Governo 'falhou miseravelmente' em adquirir vacinas, afirma fundo gerido por Stuhlberger

Atraso na vacinação custa vidas e prejudica economia diz relatório do Verde, que elevou posições no câmbio

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São Paulo

Em sua carta a cotistas referente ao mês de fevereiro, o fundo Verde, gerido por Luis Stuhlberger, critica a gestão do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) quanto à aquisição de vacinas contra a Covid-19.

"O governo falhou miseravelmente em adquirir as vacinas da Pfizer, Moderna, Johnson & Johnson, só agora, no auge da segunda onda, está buscando fechar as compras. Tal atraso em proteger a população aparece a olhos vistos, e tem consequências óbvias tanto em termos de vidas quanto em termos econômicos", diz a carta do Verde.

Como a Folha mostrou no domingo (7), o governo brasileiro rejeitou no ano passado proposta da farmacêutica Pfizer que previa 70 milhões de doses de vacinas até dezembro deste ano. Do total, 3 milhões estavam previstos até fevereiro, o equivalente a cerca de 20% das doses já distribuídas no país até agora.

"É inacreditavelmente mais barato comprar vacinas do que fazer mais gastos fiscais –que vem com endividamento, mais inflação, juros mais altos, etc.", continua o documento.

O gestor do fundo Verde, Luis Stuhlberger
O gestor do fundo Verde, Luis Stuhlberger; carta do fundo de fevereiro critica governo Bolsonaro - Anna Carolina Negri/Valor/Agência O Globo

Segundo a carta, o fundo aumentou as posições em ativos de proteção, especialmente no câmbio. "A situação está mais complicada".

De acordo com o fundo, a desvalorização do real é "a métrica mais óbvia das consequências, em termos de empobrecimento do país", do atraso na vacinação, do aumento do risco fiscal e de aglomerações.

O dólar subia 10,2% em relação ao real em 2021, cotado a R$ 5,73, por volta de 14h desta segunda.

"Os outros ativos brasileiros também sentem os efeitos do aumento do prêmio de risco. Além disso, o ambiente global passou a combinar retomada cíclica com aumento das taxas longas de juros".

Em 2021, o risco-país medido pelo CDS de cinco anos subia 38,8%, para 199,8 pontos, maior patamar desde novembro de 2020.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação às economias dos países, especialmente emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país; se ele cai, o recado é o inverso.

Com a piora no número nos casos de coronavírus e medidas mais restritivas de isolamento, o governo irá promover uma nova rodada de auxílio emergencial.

O ministro Paulo Guedes (Economia) disse nesta segunda-feira (8) que as parcelas do benefício irão variar de R$ 175 a R$ 375, com média de R$ 250.

Bolsonaro já havia dito que a previsão era pagar R$ 250 durante quatro meses a partir de março. No ano passado, quando o benefício teve início, o governo pagou cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300.

O Senado aprovou na semana passada a PEC Emergencial, que estabelece um teto de R$ 44 bilhões para pagamento do benefício. Uma contrapartida para o novo gasto, porém, não foi definida.

"O Congresso Nacional parece acreditar que pode expandir o gasto sem limites num país de dívida/PIB de 90%. As discussões recentes sobre novo auxílio emergencial e abertura de espaços no teto para Bolsa Família representam um potencial tiro mortal no arcabouço fiscal brasileiro, que trouxe inúmeros benefícios, especialmente ao possibilitar que o país tenha uma taxa de juro mais civilizada", afirma o Verde.

Na discussão da PEC Emergencial, investidores temiam que o Bolsa Família fosse retirado do teto de gatos pelo projeto, o que não aconteceu, representando um alívio fiscal ao mercado.

Em fevereiro, o fundo teve perda de 0,24%, que atribuiu a perdas em ações brasileiras e em aplicações em juro real em fevereiro. Os ganhos vieram de aplicações em taxas de juros de longo prazo na Europa e nos EUA, de ações internacionais e do dólar.

Em janeiro e fevereiro, o fundo acumulou ganho de 0,43%.

O Verde é um dos maiores e mais longevos fundos multimercado no Brasil. Ele combina ações brasileiras e internacionais, renda fixa e moedas. Desde 1997, acumula um ganho de 18.681,83%.

"Escolhas têm consequências. Essa máxima simples, mas tão ignorada em nosso país, explica bem os acontecimentos recentes no Brasil e seus impactos nos mercados", diz o relatório de gestão do mês passado.

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