Descrição de chapéu juros

Discussão sobre impacto do auxílio emergencial nas contas públicas elevou juros, diz Tesouro

Aumento de custo no longo prazo também sofre efeito de temor de novas variantes do coronavírus

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Brasília

O Tesouro Nacional observou aumento das taxas cobradas por investidores para emprestar ao governo no longo prazo. Os receios sobre o impacto do auxílio emergencial nas contas públicas impulsionaram o movimento, de acordo com os técnicos.

"A curva de juros apresentou alta nas taxas, reagindo às expectativas em relação à política monetária e às discussões sobre a prorrogação do auxílio emergencial e seu impacto nas contas públicas", afirma o Tesouro em relatório mensal sobre a dívida pública publicado nesta quarta-feira (24).

Segundo o documento, o ano de 2021 começou com volatilidade, especialmente no fim de janeiro, e deterioração nos cenários internacional e doméstico. Além da preocupação com as contas públicas, os investidores veem com apreensão a descoberta de variantes do novo coronavírus.

As taxas negociadas pelo Tesouro também sofreram elevação nesta semana, em decorrência do noticiário sobre a troca do presidente da Petrobras a mando do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

"A partir de segunda-feira [22] observamos aumento ao longo de toda a curva de juros, principalmente concentrada em prazos mais longos. Parte desse aumento se corrige nos dias seguintes. Na terça [23], já vimos o mercado corrigindo o excesso", afirmou Luis Felipe Vital, coordenador-geral de operações da dívida pública.

O CDS (Credit Default Swap, indicador de risco do país) de 5 anos registrou aumento, de 140 pontos em dezembro para 174 pontos em janeiro. Pares emergentes também sofreram com maior aversão a risco no primeiro mês do ano, mas com o CDS mais baixo que o Brasil –é o caso de Colômbia (113 pontos), Chile (54), Peru (62) e México (95).

De acordo com o Tesouro, houve ao longo do mês de janeiro elevação nas taxas médias praticadas nos leilões de títulos, embora o custo como um todo ainda permaneça em nível historicamente baixo, principalmente por causa do atual patamar da Selic (2% ao ano).

A elevação em taxas de longo prazo ocorre enquanto há crescente necessidade de endividamento para cobrir o déficit nas contas públicas. A dívida pública federal cresceu 0,99% na passagem de dezembro para janeiro passando de R$ 5,009 trilhões para R$ 5,059 trilhões.

Por outro lado, o prazo médio de pagamento da dívida total subiu de 3,57 anos em dezembro para 3,61 anos em janeiro, reduzindo pressões sobre a rolagem da dívida neste ano. O percentual de vencimentos nos próximos 12 meses diminuiu de 27,57% em dezembro para 27,10% em janeiro.

Segundo Vital, o aumento no prazo é proporcionado pela gradativa melhora nos mercados após o estresse vivido no ano passado. Em 2020, a fuga de risco levou investidores a preferirem prazos mais curtos. "Estamos conseguindo emitir títulos de prazos mais longo, o que é muito saudável para a dívida pública", disse.

A estratégia do Tesouro no ano passado de encurtar os vencimentos também para aproveitar juros mais baratos no curto prazo colaborou para reduzir os preços. O custo médio acumulado da dívida total nos últimos doze meses caiu de 8,37% ao ano em dezembro para 8,29% ao ano em janeiro, o menor da série histórica.

Para fazer frente aos vencimentos, o Tesouro tem usado parte de seu colchão de liquidez. A reserva apresentou redução nominal passando de R$ 881,28 bilhões em dezembro para R$ 805,68 bilhões em janeiro.

Mesmo com a diminuição do colchão, Vital afirma que a situação é confortável para enfrentar os vencimentos de dívida nos próximos meses –principalmente em março e abril, que têm grandes volumes agendados.

Segundo ele, os recursos são suficientes para pagar os próximos seis meses de dívida. Além disso, o Tesouro tem feito leilões de rolagem antecipada da dívida –diminuindo a pressão sobre as obrigações no curto prazo.

"O Tesouro está bastante tranquilo pois temos recursos em caixa mais que suficientes e um instrumento adicional [rolagem antecipada] para suavizar esse movimento. Não há nenhuma preocupação com essas torres maiores [de vencimento] em março e abril", afirmou.

De acordo com o Tesouro, o mês de fevereiro, até o momento, tem sido marcado pela recuperação no mercado externo, com avanço nas discussões de pacotes fiscais em algumas economias e avanço nas campanhas de vacinação, produzindo uma melhora na percepção de risco de emergentes.

Mesmo assim, o CDS do Brasil de 5 anos teve performance pior que os pares emergentes, principalmente em função das preocupações sobre a trajetória fiscal e o ritmo da agenda de reformas.

Enquanto Peru, Colômbia, México e Chile mostraram retração na percepção de risco nas últimas semanas, o Brasil foi na contramão do movimento e viu seu CDS subir de 174 pontos no fim de janeiro para 181 pontos até a última terça.

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