Serviços têm queda recorde de 7,8% em 2020, diz IBGE

Retração foi pior do que a projetada pelo mercado, que esperava recuo de 3,1%

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Rio de Janeiro

Setor mais afetado pelo distanciamento social, medida adotada para conter a pandemia de Covid-19, os serviços encerraram 2020 com queda de 7,8%, informou nesta quinta-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O resultado é pior do que o projetado pelo mercado. Analistas ouvidos pela Bloomberg esperavam retração de 3,1%.

Considerando apenas o mês de dezembro, o setor de serviços se manteve estável, com recuo de 0,2% em relação ao mês anterior.

Em novembro, o setor havia crescido 2,6%, alta insuficiente para recuperar as perdas decorrentes da pandemia nos meses anteriores.

A recuperação incipiente observada nos últimos meses deve sofrer com o recrudescimento da pandemia, o que coloca um desafio para a retomada econômica —o setor de serviços responde por cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e é o principal empregador da economia nacional.

De acordo com o IBGE, os serviços ainda estão 3,8% abaixo do patamar pré-pandemia. É o único setor que ainda não se recuperou do impacto econômico causado pela chegada da Covid-19 ao país.

A retração observada em 2020 é a mais intensa da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. A queda é pior do que a observada em 2016, ano de recessão, quando o setor recuou 5%. Nos últimos dois anos, os resultados foram de 0% em 2018 e 1% em 2019.

O setor também está 14,5% abaixo do pico da série, em novembro de 2014.

Os ramos mais afetados foram aqueles ligados às atividades presenciais, que sofreram mais restrições em virtude das medidas de distanciamento social.

Segundo o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, o principal impacto veio dos serviços prestados às famílias (-35,6%), impulsionado pelo desempenho ruim de restaurantes, hotéis e outros.

Os serviços profissionais, administrativos e complementares recuaram 11,4%, enquanto os transportes tiveram resultado negativo de 7,7% e informação e comunicação caíram 1,6%.

Apenas outros serviços registraram alta (6,7%), motivada pelo desempenho positivo de corretoras de títulos, valores mobiliários e mercados e administração de bolsas e mercados de balcão organizados.

Segundo o IBGE, a explicação do desempenho positivo desse segmento é que, com a queda recente da taxa de juros, famílias e empresas passaram a procurar outras formas de investimento alternativas à poupança, como produtos de renda variável.

A economista Luana Miranda, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirmou que a elevação da média diária de contaminação e mortes pela Covid-19 deve continuar afetando o desempenho do setor neste ano.

Segundo ela, a sustentação da renda da população será um dos fatores primordiais para ajudar a economia, que deve ter um primeiro trimestre difícil, especialmente pelo mercado de trabalho fragilizado e o avanço do vírus prejudicando o retorno ao trabalho dos informais, categoria que se concentra no setor de serviços.

A solução, diz a especialista, é uma distribuição da vacina mais eficaz e rápida do que o que vem sendo observado. Isso aceleraria o retorno ao consumo, de acordo com a economista.

"Serviços representam 70% do PIB, é o principal componente. Com a forte queda da renda pelo mercado de trabalho deteriorado, tanto informal quanto formal, o remédio principal é a vacinação para conseguir voltar a crescer de forma mais rápida", disse.

O economista Écio Costa, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) também avalia que a vacina é uma das soluções a retomada. "A pandemia ainda está em alta, com mil mortes por dia e o setor de serviços sem contratar. A ênfase nas vacinas é o que vai fazer um grande diferencial para ter a retomada mais forte", afirmou.

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