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Mercado de trabalho vai enfrentar primeiro semestre desafiador, escreve Sergio Firpo

Setor de serviços, que mais emprega no Brasil, foi o que mais encolheu em 2020; solução parece vir mais dos instrumentos de saúde pública do que dos de política econômica

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Sergio Firpo

Professor titular e diretor de pesquisa do Insper, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia em Berkeley

A queda de 4,1% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro mostra o tamanho do desafio que o mercado de trabalho enfrentará no ano de 2021, sobretudo ao longo deste primeiro semestre. Não será surpresa se tivermos que continuar a conviver ao longo deste ano com altas taxas de desemprego e números crescentes de trabalhadores subutilizados ou em situação de desalento.

O setor de serviços tem sido o mais afetado desde o início da pandemia. Em 2020, serviços de transporte e armazenagem sofreram queda de atividade de 9,2%, enquanto outros serviços, incluindo os de alimentação, perderam 12,1%. A despeito da tímida retomada após a reabertura de bares, restaurantes e hotéis na segunda metade do ano passado, as restrições iniciais à circulação afetaram dramaticamente a oferta e a demanda por serviços, sobretudo nos grandes centros. A recuperação no segundo semestre de 2020 foi insuficiente para recompor essas perdas iniciais.

Como é o setor de serviços o que mais emprega e onde se concentra boa parte da força de trabalho com baixa qualificação sem vínculo formal de emprego, a queda na atividade nesse setor acaba por impactar negativamente a renda dos trabalhadores em situação mais vulnerável.

O auxílio emergencial serviu como grande alívio aos trabalhadores mais pobres que estavam ocupados no setor de serviços. Sem emprego ou capacidade de gerar renda por si próprios, se não fosse pelo auxílio, eles teriam tido perdas de bem-estar ainda maiores. Ademais, foi a manutenção da demanda das famílias mais pobres, via auxílio emergencial, que permitiu que o comércio varejista não sofresse demasiado durante a crise.

Na verdade, o auxílio emergencial não só garantiu, como em muitos casos aumentou, o poder de compra de milhões de famílias. Sabe-se, contudo, que o valor do auxílio emergencial e sua cobertura foram relativamente altos, tanto na comparação com programas sociais já existentes, quanto pela indisponibilidade de recursos orçamentários para financiá-los, pois a pandemia surgiu num momento em que o governo federal já não dispunha de quase nenhum espaço fiscal.

Em 2021 não será possível, nem mesmo com a flexibilização nos gastos obrigatórios, oferecer auxílios nos mesmos moldes de 2020. Como as famílias continuarão a precisar despender com alimentação, moradia e outros itens, espera-se que a redução no valor e na cobertura do auxílio emergencial gere pressão sobre o desemprego, elevando-o. Isso ocorrerá, pois haverá uma maior procura por postos de trabalho em um ambiente de continuada, senão incrementada, restrição à circulação.

O aumento da restrição à circulação, justificável do ponto de vista da saúde pública e da limitação do sistema hospitalar, dados o ritmo lento da vacinação em escala nacional e o espalhamento de variantes do vírus mais transmissíveis e mais mórbidas, reduzirá demanda e oferta de bens e serviços, fechando postos de trabalho.

Não deveremos ter boas notícias vindas do mercado de trabalho brasileiro em 2021, sobretudo em seu primeiro semestre. Continuaremos a conviver com altas taxas de desemprego e de subutilização do trabalho.

A solução, desta vez, parece vir mais dos instrumentos de saúde pública do que dos de política econômica. Torçamos (e exijamos) para que consigamos nos vacinar rápido e voltar, com segurança, às atividades econômicas usuais.

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