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Quarta Revolução Industrial vai marcar a indústria no pós-Covid

Escassez de insumos demonstra que ajuste de cadeias globais a flutuações na produção não é processo simples

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Marco Antonio Rocha

Professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia

Os episódios de escassez de alguns insumos industriais vêm demonstrando como o ajuste das cadeias globais de valor às flutuações intensas na produção não é um processo simples.

A crise de 2008 já havia demonstrado que os movimentos de retração e recomposição posterior do comércio internacional em tempos de cadeias globais de valor produzem mudanças que vão além do mero retorno à configuração anterior.

Levantar algumas questões relativas a essa recomposição do comércio dentro da atual conjuntura é um passo importante para se compreender a economia pós-Covid.

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Fábrica alimentícia em Belo Horizonte (MG) - Alexandre Rezende - 17.abr.18/Folhapress

A crise de 2008 nos ensinou que a recuperação comercial posterior é acompanhada de alterações na concorrência e na divisão de tarefas no interior das cadeias globais. A alta intensidade do comércio intraindústria e a necessidade de recuperar rapidamente as escalas operacionais produziram um processo marcado pela entrada agressiva de novos concorrentes e por movimentos de fusão e aquisição entre empresas já estabelecidas.

Na crise atual, caracterizada também por alterações no padrão de consumo, o ajuste das cadeias globais tem sido ainda mais truncado, afetando inclusive a oferta de insumos estratégicos.

Diferente da crise anterior, a retomada do comércio dessa vez será acompanhada de uma maior preocupação política com a integração produtiva, em paralelo com o acirramento usual da concorrência na recomposição das cadeias produtivas.

Esse cenário tende a reforçar duas outras características da retomada do comércio internacional pós-pandemia: a aceleração do uso das tecnologiasbase da Quarta Revolução Industrial e a disseminação de políticas de fomento ao setor produtivo.

O isolamento social, a maior utilização da logística de encomendas, o aumento da escala no processamento de dados, entre outras mudanças provocadas pela pandemia induziram a maior utilização de tecnologias base da Indústria 4.0.

A ampliação da escala gerada pela disseminação do uso dessas tecnologias tem gerado efeitos indutores significativos em seu desenvolvimento. Como muitas dessas trajetórias tecnológicas já estavam em curso, por conta dos esforços envolvendo a Quarta Revolução Industrial, a pandemia acabou antecipando processos de automação e trabalho a distância, já previstos como parte das mudanças futuras nos processos de produção.

O relatório The Future of Jobs (O futuro do trabalho, em tradução livre), produzido pelo Fórum Econômico Mundial, apresenta os resultados da pesquisa realizada com 291 empresas de diversos setores ao redor do mundo. Entre as entrevistadas, cerca de 40% afirmaram terem antecipado planos de incorporação de tecnologias relativas à automação e trabalho remoto.

Esse movimento tende a possibilitar maior terceirização das atividades de serviços vinculados à produção, além de acelerar o desemprego tecnológico, tendências igualmente apontadas pelas próprias empresas pesquisadas.

O segundo fator associado à retomada do comércio internacional pós-pandemia será os efeitos que os pacotes de estímulos econômicos terão sobre a indústria global.

O governo Joe Biden, ao anunciar o American Jobs Plan (Plano de empregos americano, em tradução livre), mira não apenas na criação de um conjunto de estímulos à criação de renda e emprego, mas também em fazer frente ao acirramento da competição comercial com a China.

Para além da superação da crise provocada pela pandemia, tanto o “Plano Biden” como o novo plano quinquenal chinês preveem uma profunda modernização tecnológica da infraestrutura logística e de comunicações, acompanhadas de políticas para a reorganização de seus sistemas produtivos para a Quarta Revolução Industrial.

Ambos os planos se orientam por meio de missões voltadas a transformações concretas, planejadas e com metas estabelecidas para terem impactos em todo o sistema produtivo local, demonstrando que o planejamento chinês está começando a ser mimetizado em termos de políticas de desenvolvimento produtivo, científico e tecnológico.

Em conjunto, esses processos descritos resultarão em um provável avanço no ritmo de desenvolvimento e assimilação das tecnologias da Quarta Revolução Industrial, com especial atenção na reintegração das cadeias produtivas locais, através da utilização disseminada de políticas industriais de caráter mais sistêmico. Aqui, porém, seguimos com o desmonte.

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