Descrição de chapéu inflação juros

Prévia da inflação vai a 0,93% em março com alta dos combustíveis

Segundo o IBGE, foi o maior indicador para o mês desde 2015

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Rio de Janeiro

Com forte pressão do preço da gasolina, a prévia da inflação de março disparou para 0,93%, contra 0,48% no mês anterior, informou nesta quinta (25) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Foi a maior taxa do indicador para um mês de março desde 2015.

Em 12 meses, o índice acumula alta de 5,52%, superando o teto da meta estabelecido pelo Banco Central para o ano pela primeira vez desde novembro de 2016. Para especialistas, o teto também deve ser superado pelo índice oficial de inflação, o IPCA, já em março.

"Quando a gente olha a trajetória de 12 meses, o indicador vai passar o ano bastante desconfortável e acima do teto por bastante tempo", diz a economista do Itaú Julia Passabom. Ela prevê que, em junho, a inflação de 12 meses baterá os 7,80%.

O IPCA fechado de fevereiro já se aproximava do teto da meta, ao acumular em 12 meses alta de 5,20%. O resultado fechado de março só será divulgado no início de abril, mas a tendência é que o indicador siga pressionado pela alta do petróleo e pelos repasses do custo cambial a bens industriais.

Neste início de março, a maior pressão veio dos preços dos combustíveis. Principal componente no cálculo da inflação oficial, a gasolina contribuiu sozinha com 0,56 ponto percentual do IPCA-15. O produto registrou alta de 11,18% em março, reflexo dos reajustes promovidos pela Petrobras entre o início de 2020 e a semana passada.

Na última sexta (19), a estatal reduziu pela primeira vez o preço do combustível no ano, com queda de 5%. Nesta quinta (25), houve novo corte, de 4%, mas os repasses ainda não chegaram totalmente às bombas.

O IBGE detectou altas também em outros combustíveis: o etanol subiu 16,38% em março; o óleo diesel, 10,66%; e o gás natural veicular, 0,39%. Assim, o custo dos transportes subiu 3,79%, contra 1,11% em fevereiro.

Os combustíveis impactaram também o custo da habitação, que subiu 0,71% na prévia da inflação de março, informou o IBGE. A alta foi puxada pelo gás de botijão (4,60%), no décimo mês consecutivo de alta, e do gás encanado (2,52%). A taxa de água e esgoto (0,68%) também acelerou em relação a fevereiro.

Principal fator de pressão da inflação durante o primeiro ano de pandemia, o preço dos alimentos segue em desaceleração. Nesta prévia da inflação de março, tiveram alta de 0,12%, contra 0,56% no mês anterior.

"Os alimentos para consumo no domicílio caíram 0,03% após sete meses consecutivos de alta, sobretudo por conta das quedas de tomate (-17,50%), a batata-inglesa (-16,20%), o leite longa vida (-4,50%) e o arroz (-1,65%). No lado das altas, as carnes aumentaram 1,72%", disse o IBGE.

A alimentação fora do domicílio também desacelerou, registrando 0,49% em março, ante 0,56% de fevereiro. A perda de ritmo foi influenciada pelo lanche (0,64%) e pela refeição (0,33%), itens que, em fevereiro, aumentaram 1,20% e 0,37%, respectivamente.

A avaliação é que, além de fatores sazonais, o fim do auxílio emergencial contribuiu para a desaceleração de preços dos alimentos, ao reduzir o poder de compra do brasileiro e, consequentemente, a demanda por determinados itens.

Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE para calcular a inflação, apenas um teve deflação. Foi o custo da educação, que caiu 0,51% após alta de 2,39% em fevereiro, quando foram captados os reajustes anuais de cursos regulares.

Todas as regiões pesquisadas no IPCA-15 apresentaram alta no mês, disse o IBGE. A maior foi na região metropolitana de Belém (1,49%), em função da gasolina (12,44%). A menor foi na região metropolitana do Rio de Janeiro (0,52%), influenciado pelas quedas do tomate (-21,73%) e da batata-inglesa (-16,91%).

O cálculo do IPCA-15 usa a mesma metodologia da pesquisa do IPCA. A diferença está no período de coleta dos preços, que no primeiro caso é iniciada na segunda quinzena do mês anterior, e na abrangência geográfica, com menos localidades pesquisadas.

A escalada inflacionária dos últimos meses levou o Copom (Comitê de Política Econômica) do Banco Central a elevar a taxa básica de juros pela primeira vez desde 2015. A alta de 0,75 ponto percentual surpreendeu o mercado, que esperava 0,5 ponto percentual.

De acordo com a ata da reunião, divulgada na terça (23), a avaliação do comitê é que que a atividade econômica não sofrerá tanto com a pandemia quanto em 2020, mas os choques de preços, ainda que pontuais, ameaçam o cumprimento das metas de inflação.

Para economistas, o resultado do IPCA-15 reforça a necessidade de atuação do Copom. O banco Goldman Sachs, por exemplo, estima que a probabilidade de que o teto seja estourado este ano subiu de 8% para 41%.

Embora a maior influência no momento venha de preços do petróleo, o mercado vê pressão consistente no chamado "núcleo da inflação", conceito que exclui efeitos de choques temporários de preços. Entre o IPCA-15 de fevereiro e o de março, a inflação desse núcleo acumulada em 12 meses subiu de 3% para 3,3%.

O economista da Guide Alejandro Ortiz Cruceno, acrescenta que os preços do petróleo devem continuar pressionados, diante das perspectivas de aumento no ritmo de vacinação contra a Covid-19 e de reabertura das economias.

"Retomada econômica significa mais demanda por energia, que por sua vez induz maiores preços no mercado internacional e, naturalmente, estes serão repassados continuamente aos consumidores do mercado doméstico", escreveu, em relatório.

Passabom, do Itaú, lembra ainda que nos próximos meses, os índices de inflação anuais também sofrerão efeitos da retirada, da base de cálculo, dos primeiros meses da pandemia, quando as taxas foram muito baixas ou até negativas.

Assim, passarão a concentrar os efeitos do choque de preços de alimentos, bens industriais e petróleo iniciados a partir do segundo semestre de 2020. Ela acredita, porém, que o IPCA chegará ao fim do ano em 4,7%, abaixo do teto mas acima do centro da meta.

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