Descrição de chapéu
5g em debate tecnologia

No tabuleiro para o 5G, mover uma peça obriga a mexer nas outras

Somente com visão integrada prosseguiremos em ambiente financeiramente sustentável, tecnologicamente avançado e juridicamente seguro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Mario Girasole

Vice-presidente de Regulação, Institucional e Imprensa da TIM

Em mais de três décadas de desenvolvimento, a telefonia móvel nos habituou a um progresso por gerações, sintetizado com um número ordinal antes da letra G.

Sabemos que a primeira geração, o 1G, foi caracterizada por sistemas analógicos de baixa capacidade, que correspondiam a uma ideia de telefone celular como bem quase luxuoso.

O 2G introduziu a transmissão móvel digital e a eficiência necessária para tornar o serviço móvel um serviço de massa.

O 3G marcou a evolução do serviço de voz para o serviço de dados, e o 4G consolida o smartphone como meio de acesso a serviços e conteúdos na internet.

Instalação de equipamento para uso da tecnologia 5G, em Orem, Utah, Estados Unidos, em novembro de 2019 - AFP

O salto da evolução para o G sucessivo sempre foi baseado num equilíbrio de fatores industriais, regulatórios e de política pública.

Do lado industrial, o amadurecimento tecnológico e a ampla disponibilidade de equipamentos e terminais foram os requisitos fundamentais para construir infraestruturas e oferecer novos serviços a preços acessíveis.

Paralelamente, a principal agenda regulatória esteve na disponibilização de novo espectro, recurso por definição escasso e insumo fundamental para o planejamento das novas coberturas.

Por fim, o papel da política pública visou a criar os incentivos para os investimentos que transformassem a inovação tecnológica em benefício real para a população.

Em comparação com essas três dimensões do tabuleiro tradicional, a transição do 4G para o 5G apresenta complexidades adicionais. Poderíamos tomar emprestado o título do célebre livro de Reinhart e Rogoff para dizer que “desta vez é diferente”.

Em primeiro lugar, uma parte significativa do potencial 5G não chegará às mãos dos consumidores diretamente por meio das operadoras, mas por meio da evolução digital de outros setores estratégicos, como medicina, transporte, logística, educação e indústria 4.0.

Portanto, as políticas públicas de telecomunicações e de outros setores deveriam ser coordenadas numa estratégia unificada de digitalização, como alavancas integradas para a inovação e o crescimento.

O mesmo vale para as redes. Estima-se que o 5G exigirá cinco vezes mais antenas que o 4G. Certamente serão antenas menores, mas hoje o setor ainda enfrenta no nível local diversas barreiras ao licenciamento de estações. É preciso avançar num pacto intersetorial de planejamento da infraestrutura.

Pelo lado da tecnologia, o verdadeiro 5G só chegará com a nova frequência, e podemos dizer, simplificando, que apresenta dois padrões.

O primeiro é ainda dependente do 4G e se desenvolve em cima dos fornecedores existentes. O segundo é o 5G chamado de stand-alone (SA), uma rede nova, paralela, que é aquela que entrega todos os requisitos almejados pelo padrão de quinta geração.

Adicionalmente, o 5G SA facilita a adoção de uma solução chamada Open RAN, que permite o desacoplamento entre fornecedores de software e hardware, bem como a combinação entre distintos fornecedores.

Esse caminho de arquiteturas abertas e independentes vislumbra duas grandes oportunidades. Uma é para a indústria de tecnologia brasileira, que, de princípio, não cobre toda a cadeia, mas tem tudo para desenvolver uma camada cada vez mais potente na indústria de software.

A outra é, ao eliminar a dependência das redes legadas e seus fornecedores, a perspectiva de atender aos anseios geopolíticos de definir mecanismos de controle e segurança, sem ter de arcar com o custo de se privar de fornecedores competitivos.

Por fim, o 5G chama uma importante reflexão sobre o princípio da neutralidade da rede, pelo qual qualquer pacote de dados trafegado deveria ser tratado de forma igual.

Ocorre que uma das características fundamentais da rede 5G é o network slicing —fatiamento—, que permite atribuir a cada serviço os recursos de rede necessários. Funcionalidade que é tudo, menos neutra.

O tabuleiro do 5G é, portanto, mais complexo e, além de hospedar novas dimensões, requer o conserto de antigas.

Movimentar uma peça obriga a mexer nas outras e, somente com uma visão integrada e equilibrada, prosseguiremos em um ambiente financeiramente sustentável, tecnologicamente avançado e juridicamente seguro.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.