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Claudia Yoshinaga

No pior momento da pandemia no país, qual é o Brasil que existe para o mercado financeiro?

Ritmo lento de imunização somado a transmissão acelerada da Covid-19 tem resultado em recorde de mortes

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Claudia Yoshinaga

Coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV

Estamos vivendo o pior momento da pandemia no Brasil —e, infelizmente, a perspectiva não é das melhores. O total de pessoas vacinadas no país (com pelo menos a primeira dose) é de pouco mais de 18,8 milhões, o que equivale a 11,7% da população do país.

A título de curiosidade, essa é aproximadamente a população brasileira de 1890, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Este ritmo lento da imunização, juntamente com a transmissão extremamente acelerada da Covid-19, têm resultado em um número recorde de mortes a cada dia, infelizmente. Isso suscita a dúvida sobre se a Bolsa de Valores está refletindo ou não o cenário da economia brasileira adequadamente.

Covas em cemitério paulistano vistas do alto
Na segunda onda da pandemia, número de enterros volta a crescer em cemitérios paulistanos - Karime Xavier - 4.mar.2021/Folhapress

Os argumentos a favor da alta da Bolsa incluem a demanda crescente por investimentos de risco. No último levantamento publicado no início de março, a B3 divulgou que há 3,46 milhões de contas de investidores registradas (sabendo que aqui há o problema de múltipla contagem, no caso dos investidores que têm contas em mais de uma instituição), o que representa um aumento de mais de 100% em relação ao número de dezembro de 2019.

Há mais investidores entrando neste mercado em busca de melhores oportunidades de investimento com um cenário de Selic (a taxa básica de juros) em patamares baixos. Ainda que tenha ocorrido uma alta de 0,75 ponto percentual na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), essa taxa ainda está em níveis baixos a ponto de motivar a busca dos investidores (pessoas físicas, no caso) por mais risco.

Além disso, temos que lembrar que a participação de investidores estrangeiros é bastante relevante na nossa Bolsa, e que investir aqui está barato. Apesar de o Ibovespa ter recuperado, em reais, a sua pontuação para níveis pré-pandemia, isso não aconteceu em dólares.

Por conta da grande desvalorização do real frente a várias moedas no mundo, quando analisamos o desempenho do Ibovespa em dólares, ainda estamos longe de voltar ao patamar de janeiro de 2020.

Mas nada disso adianta se a economia brasileira não se recuperar, e não há muita saída a não ser com o controle da pandemia e a vacinação em massa.

Por mais que cada dólar compre muitos reais no momento, se não tivermos uma economia que dê suporte a boas teses de investimento, não seremos atraentes para o investidor estrangeiro.

A saída de recursos por estrangeiros nos últimos tempos tem feito parte do noticiário com frequência. E com tantas mortes acontecendo aqui no Brasil, a ponto de assumirmos a triste liderança de país com o maior número atual de mortes no mundo, a perspectiva externa não é das melhores.

Adicione a isso a dificuldade que muitos brasileiros têm enfrentado por estarem numa economia sem qualquer possibilidade de recuperação, sem vacinação em grande escala e sem auxílio para sobreviverem neste período em que o isolamento se faz necessário.

Isso se traduz em baixos índices de distanciamento social em pleno pico da pandemia, o que acaba por piorar ainda mais a economia e a perspectiva de recuperação.

Contrabalançando esses pontos, temos que o controle da pandemia é pauta prioritária para que o Brasil, sua economia e sua Bolsa de Valores possam prosperar.

Enquanto isso não acontecer, nem outros pontos como eleições presidenciais, aprovação de reformas ou ajuste fiscal entram em questão para se analisar o futuro do país.

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