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Beatriz Bevilaqua

Ambiente de startups parece mágico, mas burnout em mentores é alerta à comunidade

As empresas crescem de maneira exponencial e nós, de carne e osso, podemos não acompanhar esse ritmo frenético

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Beatriz Bevilaqua

É jornalista e comunicadora de startups

A pandemia acelerou a digitalização dos negócios, alterou o comportamento do consumidor e abriu ainda mais espaço para as novas tecnologias —não à toa tivemos recordes de investimentos em nossas startups brasileiras. No ano passado, as empresas de inovação do país receberam ao todo U$ 3,5 bilhões, 17% a mais que os U$ 2,97 bilhões de 2019.

Acredito que este ano não será diferente. O mercado está bastante aquecido e é possível que muitos novos unicórnios, como chamamos as empresas com valor de mercado de 1 bilhão, surjam ainda neste primeiro semestre.

O ambiente de startups parece mágico, mas a verdade é que, há tempos, tenho visto presidentes-executivos no fundo do poço. São pessoas talentosas, criativas e com paixão. Que dão o melhor de si, mas que se esquecem da ferramenta mais importante que possuem: o hardware da própria mente.

As conexões sociais são um dos pilares mais importantes e poderosos para proteger a nossa mente. Várias pesquisas apontam o aumento de transtornos mentais durante a crise da Covid-19 em todo o mundo. Um deles é a síndrome de burnout, que apresenta sintomas similares aos da ansiedade e da depressão. A diferença é que o fator determinante para essa síndrome é única e exclusivamente o trabalho.

Numa tradução livre do inglês, burnout significa “totalmente queimado”. O corpo queima os fusíveis e desliga para evitar uma sobrecarga fatal do sistema. É um nível de estresse extremo que leva o profissional à exaustão física e mental.

Com o isolamento social, é muito mais fácil as pessoas mergulharem profundamente e sem qualquer restrição no home office. O trabalho antes “full time” foi substituído pelo “full life” —muitos já não conseguem separar vida profissional e pessoal. Você vai se desconectando do próprio corpo, despersonalizando-se, e não ouve os primeiros sinais de exaustão, como dores de cabeça e insônia recorrente.

Em 2018, bem antes da pandemia, já havia informado sobre a situação fazendo entrevistas com fundadores, mentores e investidores que tinham chegado ao limite do esgotamento psíquico, como um alerta à comunidade.

Naquela época, segundo uma estimativa da Internacional Stress Management Association, 32% dos profissionais sofriam com esgotamento no ambiente de trabalho. Outro levantamento, realizado em nove países pela mesma associação, mostrou que o Brasil ocupava o segundo lugar em nível de estresse no ambiente de trabalho, ficando atrás somente do Japão.

Com a Covid-19, tenho a percepção de que o trabalho tem sido realizado de maneira ainda mais intensa. Os profissionais se submetem a semanas seguidas de trabalho excessivo, sem qualquer pausa, com alimentação por fast-food e ganho de sobrepeso, sem a prática de nenhum exercício físico e se afundando em um projeto atrás do outro.

Trabalhamos com tecnologia, mas não somos robôs. Temos emoções e às vezes elas gritam dentro da gente pedindo socorro e, se não ouvimos, o corpo dá um jeito de se fazer escutar.

É notável a diferença entre a estrutura de negócio de uma startup e a de empresas tradicionais. As startups crescem de maneira exponencial e nós, de carne e osso, podemos não acompanhar esse ritmo frenético. Com o aumento da digitalização da sociedade pela pandemia, novos desafios surgiram para esses fundadores.

O ambiente de inovação é muito competitivo e existe uma baita pressão. Quem está à frente dos negócios muitas vezes nem consegue cogitar a possibilidade de fazer um intervalo ou se dar um pequeno descanso por causa do sentimento de culpa. Ter estresse é normal e até nos ajuda a tomar decisões no trabalho e na vida pessoal. Em excesso, porém, pode gerar doenças psicossomáticas. Ao insistir, chegamos em nosso limite, que é o burnout.

É preciso entender de uma vez por todas que respeitar o próprio corpo e mente também é cuidar da sua startup e dos seus colaboradores. Respire, medite, dance e reconheça momentos que te façam sentir mais leve com a vida. É preciso se reconectar consigo mesmo, pois cada pessoa tem uma resposta única. Em termos do filme Matrix, é hora de escolher a pílula vermelha. O seu eu do futuro está te implorando por isso.

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