Senado aprova marco legal de startups com fim de balanço de empresa de capital fechado em jornal

Manobra do governo Bolsonaro tira obrigação de empresas fechadas com receita bruta de até R$ 78 milhões de publicar informação em diários

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Brasília

O Senado aprovou nesta quarta-feira (24) projeto de lei que cria o marco legal das startups, com regras e propostas para captar recursos e impulsionar o setor.

Em uma manobra do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o texto inclui um dispositivo que tira a obrigação das empresas fechadas com receita bruta de até R$ 78 milhões de publicar os balanços em jornais de grande circulação.

Essas empresas, portanto, poderão publicar balanços apenas na internet caso o texto aprovado no Senado seja mantido na Câmara e a versão final, sancionada pelo presidente da República. Atualmente, essa desobrigação vale para empresas fechadas com menos de 20 acionistas e patrimônio líquido de até R$ 10 milhões.

A proposta foi aprovada pelos senadores por 71 votos favoráveis e nenhum contrário. Como houve modificações na tramitação no Senado, o projeto vai precisar tramitar novamente pela Câmara dos Deputados.

A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei em dezembro, incluindo a proposta de desobrigação da publicação dos balanços em jornais, que é uma importante fonte de receita da mídia impressa. Na proposta original não constava a questão referente à publicação dos balanços, mas o projeto foi apensado com outro, de autoria do Executivo, que continha a medida. O próprio Bolsonaro já havia tentado em outras oportunidades extinguir essa obrigatoriedade de publicação dos balanços nos jornais.

No Senado, a proposta provocou polêmica e acabou retirada da pauta na terça-feira (23). Senadores solicitaram que o relator Carlos Portinho (PL-RJ) retirasse a medida do projeto de lei.

“Queria aproveitar a boa vontade do nosso querido senador Portinho para apelar que também acate a emenda que, em primeiro lugar, procura retirar desse texto algo que não diz respeito especificamente à matéria. Vossa Excelência relatou um projeto que trata de startups. Aproveitaram, em algum momento, e incluíram um artigo que trata de sociedades anônimas de capital aberto, grandes empresas, já em funcionamento", afirmou o líder do PDT, senador Cid Gomes (PDT-CE).

"Essa tentativa de retirar a obrigatoriedade de publicação dos balanços em jornais de grande circulação é algo que já foi amplamente analisado, discutido nesta Casa. Em 2019, esta Casa entrou em consenso, e foi aprovado pela Câmara que essa questão fosse definida como em transição até 2022. Isso já foi um meio-termo que esta Casa, junto com a Câmara dos Deputados, alcançou", completou o senador.​

A proposta chegou a ser retirada do projeto de lei das startups, com o acolhimento de uma emenda. No entanto, houve protesto de outros senadores. Jorginho Mello (PL-SC), vice-líder do governo no Congresso, afirmou que a manutenção da obrigatoriedade prejudicava as micro e pequenas empresas.

A matéria, no entanto, voltou a ser discutida nesta quarta-feira. Após negociações entre os autores das emendas referentes a esse ponto, a desobrigação voltou a constar no relatório final do projeto de lei, que acabou aprovado.

À Folha, antes da sessão, Portinho afirmou que o projeto de lei apenas manteve o texto que veio da Câmara, em relação a esse aspecto, e que não torna proibido a publicação dos balanços nos grandes jornais e sim apenas “facultativo”.

A proposta havia sido aprovada na Câmara em dezembro do ano passado com um trecho proposto pelo governo que alterava a lei 6.404, de 1976, a chamada lei das S/As, para permitir que companhias fechadas com menos de 30 acionistas e receita bruta anual de até R$ 78 milhões possam publicar eletronicamente demonstrações financeiras e parecer de auditores fiscais, por exemplo.

De acordo com a lei, as publicações dessas empresas têm que ser feitas no diário oficial e em jornal de grande circulação.

O presidente Jair Bolsonaro já havia tentado avançar com propostas semelhantes, buscando encerrar a obrigação de empresas publicarem balanços em jornais. Em agosto de 2019, o Palácio do Planalto editou medida provisória relativa à publicação dos balanços financeiros.

Anteriormente, o próprio presidente havia sancionado uma lei que permitia uma publicação simplificada dos balanços nos jornais e que entraria em vigor a partir de janeiro de 2022.

A MP foi assinada no dia 6 de agosto de 2019, mesmo dia em que o jornal Valor Econômico publicou reportagem que mostrava que Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, despachava no Palácio do Planalto.

"Eu espero que o Valor Econômico sobreviva à medida provisória de ontem", afirmou o presidente no dia seguinte ao episódio. O texto perdeu validade em dezembro do mesmo ano.

Em relação às startups, o novo marco legal tem o objetivo de fomentar o mercado de startups no Brasil, por meio da desburocratização de processos e do aumento da segurança jurídica para investimentos.

O projeto prevê algumas regras e critérios para que as empresas sejam consideradas startups. Por exemplo, elas precisam ter faturamento anual de até R$ 16 milhões e dez anos de existência.

As startups terão processos mais simples para abertura e fechamento dos negócios e terão prioridade para determinas compras públicas e processos licitatórios.

O texto indica que os investidores-anjo não responderão por dívidas das startups. Eles compartilhariam os lucros, mas sem a responsabilização solidária que teriam por fazer parte do capital social da empresa.

O projeto de lei também busca atrair mais investimentos, ao proporcionar segurança aos chamados “investidores-anjo” —que colocam capital nas fases iniciais do negócio. O texto deixa mais claro que esses investidores não podem ser considerados sócios e portanto não devem arcar com eventuais dívidas, por exemplo, em caso de falências.

Uma das mudanças promovidas pelo Senado diz respeito à exclusão de todos os pontos relativos às “stock options”. Esse procedimento consiste em oferecer aos funcionários a possibilidade de compra de ações, como forma de retê-los na empresa.

Portinho afirmou no plenário que essa proposta será trabalhada em outro projeto de lei.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior desta reportagem, empresas de capital fechado com receita bruta de até R$ 78 milhões poderão publicar balanços apenas na internet caso o texto aprovado no Senado seja mantido na Câmara e a versão final, sancionada pelo presidente da República. O texto foi alterado.

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