Descrição de chapéu juros inflação

Dólar volátil e real desvalorizado pressionam a inflação

Cenário favorável a exportações reduz oferta no mercado interno e encarece componentes importados

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São Paulo

A volatilidade do dólar e a desvalorização do real foram os dois principais fatores de pressão sobre a inflação, encarecendo principalmente alimentos, matérias-primas, roupas e bens duráveis, como eletrônicos.

Sobre os alimentos, o efeito aparece principalmente nos produtos básicos, como óleo de soja, carne, açúcar e café, commodities negociadas em dólar e com participação importante nas exportações feitas pelo Brasil.

“Isso é muito bom para a balança comercial, mas muito ruim para a inflação, porque você desabastece o mercado interno”, diz André Braz, coordenador do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia).

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O dólar valorizado também encarece o que Brasil importa, como componentes eletrônicos, peças e tecidos sintéticos. Há ainda o efeito sobre os combustíveis. No final de fevereiro, o IPC-S, índice calculado pela FGV nas capitais, já colocava a gasolina e o etanol como duas das maiores influências negativas para a variação de preços em São Paulo.

As altas de preços dos combustíveis acabam afetando ainda a cadeia de distribuição de produtos, uma vez que o transporte no Brasil é predominantemente rodoviário.

“O dólar tem um efeito espalhado, não só sobre os bens duráveis –afeta preço de carrro–, e também nos combustíveis. Isso tudo vai ser um desafio para a meta de inflação. Não só a gasolina, também o diesel, que encarece o frete e pressiona a tarifa de ônibus”, afirma o economista.

Braz vê a inflação em aceleração pelo menos até o fim do primeiro semestre, quando deve chegar próximo de 7%.

Os setores que dependem de componentes importados também estão sob pressão. Nem a demanda aquecida em parte do ano passado foi suficiente para dar margem à absorção de custos maiores.

Na indústria de eletroeletrônicos, pelo menos 10% de aumento foi repassado ao preço dos produtos finais devido à pressão cambial. As oscilações mais recentes, porém, ainda não preocupam o setor.

“No ano passado, com a oscilação cambial muito forte, já tivemos aumentos de preços significativos. Mas o movimento das últimas semanas, ainda não. O setor aguarda, até porque a competição é muito acirrada”, diz Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).

No momento, segundo ele, a grande reclamação do setor são os preços e prazos para entrega de papelão e plástico, além do custo do frete marítimo, que chegou a subir 200%. O tempo de deslocamento para a chegada de mercadoria também aumentou, com os navios fazendo mais escalas do que há um ano.

E mesmo quem tem conseguido aproveitar o momento favorável às exportações vê nas oscilações cambiais um obstáculo a resultados melhores.

Em fevereiro, a indústria calçadista brasileira registrou aumento, pelo segundo mês seguido, no volume de pares embarcados para exportação.

Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), diz que o câmbio valorizado “faz parecer” que a conjuntura é boa para o comércio exterior. “Mas só se estivéssemos com estabilidade e não uma variação tão alta quanto está acontecendo. Nossa taxa de câmbio é um eletrocardiograma”.

O executivo afirma que a formação de preços fica sem margem de segurança. No mercado interno, o dólar aparece pressionando os custos de produção, e os preços para o consumidor sobem. “Nosso insumos são dolarizados, de base petroquímica. Então não temos grande vantagem com essa valorização porque está mais caro produzir”.

Na indústria têxtil, Fernando Pimentel, presidente da associação que representa o setor, diz que o câmbio tem um papel importante sobre a formação de preços, mas que a disparada das commodities tem pesado mais.

“O preço em dólar subiu 50% e ainda tem a desvalorização do real. Estamos lidando com mais de 80% de aumento”, diz. “O câmbio aumenta a competitividade das exportações, mas isso não é 100% absorvido porque você tem desvalorização no mundo todo e mais a alta de custos”.

A indústria têxtil também está sentindo o aumento de preços dos fretes, que chegaram a saltar de US$ 1.500, no período pré-pandemia, para US$ 8.000. “E a China também está com problemas de fornecimento, reduzindo e adiando pedidos. Quase 50% do que Brasil importa vem da China”.

Para Pimentel, a volatilidade também tira a previsibilidade dos negócios, atrasando decisões e investimentos. “Agora a demanda começa a fraquejar por conta das novas ondas de restrição e deixam enorme preocupação”.

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