A pandemia turbinou a chegada de ao menos seis empresas brasileiras de tecnologia na Bolsa de Valores, no cenário de juros baixos e demanda por soluções para tempos de teletrabalho. O êxito de algumas ações chegou a levantar dúvidas sobre uma possível hipervalorização.
Após uma série de IPOs (oferta pública de ações, na tradução), ações tiveram disparada nos primeiros dias de negociação.
A Mosaico, de comércio eletrônico, dona do Buscapé, por exemplo, registrou alta de quase 100% na sua estreia na Bolsa em fevereiro. Já a valorização da Locaweb, que entrou em fevereiro de 2020, é de quase 480% em um ano.
Especialistas afastam a ideia de bolha, um assombro sempre que o assunto é tecnologia. Alguns concordam que pode haver uma valorização extremada, mas avaliam que ela está casada à conjuntura global, em que empresas com soluções digitais se tornaram um farol para o investidor.
“Por enquanto não se trata de uma bolha, porque ela representa um processo pontual e particular que não é o que temos aqui. O setor está muito aquecido, e bolha é crescimento sem fundamento”, afirma Joelson Sampaio, doutor em teoria econômica pela USP.
O fundamento, segundo ele, está na alta demanda por soluções ligadas às atividades online, multiplicadas pela pandemia. “A tecnologia está valorizada em todo o mundo”, diz.
Para Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos, o ambiente no início do ano era positivo para que novas companhias fossem ao mercado, com iminência de aprovação de reformas clamadas por investidores e a continuidade dos juros a patamares historicamente baixos.
“Essas empresas chegaram subindo muito na Bolsa. Vimos a Méliuz crescendo a ritmo acelerado, de 80%, 90%, e isso gerou um efeito em cadeia. Mas agora o cenário macro está mais deteriorado e elas acabam perdendo força junto. A valorização era justificada, e agora há certa incerteza”, afirma.
Na opinião de Roberto Attuch, presidente da Ohmresearch, casa de análises independentes, o ponto mais positivo da entrada de empresas com negócios baseados no digital é a diversificação de opções na Bolsa, ainda dependente de ações ligadas a commodities.
“É uma pena que o Brasil tenha ficado para trás. Não podemos chamar todas essas empresas de tecnologia exatamente, são digitais, mas já representam uma mudança”, diz.
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