Leilão reforça avanço de gás e biodiesel no fornecimento de energia na Amazônia

Concorrência, porém, terminou sem contratar nenhuma usina solar e projetos a diesel ainda são maioria

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

O leilão para contratar energia para sistemas isolados na Amazônia realizado nesta sexta (30) reforçou o avanço de projetos a gás natural e a biodiesel sobre fontes mais poluentes que ainda dominam o fornecimento à região. Não houve, porém, contratação de projetos de geração solar.

O governo contratou uma potência instalada de 97 MW (megawatts) para abastecimento de 23 localidades no Amazonas, no Acre, no Pará, em Rondônia e em Roraima. São lugares que não estão conectados à rede nacional de transmissão de energia e são atendidas por sistemas isolados.

Principal fonte de energia para essas localidades, o diesel foi a fonte que ganhou o maior volume de energia no leilão desta sexta. Mas, pelo segundo leilão seguido, projetos a gás e biodiesel venceram lotes, sendo responsáveis por 40% do volume de energia previsto pelo leilão.

As propostas vencedoras representaram um deságio médio de 19,4% em relação ao preço máximo da energia estabelecido pelo governo e se comprometeram com investimentos de R$ 355,5 milhões.

O custo da energia dessas localidades é rateado por todos os consumidores brasileiros de energia via CCC (conta de consumo de combustíveis), um encargo cobrado na conta de luz que deve somar R$ 8 bilhões em 2021.

Além de cara, a geração a diesel na região é ineficiente e poluente: em geral, gasta-se mais combustível para transportar o diesel pelas longas distâncias da Amazônia do que para gerar energia.

Em 2019, a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) estimou que as emissões pelos geradores dos sistemas isolados chegariam a 2,87 milhões de toneladas de CO2 equivalente em 2020. O volume se equipara às emissões de Recife em 2015, por exemplo, segundo inventário feito pela prefeitura naquele ano.

Em leilão realizado em 2019 para fornecer energia a Boa Vista (RR), projetos a gás natural e a biodiesel começaram a ocupar espaço nesse segmento, em processo visto como uma transição rumo à disseminação de empreendimentos de geração mais eficientes e menos poluentes na região.

No leilão desta sexta, a Usina Xavantes venceu com um usina movida a gás natural disputa para o fornecimento a cinco localidades no Amazonas, com deságio de 32% em relação ao preço máximo estabelecido no edital. O investimento será de R$ 90 milhões

Será o segundo projeto a gás na região após a venda dos ativos de produção da Petrobras à Eneva, que abriu uma nova fronteira para o gás da Amazônia ao vencer em 2019 o leilão para construir uma usina em Boa Vista.

O diretor da Oncorp, controladora da Xavantes, João Mattos disse que o projeto será feito com máquinas de alta rotação "com eficiência diferenciada para o gás natural, rompendo paradigmas sobre a possibilidade do uso do combustível no estado”.

Ele não quis detalhar, porém, como será o suprimento do gás. Disse apenas que não usará o modal rodoviário, como o projeto da Eneva, que leva o combustível sob a forma liquefeita em caminhões do Amazonas até Boa Vista.

Já a Brasil Biofuels conseguiu emplacar geradores a biodiesel para o suprimento de dez localidades em Rondônia e duas no Pará. No primeiro caso, venceu a disputa com deságio de 10,1% sobre o preço máximo. No segundo, o deságio foi de 23,5%. Ao todo, a empresa vai investir R$ 83,7 milhões.

A Rovema Energia e a própria Xavantes venceram a disputa para fornecer energia gerada a óleo diese a três localidades no Acre e três em Roraima, respectivamente.

Na tentativa de abocanhar parte desse mercado, produtores de energias renováveis defendiam mudanças nas regras dos leilões do governo, alegando que o modelo atual favorece térmicas a diesel, mais poluentes.

Embora representasse 6% da oferta cadastrada para o leilão, a energia solar acabou não vencendo nenhuma disputa. O setor alega que, apesar da redução de custos da tecnologia nos últimos anos, as regras do leilão dificultam a participação nessas concorrências.

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) chegou a debater mudanças no modelo, mas decidiu deixar a discussão para os próximos leilões para evitar que o processo atual tivesse que ser cancelado para acomodar novas regras.

Há hoje 211 localidades brasileiras registradas como sistemas isolados, lista que inclui comunidades indígenas e ribeirinhas, ilhas e cidades na floresta.

"Estamos perdendo uma grande oportunidade de, de dentro da Amazônia, sair com custos mais baratos e experimentar soluções inovadoras", disse, na reunião, o diretor da Aneel Sandoval Feitosa.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.