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Volkswagen suspende produção no país por pandemia e em meio a falta de peças

Paradas já eram esperadas por caua da falta de componentes essenciais para a produção

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São Paulo

Mais uma montadora interrompeu a produção no Brasil como consequência da pandemia de Covid-19, que alterou toda a cadeia produtiva global. A Volkswagen anunciou nesta sexta (19) que vai suspender a produção em todas as unidades no país por 12 dias. A interrupção começa na próxima quarta-feira (24).

A empresa tem fábricas nas cidades paulistas de São Bernardo do Campo, Taubaté e São Carlos, além de uma planta em São José dos Pinhais (PR).

Os funcionários não entraram em férias coletivas. De acordo com a montadora, a parada será compensada em datas futuras. Em nota, a VW atribui a interrupção ao agravamento da pandemia, com aumento da taxa de ocupação dos leitos de UTI nos estados brasileiros.

“A empresa adota esta medida a fim de preservar a saúde de seus empregados e familiares. Nas fábricas, só serão mantidas atividades essenciais", diz o comunicado divulgado pela montadora.

Apesar da gravidade da situação, as atividades fabris estavam autorizadas a continuar tanto no estado de São Paulo como no Paraná. Entretanto, paradas já eram esperadas por outro motivo: a falta de componentes essenciais para a produção.

A Volkswagen vem tentando contornar o problema e fez alguns milagres logísticos ao longo de fevereiro, mas a situação está novamente próxima do limite. Paradas pontuais já eram esperadas para todas as fábricas da empresa, e deveriam se intensificar ao longo do segundo bimestre.

Na Europa, a montadora tomou a mesma decisão em março do ano passado, quando a pandemia praticamente paralisou a produção de carros no continente.

No Brasil, o mês de abril foi marcado pela interrupção das linhas de montagem de todas as marcas. Com pouco mais de 1.800 carros fabricados ao longo do mês, o setor viveu seu pior momento industrial desde a década de 1950. As empresas criaram regras sanitárias para retomar as atividades.

Um representante da Volkswagen disse que o principal motivo da interrupção atual no país é, de fato, a preocupação com a pandemia. Contudo afirmou também que essa paralisação vai ajudar a equilibrar a questão da falta de componentes.

O tamanho do problema no Brasil pode ser medido pela General Motors, que deixou de produzir o Chevrolet Onix em Gravataí (RS) por falta de semicondutores. Funcionários entraram em férias coletivas e há suspensão de contratos de trabalho. A retomada plena só deve ocorrer em junho.

Com ou sem peças, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC quer a paralisação urgente das fábricas devido ao avanço da pandemia. A posição foi defendida nesta sexta (19) em reunião com a Anfavea (associação das montadoras).

Segundo o presidente do Sindicato, Wagner Santana, não houve um acordo que permitisse a interrupção imediata das linhas de montagem.

“Gostaríamos de ter uma sinalização mais positiva da Anfavea, que até se empenhou em tomar decisão conjunta, mas algumas questões econômicas se impuseram às de saúde”, diz Santana.

Ele afirma que a entidade que representa as fabricantes vai orientar seus associados a abrir negociação com os sindicatos para discutir a situação caso a caso.

Santana confirma a justificativa da Volkswagen e diz que a escassez de peças já foi um problema mais grave na montadora alemã. “A falta de componentes está sendo debatida desde o início de fevereiro, mas a fábrica conseguiu ajustar a produção.”

O presidente do sindicato diz que a decretação da fase vermelha assustou muito os trabalhadores, que têm acordos para manutenção do emprego em vigor nas principais fábricas do ABC (Volkswagen, Mercedes, Scania e Toyota).

Com o anúncio de paralisação da Volkswagen, a pressão pela parada total na região deve aumentar. Uma nova reunião está marcada para a próxima semana, dessa vez com a participação de representantes do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC.

Em um comunicado, a Anfavea afirma que a entidade e suas associadas sempre atenderam e respeitaram as diretrizes sanitárias nacionais e internacionais.

“Acompanhamos com muita atenção essa nova fase da pandemia, mantendo reuniões permanentes com sindicatos, autoridades municipais, estaduais e federais. No que se refere à possibilidade de paralisações espontâneas nas fábricas, a decisão está a cargo de cada montadora, sempre em avaliação da situação sanitária de cada região do país, e em diálogo com os respectivos sindicatos de trabalhadores”, diz o texto.

Mesmo que a pandemia entre em um estágio mais controlado nas próximas semanas, o problema das peças deve persistir. É o que tem ocorrido em mercados muito mais relevantes que o brasileiro.

A Ford confirmou nesta quinta (18) que tem tido dificuldades para produzir a picape F-150 na América do Norte por falta de chips e de semicondutores. Os automóveis são parcialmente montados e depois armazenados enquanto os componentes não chegam.

Trata-se do veículo mais vendido dos EUA nos últimos 39 anos, e que fechou 2020 com 787,4 mil unidades emplacadas naquele país.

Com a perda de relevância global da indústria automotiva, falta de rentabilidade dos produtos locais e problemas logísticos, o Brasil não é prioridade dos fornecedores ou das matrizes.

Neste cenário, a escassez de componentes tende a se estender até o início do segundo semestre, com novas paradas. Isso deverá ocorrer mesmo se a situação da pandemia melhorar no Brasil e no mundo, pois os problemas de transporte e de fornecimento não serão solucionados rapidamente.

Enquanto isso, as filas de espera por alguns modelos de carros e de caminhões têm crescido. Segundo a Anfavea, o estoque de veículos disponíveis no início de março era suficiente para atender a apenas 18 dias de vendas.

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