Novo problema deixa parte da frota do Boeing 737 MAX no chão

Fabricante afirma que é preciso checar sistema elétrico; um avião da Gol é atingido pela medida

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A fabricante norte-americana Boeing informou nesta sexta (9) que será preciso deixar no chão parte da frota mundial de seus aviões 737 MAX para a checagem de um eventual problema elétrico.

O modelo, best-seller da história da empresa, é o mesmo que ficou 20 meses parado devido a dois acidentes fatais em 2018 e 2019. Suas operações foram retomadas em novembro do ano passado nos EUA e em países como o Brasil.

Um Boeing 737 MAX durante pouso após voo de teste em Seattle, Washington (EUA)
Um Boeing 737 MAX durante pouso após voo de teste em Seattle, Washington (EUA) - Karen Ducey - 29.jun.2020/Reuters

No Brasil, apenas 1 dos 8 MAX operados pela Gol terá de ser vistoriado, segundo informou a empresa. Há cerca de 90 outros encomendados.

A Boeing não informou quais empresas aéreas ou quantos aviões foram afetados, apenas dizendo que são 16 as companhias que precisarão fazer a verificação.

O problema agora não tem nada a ver com os defeitos de desenho e de software que levaram à proibição de voo do avião. Agora, a questão é verificar se o avião tem espaço adequado de aterramento de um componente do sistema elétrico da aeronave —se não, há risco de sobrecargas e panes que, presume-se pela necessidade de parar de voar, sejam perigosas.

Ainda não há uma AD (diretiva de aeronavegabilidade, na sigla inglesa) da FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA) orientando empresas sobre o problema. "Estamos trabalhando em estreita colaboração com a FAA nesta questão", disse a Boeing em nota.

Segundo a empresa americana Southwest informou em comunicado, 30 dos 58 MAX de sua frota serão afetados, mas ela prevê um mínimo de problemas de sua malha aérea porque a questão é tecnicamente simples de ser resolvida.

O defeito é o mais novo capítulo da atribulada história do MAX, o avião com mais encomendas da empresa americana: 5.049 unidades.

Elas começaram a ganhar os céus em 2017, mas em 2018 e 2019 dois acidentes mataram 346 pessoas com as mesmas características, uma perda súbita de controle da aeronave, que mergulhou rumo ao solo.

A partir daí, foi feita uma intensa investigação que levou à paralisação da produção do avião e ao cancelamento de algumas encomendas. Ao todo, há 453 MAX entregues no mundo.

O processo descobriu que um sistema automático de correção do ângulo de voo do avião, por um defeito de software, era acionado indevidamente durante movimentos de subida. Ele forçava então o nariz da aeronave para baixo.

O sistema foi implantado no MAX porque o avião aproveitava o desenho da geração anterior do 737, o NG. Historicamente, a Boeing sempre evoluiu o modelo a partir de seu antecessor, acelerando a produção e reduzindo custos —com mais de 10.500 unidades vendidas desde 1967, é a aeronave comercial mais bem sucedida do mundo.

Só que o novo modelo tem turbinas maiores e colocadas mais à frente da asa, o que mudou seu centro de gravidade e obrigou a instalação do sistema de correção de ângulo de voo.

Na apuração, ficou estabelecido que o treinamento de qualificação de pilotos fora insuficiente para lidar com o sistema também, e trocas de e-mails reveladas apontaram diversas falhas e acobertamentos internos da empresa sobre os problemas de produção do MAX.

Foi instalada a maior crise na história da Boeing, que divide a liderança do mercado de aviação comercial do mundo com a europeia Airbus. A turbulência derrubou a diretoria da empresa e fez mais de 30 mil funcionários perderem o emprego, gerando estimados US$ 20 bilhões de perdas específicas.

Para piorar, a pandemia da Covid-19 estraçalhou o setor aéreo em 2020, com queda de 65,9% do tráfego de passageiros no mundo —com efeitos em cascata nas encomendas de aviões. A Boeing teve prejuízo de US$ 12 bilhões no ano passado.

Houve outros impactos. Com a crise, a empresa cancelou a compra da área de aviação comercial da brasileira Embraer, após um processo de destrinchamento da fabricante paulista ao longo de 2019.

O divórcio não amigável está agora numa corte de arbitragem nos EUA, onde os brasileiros querem reparação pelo impacto do fim do negócio em suas contas —o prejuízo registrado no ano passado foi de R$ 3,6 bilhões, parte disso creditado ao episódio.

A empresa americana enfrenta ainda problemas com o desenvolvimento do 777X, uma versão maior de um de seus maiores sucessos de vendas no nicho de aviões com dois corredores.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.