Descrição de chapéu inflação juros

Cesta básica fica 33% mais cara sob Bolsonaro, e lista de compras encolhe

Na pandemia, alta de alimentos é o triplo da inflação; com valor menor, novo auxílio terá poder de compra reduzido

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São Paulo

Nos dois primeiros anos de governo Jair Bolsonaro (sem partido), a capacidade de compra do brasileiro assalariado encolheu. Entre o início deste ano e o mesmo período em 2019, o preço da cesta básica de alimentos subiu 32,56%

Com R$ 100 em janeiro de 2019, o consumidor saía do supermercado com 11 produtos básicos, como arroz, feijão, açúcar e café e ainda poderia levar 1 quilo de carne de primeira, pão francês e queijo muçarela. Até um pacote de biscoito recheado poderia entrar no carrinho.

Em abril de 2020, quando o auxílio emergencial de R$ 600 começava a ser pago, os preços já estavam mais altos e isso exigiu que o consumidor fizesse escolhas.

Com esses mesmos R$ 100, a carne de primeira precisou ser cortada na compra. No lugar, entrou o frango resfriado. Assim, conseguiu manter o mesmo número de itens, mas precisou escolher uma mistura –como os paulistas chamam a proteína– mais em conta.

Quase um ano depois, o paulistano consegue, com os mesmos R$ 100 no bolso, levar mais itens para casa, mas terá de abrir mão das quantidades e fazer mais substituições.

Os 5 kg de arroz terão de ser trocados por 3 kg. O biscoito recheado já não entrará na cesta de compras, e o quilo da muçarela será cortado pela metade. Com as reduções, ele conseguirá manter a compra do frango e levar macarrão e extrato de tomate.

O governo deve retomar os pagamentos do auxílio emergencial em abril, mas em valor inferior. Em média, ele será de R$ 250. Com esse dinheiro, o beneficiário conseguirá comprar, em São Paulo, cerca de 39% de uma cesta completa de alimentos. Na capital paulista, ela custou, em média, R$ 639,47.

Atualmente, o brasileiro gasta em média mais da metade (54,23%) do salário mínimo líquido para comprar a cesta básica. Na cidade de São Paulo, que detém o segundo maior preço pelo conjunto de produtos, o percentual de comprometimento chega a 62,85%.

“Se você pensar em uma família de baixa renda, em que todos são informais, eles já perderam renda na pandemia e agora estão sem o auxílio. As possibilidades vão ficando cada vez mais restritas e o acesso a uma alimentação completa e três refeições vai diminuindo”, afirma Patrícia Costa, supervisora da pesquisa de preços do Dieese.

Homem faz compras em supermercado em São Paulo; preços dos alimentos dispara - Rahel Patrasso/Xinhua

O pacote de arroz com 5 quilos, que há dois anos custava R$ 11,84, em média, na capital paulista, chegou a R$ 24,02 em janeiro. Em apenas um produto, o preço mais que dobrou, segundo a pesquisa feita pelo Dieese com o Procon-SP. O presidente chegou a pedir aos varejistas no ano passado lucro “próximo de zero” após a disparada na preço do arroz.

A alta do preço dos alimentos durante a pandemia foi quase o triplo da inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Enquanto o índice registrou variação de 5,20% nos 12 meses até fevereiro, a alta de preços na cesta de alimentos passou de 20% em 12 capitais brasileiras. Em Florianópolis (SC), por exemplo, o aumento chegou a 29,74%, colocando a capital catarinense como aquela com o maior custo médio.

Com isso, a lista de compras teve que encolher ou mudar para acomodar a mesma renda. “O poder de compra de fato encolheu. A inflação geral ficou em 5%, mas a dos alimentos está em 15% e nossa cesta acumula 24% em São Paulo. A conta não fecha”, diz Patrícia.

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Já em fevereiro, o preço da cesta básica caiu na maioria das capitais, segundo Patrícia, reduzindo o impacto das altas registradas na passagem do ano.

Na avaliação dela, o resultado mostra o efeito da combinação de oscilações sazonais, como o aumento no escoamento de produtos como batata e tomate, com a redução da demanda interna.

Com o fim do auxílio emergencial, milhares de famílias tiveram redução de renda. Os últimos saques foram feitos em janeiro, mas o pagamento terminou em dezembro.

“O auxílio emergencial foi muito importante para que as pessoas continuassem comendo. Em janeiro, você já começa a ver que essa população passa a ter dificuldade de comprar alimentos”, afirma.

Para Patrícia, produtos mais exportados, como as carnes, são aqueles que, neste momento, a população mais pobre tem mais dificuldades para comprar, pois estão com menos oferta interna e preço maior.

“Já vemos as pessoas comprando menos produtos como manteiga e queijo, está havendo menor demanda. No ano passado, houve aumento expressivo no consumo desses alimentos", diz.

O salário mínimo, hoje em R$ 1.100, foi reajustado, na passagem de 2020 para 2021, em índice inferior ao do INPC, outro indicador calculado pelo IBGE e usado como referência para o aumento do piso e das aposentadorias.
A diferença será compensada no ajuste do ano que vem, mas quem recebe o mínimo viverá este ano com R$ 2 a menos até lá.

Até 2019, o governo era obrigado a conceder, além da inflação, a variação do PIB (Produto Interno Bruto) registrada dois anos antes. Com o encolhimento da economia a partir de 2017, essa diferença sumiu, pois o PIB ficou negativo.

Agora, além dos reajustes que não representam aumento de renda, e de um “desconto” de R$ 2, o brasileiro vem enfrentando uma escalada de preços maior em despesas importantes. Os alimentos e bebidas acumulam alta de 14,81% em 12 meses.

O monitoramento de preços da cesta básica de alimentos feita pelo Dieese mostra que de janeiro para fevereiro, o conjunto de produtos subiu 2,69% em João Pessoa (PB), e 2,33% em Curitiba. De dezembro para janeiro, a cesta em Belo Horizonte (MG) havia avançado 4,17%, e 4,05% em Vitória (ES).

Na capital paulista, o levantamento de preços do Dieese com o Procon-SP aponta que os maiores aumentos mensais na cesta vieram de cebola (17,91%), presunto fatiado (10,71%) e batata (8,53%).

Na pesquisa com o órgão de defesa do consumidor, são incluídos também itens de higiene pessoal e produtos de limpeza. O sabão em barra, por exemplo, subiu 11,86% em janeiro.

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