Descrição de chapéu Financial Times

Com bloqueio de Suez, empresas de navegação temem ataques piratas e pedem ajuda aos EUA

Companhias enfrentam perspectiva de alterar percurso de navios para rotas potencialmente arriscadas

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Londres, Tóquio, Seul, Hong Kong e Singapura | Financial Times

Companhias de navegação de diversos países entraram em contato com a marinha dos Estados Unidos sobre a ameaça de pirataria potencialmente agravada que pode surgir caso navios tenham suas rotas desviadas, depois que um navio porta-contêineres encalhou e bloqueou o Canal de Suez.

O incidente, que especialistas em salvamento marinho dizem pode demorar semanas a ser resolvido, forçou o setor a contemplar a possibilidade de manter bilhões de dólares em cargas ancoradas em alto mar, ou desviar navios por rotas longas –e potencialmente arriscadas– em torno da África.

Um porta-voz da 5ª Frota da marinha de guerra dos Estados Unidos disse ao Financial Times que o bloqueio havia resultado em uma série de consultas por grandes companhias de navegação internacionais, nos dois últimos dias, sobre a segurança marítima da região, que tem um histórico de pirataria.

Imagem de satélite da Maxar Technologies mostra encalhe do navio no canal de Suez
Imagem de satélite da Maxar Technologies mostra encalhe do navio no canal de Suez - AFP

Associações asiáticas de empresas de navegação confirmaram as preocupações. Zhao Qing-feng, administrador do escritório da Associação Chinesa de Armadores, sediada em Xangai, disse que a possível mudança de rota de navios despertava preocupações de segurança.

“A África traz o risco de pirataria, especialmente o leste da África”, ele disse, mencionando que os armadores podem precisar contratar seguranças adicionais para os navios.

Willy Lin, presidente do Conselho de Armadores de Hong Kong, disse que, por conta da pirataria na rota africana, navios de guerra das marinhas de diversos países podem ser necessários para proteger o tráfego naval na área.

Os alertas surgem em um momento de alta nas ações das empresas asiáticas de navegação, na sexta-feira, diante da perspectiva de aumentos de preços nos fretes, enquanto executivos contemplam desviar navios pela rota que contorna a África, o que estenderia suas viagens por pelo menos sete dias e envolveria custos adicionais significativos.

A Cosco Shipping, da China, e a Hyundai Merchant Marine, da Coreia do Sul, lideraram a alta de preços de ações na Ásia, com avanços de quase 10%, depois que especialistas indicaram que poderia demorar semanas para remover o porta-contêineres Ever Given.

Embora o leste da África seja a região mais conhecida pela pirataria, houve uma alta no número de embarcações capturadas e outros crimes marítimos no oeste da África, nos últimos meses.

A marinha dos Estados Unidos disse que ainda não surgiram impactos sobre as operações navais na região, mas as empresas estão preocupadas com a possibilidade de que, caso o bloqueio continue, seus navios possam sofrer riscos.

James Wroe, diretor de operações de linhas de navegação da Maersk Asia Pacific, escreveu na mídia social que a decisão de alterar as rotas seria “um risco”.

A Hyundai Merchant Marine já ordenou o desvio do Hyundai Prestige, que está em viagem de Southampton, Inglaterra, para Laem Chabang, na Tailândia, ordenando que o navio não passe pelo Canal de Suez e contorne a África pelo Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. Corretores de transporte marítimo em Singapura e Tóquio disseram que decisões semelhantes de desvio de rotas estavam “iminentes” no caso de diversos petroleiros e outras embarcações.

Navios em viagem de Singapura a Roterdã, Holanda, pela rota do Cabo da Boa Esperança, enfrentam custos adicionais de US$ 400 mil por embarcação no percurso completo, disse Anoop Singh, diretor de pesquisa sobre petroleiros na Braemar ACM, uma empresa de transporte marítimo.

As companhias de navegação estimaram que cerca de 200 navios estivessem parados dos dois lados do Canal de Suez, o gargalo pelo qual cerca de 12% do comércio mundial flui. A rota é crítica para o transporte de petróleo, gás natural e commodities alimentícias de alta demanda, como o café.

Especialistas em salvamento marinho japoneses e holandeses desenvolveram diversas teorias sobre qual seria a melhor maneira de libertar o Ever Given, um formidável desafio técnico que vem sendo complicado pelo clima desfavorável. A Nippon Salvage, que é parte dos esforços de resgate, se recusou a comentar.

Um executivo na Shoei Kisen Kaisha, a companhia japonesa que é proprietária do Ever Given, disse que o foco era desalojar o navio encalhado, mas acrescentou que resolver a situação continuava a ser “extremamente difícil”.

“O mercado está apostando que a questão pode persistir por um bom tempo”, disse Kim Youngho, analista da Samsung Securities. “Se você faz um desvio pelo Cabo da Boa Esperança, provavelmente será necessária uma semana a mais para chegar de Xangai à Holanda... caso haja necessidade de desvio, o custo atual dos fretes deve subir ainda mais.”

A Ocean Network Express, uma joint venture entre as três maiores companhias de navegação japonesas, disse que, embora nada tenha sido decidido com relação a uma mudança de rotas, a situação estava sendo acompanhada atentamente.

A Mitsui OSK Lines, que tem quatro navios-tanques transportando produtos químicos e siderúrgicos à espera em Suez, disse que não estava considerando alterar a rota dos navios, na esperança de que a situação possa ser resolvida em prazo de duas semanas.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

Harry Dempsey , Leo Lewis , Kana Inagaki , Song Jung-a , Hudson Lockett , Nicolle Liu e Stefania Palma
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