Descrição de chapéu Financial Times inflação juros

Empresas estão preocupadas com inflação nos Estados Unidos

De construtoras a fabricantes de brinquedos, companhias dizem que custos estão aumentando

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Aziza Kasumov Colby Smith Eric Platt
Nova York | Financial Times

Os investidores estão com medo da inflação. Dezenas de empresas dos Estados Unidos dizem que eles têm razão.

Uma lista crescente de empresas está advertindo que gargalos nas cadeias de suprimentos, custos crescentes das matérias-primas e despesas maiores com mão de obra estão começando a morder.

A gigante industrial 3M destacou os custos crescentes do frete aéreo para enviar seus produtos, enquanto o Walmart advertiu sobre o congestionamento nos portos americanos. A fabricante de casas móveis Legacy Homes e a Williams-Sonoma, que fornece as máquinas de café espresso Breville e conjuntos de facas Wusthof, viram um aumento nos preços dos salários. E o fabricante das bonecas Barbie, Mattel, falou sobre maiores custos do plástico, que foram exacerbados pela tempestade de inverno no Texas que desligou as indústrias petroquímicas.

"Os custos estão subindo em todo lugar", disse Ted Doheny, executivo-chefe da fabricante de embalagens Sealed Air. "É alerta 4 para nós agora. É um caso sério."

Pedestres passam pela Times Square, em Nova York - Michael Nagle/Xinhua

Esses primeiros lampejos de inflação —e o fato de que muitas companhias do S&P 500 dizem estar reagindo aumentando os próprios preços— alimentaram um debate entre investidores enquanto a recuperação econômica dos Estados Unidos se acelera. Isso é um sinal de que o tipo de inflação crônica há muito domada pelo banco central dos EUA pode estar perto de ressurgir?

"As pessoas estão pensando que é transitório, ou talvez esperem que seja", disse Peter van Dooijeweert, diretor-gerente de soluções multiativos da Man Solutions. "Porque ninguém sabe realmente o que poderia fazer."

Banqueiros centrais e investidores esperam que a inflação se acelere neste ano, enquanto o estímulo do governo e a demanda acumulada de mais de um ano de restrições sociais bombam a economia americana.

Uma medida de mercado das expectativas de inflação, a taxa de ponto de equilíbrio (break-even) de dez anos chegou a seu nível mais alto desde 2013 na semana passada, a 2,36%. As autoridades do Federal Reserve também aumentaram suas previsões de inflação. Hoje se estima que a avaliação preferida do Fed, o índice central de despesas de consumo pessoal, poderá alcançar 2,2% até o fim do ano, contra 1,4% hoje, segundo as mais recentes previsões do Fed. Há três meses, as autoridades do banco central vinham considerando um aumento de 1,8%.

O Federal Reserve espera que o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA atinja 6,5% neste ano, enquanto outras, como Goldman Sachs, colocam as estimativas de crescimento ainda mais alto, em 7%. O Departamento de Comércio dos EUA já notou um aumento de 2,4% mês a mês em gastos do consumidor em janeiro, contra um declínio de 0,4% em dezembro.

"Quando você tem um crescimento desse tipo, que não vimos em muito, muito tempo, obviamente haverá uma descompensação entre oferta e demanda e, é claro, alguma inflação", disse Raheel Siddiqui, macroestrategista global na Neuberger Berman.

Alumínio, cobre, petróleo e madeira aumentaram nos últimos meses, com a última sendo negociada com altas recordes. O preço do petróleo nos EUA está hoje em torno de US$ 60 por barril. O custo do polietileno, um plástico amplamente usado, aumentou aproximadamente 20% entre o quarto trimestre do ano passado e meados de março, segundo o provedor de dados de cadeias de suprimentos Panjiva. Pesquisas de filiais regionais do Fed mostraram que os fabricantes estão calculando grandes aumentos dos preços de matérias-primas nos próximos seis meses.

"Toda commodity que compramos, ou muitas delas, estão tendo aumentos de preços", disse a investidores Curtis Drew Hodgson, cofundador da Legacy Homes. "Tivemos até de dar aumentos salariais porque hoje, só para fazer as pessoas virem trabalhar, pagamos US$ 1 por hora a mais, além de seus salários."

Os mercados estão nervosos sobre a perspectiva de ressurgimento da inflação, já que ela come os juros pagos pelos títulos e corta o atual valor dos futuros fluxos de caixa das companhias. O rendimento do título do Tesouro para dez anos saltou rapidamente acima de 1,7% neste mês, antes de recuar na semana passada. É o nível mais alto em 14 meses. Enquanto isso, o Nasdaq Composite, pesado em tecnologia, caiu mais de 6% de seu pico de todos os tempos, atingido em fevereiro.

Não está claro para a América corporativa se os preços mais altos vão diminuir quando a produção de matérias-primas aumentar. Vivek Sankaran, executivo-chefe do supermercado Albertson's, disse que enquanto a inflação ficaria acima da tendência no primeiro semestre cairia novamente para 1% a 2% perto do fim do ano.

Aaron Ravenscroft, que dirige a indústria de guindastes Manitowoc, acrescentou que os portos lotados dos EUA fizeram os preços "enlouquecerem". Mas ele comentou que o problema tinha se atenuado um pouco.

Jay Powell, presidente do Fed, até agora desprezou os aumentos de preços, esperando que sejam temporários e propensos a diminuir conforme a recuperação persiste. Ele disse ao Congresso na semana passada que os fazedores de políticas viram o impacto resultante sobre a inflação como "nem especialmente grande nem persistente".

Alguns investidores relutam em concordar tão rapidamente.

Se os aumentos de preços puxados pelas matérias-primas serão um "reinício transitório" ou marcarão um movimento permanente de inflação ascendente "não está realmente claro nesta altura", disse Kathryn Kaminski, estrategista-chefe de pesquisa na AlphaSimplex. "Esse negócio leva um tempo para repercutir, mas está dando o alarme."

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.