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Bolsonaro liga alerta para investidor que tem ações de estatais

Parte delas é boa pagadora de dividendos, mas é preciso ter no radar que podem sofrer intervenção política

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São Paulo

As falas mais recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que sinalizaram interferência na gestão das empresas que estão sob o controle da União, geraram instabilidade no mercado financeiro e evidenciaram a exposição que essas companhias têm ao chamado risco político.

Em 19 de fevereiro, uma sexta-feira, Bolsonaro anunciou a indicação do general Joaquim Silva e Luna para substituir Roberto Castello Branco na gestão da Petrobras. Na segunda-feira seguinte, as ações da companhia chegaram a cair mais de 20% ao longo do pregão. Apenas nesses dois dias, a petroleira perdeu R$ 102,5 bilhões em valor de mercado.

O temor de uma interferência política ainda maior respingou nas ações de outras empresas estatais –como Eletrobras, Banco do Brasil e Sabesp– que também apresentaram quedas naquela segunda-feira.

O presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia de sanção da lei de autonomia do Banco Central - Evaristo Sa-24.fev.21/AFP

O Banco do Brasil voltou a ser penalizado na sexta-feira (26), quando circulou a informação que o presidente da instituição, André Brandão, teria colocado o cargo à disposição do presidente Bolsonaro. Ao final do pregão, as ações acumulavam queda de 4,92%, cotadas a R$ 28,05.

Brandão estaria se antecipando, pois a sua demissão é considerada certa para algum momento em março. Bolsonaro já manifestou a intenção de substitui-lo, especialmente após Brandão promover, em janeiro, ajustes no banco que incluíram o fechamento de agências e um plano de demissão voluntária. O banco divulgou comunicado na sexta negando o pedido.

O movimento, que continuou ao longo da semana, trouxe outros dias de perdas para as ações das empresas sob controle do governo e tem, cada vez mais, afastado investidores dessas companhias.

"Uma das coisas negativas de investir em estatais é que sempre existirá o risco de ter interferência do governo. Além disso, por servirem ao Estado, o objetivo dessas companhias não é apenas dar lucro, mas ter um lado social, o que normalmente implica em uma defasagem operacional em relação aos seus pares privados", afirmou o analista de ações da Easynvest, Murilo Breder.

Para o investidor, isso significa que as ações dessas companhias podem ser negociadas com desconto –ou seja, um valor mais baixo do que aquela empresa realmente vale. As oscilações vão depender de quem está no cargo de presidente da República, de suas relações partidárias e do quão pró-mercado é a agenda dessa gestão.

Essas ações também costumam ser mais baratas em relação aos papéis dos pares privados ou internacionais (caso da Petrobras).

Segundo Breder, a recomendação é que as empresas estatais representem no máximo 30% da carteira de ações.

Neste momento de intervenções em estatais federais, os investidores passaram também a considerar os riscos de interferência política nas estatais estaduais, como Cemig, Copel, Copasa e Sanepar. Na sexta, essas companhias encerraram a sessão com quedas de 0,08%, 1,63%, 3,48% e 2,70%, respectivamente.

Segundo o sócio da Rio Gestão de Recursos, André Querne, ainda que empresas estatais possam ser grandes pagadoras de dividendos –principalmente no caso de Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil–, os investidores precisam fazer uma análise mais aprofundada dessas companhias antes de optar por investir em suas ações.

"É preciso ter uma análise mais profunda, até porque o dividendo, dependendo da tomada de decisão do governo e da empresa naquele momento, pode diminuir muito", disse.

Os dividendos são partes do lucro de uma empresa e são distribuídos conforme um calendário informado pela companhia, indicando o que o mercado chama de "Data Com" e "Data Ex".

A Data Com representa o último dia que o investidor deve ter posição na empresa para poder ter o direito de receber dividendos. Caso ele venda sua participação antes dessa data, não receberá o provento.

Já a Data Ex –ou ex-dividendos– é o dia útil seguinte à Data Com. A partir desse dia, o investidor que comprar a ação não terá direito a receber dividendos por um período.

Na última quarta-feira (24), por exemplo, a Petrobras anunciou que seu conselho de administração aprovou uma remuneração sob a forma de dividendos de R$ 10,3 bilhões –o equivalente a R$ 0,7846 por ação em circulação.

No caso de Petrobras, a Data Com é 14 de abril –ou seja, este é o último dia para que o investidor tenha ações da petroleira na carteira e possa receber dividendos. Se alguém comprar a ação no dia seguinte, só terá direito ao dividendo quando a Petrobras anunciar uma nova rodada de distribuição, e não mais ao resultado referente a 2020.

Isso não significa, necessariamente, que o investidor precise segurar as ações da companhia até essa data –ele pode vendê-las se encontrar uma oportunidade de realizar lucros e recompra-las até o dia 14 para obter o direito aos proventos, por exemplo.

A Data Com da Eletrobras foi em 3 de fevereiro e a do Banco do Brasil, em 22 de fevereiro.

Segundo o economista da Órama, Alexandre Espírito Santo, a estratégia também precisa contar com uma análise sobre qual o prazo de investimento.

"De modo geral, qualquer investimento em ações precisa acontecer de olho no médio e longo prazo. E é preciso entender, também, que Bolsa de Valores não é cassino. A especulação faz parte do jogo, mas é preciso ter conhecimentos sobre o mercado, finanças e economia antes de seguir essa onda", afirmou.

Os analistas afirmam, ainda, que o investidor também precisa conhecer o seu perfil –saber se é conservador, moderado ou arrojado– para alocar seus recursos conforme seu apetite para risco.

"Quem investe na Bolsa, tem que ter paciência e entender que preços variam e que não adianta vender e comprar na emoção. Além disso, a carteira precisa ser diversificada", afirmou Breder.

Erramos: o texto foi alterado

A palavra "tem" foi grafada incorretamente no título da reportagem. O texto foi corrigido.

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