Produção de vinho francês é arrasada por intensa geada

Além do impacto da pandemia de Covid-19, vinícolas do país sofrem com alta de impostos dos Estados Unidos

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Roger Cohen
Paris | The New York Times

Uma geada repentina, a pior em algumas décadas, arrasou a indústria de vinhos da França, já abalada pelo impacto da pandemia de coronavírus e o que é chamado pelos viticultores de "imposto de Trump".

Velas e pequenas fogueiras tremulavam pelos vinhedos e pomares na semana passada, revelando o desastre, enquanto os produtores tentavam de tudo para afastar o frio que queima a vida nos brotos das plantas. Uma camada de fumaça das fogueiras se formou sobre Lyon e áreas do sudeste do país.

Quando a onda de frio terminou, a destruição tinha se espalhado pela maior parte das regiões vinícolas da França, incluindo o Vale do Rhone (Ródano), Bordeaux, Borgonha, Champagne e Loire. Jean-Marie Barillère, diretor de uma importante associação de produtores de vinhos, disse ao jornal francês Le Figaro que a geada atingiu "80% dos vinhedos franceses".

Produtor acende fogueira para proteger vinhedos de danos causados ​​por geada em Vertou, na França - Stephane Mahe - 14.abr.21/Reuters

O gelo se seguiu a um período de clima moderado, por isso a queda da temperatura pegou de surpresa a região rural do país. Os vinhedos foram os mais atingidos, mas amendoeiras e árvores frutíferas também sofreram impacto, assim como outras culturas, incluindo beterraba e colza.

Havia grande comoção nas regiões vinícolas da França, a alma do país de muitas maneiras.

"Ouvi alguém dizer que foi como perder um membro da família", disse ao Figaro Eric Pastorino, presidente da "appellation" Côtes de Provence, uma área vinícola legalmente definida e protegida. "Pode parecer infantil, mas se aproxima do que estou sentindo. Talvez só os viticultores possam compreender esse sentimento, mas nos vimos nos vinhedos de manhã com lágrimas nos olhos."

Anne Colombo, presidente da "appellation" Cornas, uma valorizada área de vinhedos na região do Rhone, disse que foi a pior geada em mais de 50 anos. "Já tivemos problemas maiores com granizo do que com geada, mas este ano foi devastadora", disse ela.

Citando nomes de grandes vinhos do Rhone —Condrieu, Cornas, Côte Rotie—, ela indicou que todos foram gravemente impactados. Os prejuízos poderão chegar a 80%. "É um golpe terrível depois do vírus --que fechou restaurantes e bares e assim cortou a demanda-- e depois do imposto de Trump."

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump impôs tarifas aos vinhos franceses em consequência de várias disputas com a França por subsídios e impostos. As tarifas de importação contribuíram para uma queda de 14% nas exportações globais de vinhos e outras bebidas alcoólicas francesas no ano passado. Com a redução do tráfego aéreo, as vendas de vinhos nas lojas sem impostos nos aeroportos também despencaram.

Ministros do governo francês prometeram ajuda de emergência para os viticultores e agricultores atingidos. A ligação francesa com a terra é intensa; nenhum político pode ignorar isso. O primeiro-ministro Jean Castex disse que o teto de um fundo contra calamidades agrícolas será aumentado e ajuda "excepcional" será dada.

O ministro da Agricultura, Julien Denormandie, disse que a geada foi "um episódio de extrema violência que causou danos muito significativos". Ele convocou uma reunião de emergência na segunda-feira (12) com os viticultores, assim como produtores de frutas, legumes e cereais, para analisar os danos.

"O governo vai nos ajudar, mas provavelmente não na extensão de nossos prejuízos", disse Colombo.

"Neste momento, eles estão gastando como se não houvesse amanhã."

Desde o início da pandemia do coronavírus, o governo do presidente Emmanuel Macron decidiu gastar o que fosse necessário para compensar as pessoas por empregos e empresas perdidos. O custo final e como a dívida será paga não estão claros. Parecia que uma abordagem semelhante seria adotada para o desastre agrícola.

"É incrivelmente duro, muito violento", disse um produtor de amêndoas no sul do país, David Joulian, à Agência France-Presse. "Tenho a sensação de estar caindo. Toda árvore que eu testei está morta, temo que tenha perdido a safra inteira."

Traduzido originalmente do inglês por Luiz Roberto M. Gonçalves

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