Descrição de chapéu Financial Times

Buffett adverte sobre 'futuro sombrio' para investidores em dívida

Em sua carta anual, o megainvestidor recomenda evitar o mercado de renda fixa

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Eric Platt
Nova York | Financial Times

O empresário Warren Buffett advertiu que os investidores em títulos de dívida enfrentarão um "futuro sombrio". A declaração ocorre dias depois que uma liquidação esmagou os títulos públicos americanos, impondo uma forte desvalorização que chegou a reverberar em todas as Bolsas globais.

O executivo-chefe da Berkshire Hathaway, de 90 anos, disse aos acionistas, em sua muito esperada carta anual, que era melhor evitar o mercado de renda fixa, no qual sua própria companhia é um grande ator.

"Os investidores em renda fixa no mundo todo –sejam fundos de pensão, empresas de seguros ou aposentados– enfrentam um futuro sombrio", escreveu ele.

"Os competidores, por motivos regulatórios e de classificação de crédito, devem se concentrar em títulos públicos. E os títulos não são o melhor lugar para se estar hoje", afirmou

Bilionário e megainvestidor Warren Buffett - Rick Wilking/Reuters

Os papéis do Tesouro americano caíram drasticamente na semana passada, conduzidos por mudanças de humor dos investidores que pedem juros mais altos diante do cenário de retomada econômica mais rápida, movida especialmente por estímulos dos governos.

O otimismo em torno da expansão global também reavivou temores sobre uma alta da inflação, embora incipiente, e a perspectiva de que os bancos centrais possam ter de rever suas políticas de estímulo.

Muitos investidores se mobilizaram para ajustar seus portfólios antes da liquidação de títulos do Tesouro nesta semana, comprando dívida de menor qualidade, mas com retornos maiores.

Buffett avisou no sábado (27) que vê com preocupação o movimento de seguradoras e compradores de títulos para "aumentar os retornos patéticos hoje disponíveis, modificando suas aquisições para obrigações apoiadas por mutuários abalados".

"Os empréstimos arriscados, entretanto, não são a resposta para taxas de juros inadequadas", disse ele. "Três décadas atrás, a antes poderosa indústria de poupança e empréstimos se destruiu, em parte, por ignorar essa máxima."

A avaliação pessimista do mercado de dívida soberana acompanhou os resultados da Berkshire no quarto trimestre, que mostraram um lucro líquido da companhia quase 23% maior que o do ano anterior, em US$ 35,8 bilhões (cerca de R$ 198 bilhões), ou US$ 23.015 (R$ 127.263) por ação classe A.

O aumento foi produzido por ganhos sobre investimentos e apostas em derivativos, enquanto o mercado de ações mais amplo dos Estados Unidos avançava nos últimos três meses de 2020.

As regras de contabilidade exigem que a Berkshire relate mudanças no valor de seus investimentos em ações de companhias como Apple, Coca-Cola e Verizon, como parte de seus rendimentos trimestrais, o que resulta em grandes oscilações a depender da direção do mercado.

As empresas que sustentam a Berkshire mostraram certa resiliência no final do ano passado, com seus lucros operacionais aumentando quase 14%. No ano inteiro, que incluiu os efeitos colaterais da crise do coronavírus, os lucros operacionais caíram 9% em relação ao ano anterior, para US$ 21,9 bilhões (R$ 121 bilhões)

Buffett dirigiu grande parte do poder de fogo da companhia no quarto trimestre para a recompra de ações da Berkshire, gastando US$ 8,8 bilhões (quase R$ 49 bilhões). No ano todo, ela recomprou US$ 24,7 bilhões (R$ 136,5 bilhões) em suas ações. Isso ajudou a reduzir a enorme pilha de dinheiro da Berkshire de US$ 145,7 bilhões (R$ 805 bilhões) no fim de setembro para US$ 138,3 bilhões (R$ 765 bilhões) no final do ano.

O ancião do mundo dos investimentos usou sua carta anual para reafirmar sua fé na economia dos Estados Unidos, dizendo aos acionistas que o país "avançou" e que eles nunca devem "apostar contra a América".

Enquanto, no passado, ele influiu na direção do país e apoiou a campanha de Hillary Clinton à Presidência em 2016, Buffett não abordou a eleição de Joe Biden à Casa Branca e mencionou apenas de passagem a divisão do país que foi exposta nos últimos quatro anos.

Buffett disse que o progresso na direção de "uma união mais perfeita" foi "lento, desigual e muitas vezes desanimador". Mas acrescentou que o país continuará caminhando à frente.

"Em seus breves 232 anos de existência, porém, não houve uma incubadora para deslanchar o potencial humano como os Estados Unidos", escreveu ele. "Apesar de algumas severas interrupções, o progresso econômico de nosso país foi de tirar o fôlego."

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