito desde a década de 1990, quando a riqueza do país era ainda concentrada em poucos grupos.”

Os dois nomes restantes da lista de 2020 reafirmam o momento econômico brasileiro. O banqueiro André Esteves, na sétima colocação, com R$ 24,96 bilhões, cresceu com a procura por diversificação de investimentos. Em 2012, Esteves era o 11º, com R$ 6,24 bilhões.

Por fim, o empresário Luciano Hang, da Havan, outro do setor de varejo, completa a lista. Ele ficou em décimo, com R$ 18,72 bilhões.

As operações deflagradas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal tiraram da lista duas pessoas que eram destaque em 2012. O primeiro colocado daquele ano, Eike Batista, tinha patrimônio de R$ 30,26 bilhões. Depois, teve problemas com suas empresas antes de ser preso, em 2017, acusado de corrupção.

E em oitavo estava Norberto Odebrecht e família, com R$ 9,10 bilhões. O Grupo Odebrecht, rebatizado de Novonor, está em recuperação judicial, considerada a maior da história do país, com dívidas estimadas em R$ 98,5 bilhões.

Outras duas pessoas que estavam em 2012 morreram, e o dinheiro foi dividido entre os herdeiros, que em sua maioria também seguem na lista, mas em posições mais baixas.

É o caso de Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, que morreu em 2014 e estava em quarto lugar, com R$ 21 bilhões. Assim como Francisco Ivens de Sá Dias Branco, então presidente do conselho de administração da indústria alimentícia M.Dias Branco. Seu patrimônio era de R$ 7,2 bilhões.

Completam a lista de 2012 Roberto Irineu Marinho, da Rede Globo, em sexto lugar, com patrimônio de R$ 12,86 bilhões, que passou a 22º, com R$ 12,06 bilhões. E Abilio Diniz, na décima posição, com R$ 6,80 bilhões. Em 2020, Diniz foi o 21º colocado, com R$ 12,48 bilhões.

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