'Tem gente em Brasília pensando apenas na eleição de 2022', diz presidente da Anfavea

Segundo Luiz Carlos Moraes, governo de Jair Bolsonaro e Congresso não priorizam a população, as empresas e a geração de empregos

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São Paulo

“Tem gente em Brasília pensando na eleição de 2022, mas não está pensando em como fechar o ano, em como cuidar da população, em como cuidar das empresas, em como cuidar do emprego”.

A frase dita por Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, associação das montadoras, nesta quarta-feira (7), comprova que a indústria automotiva, que tem grande participação no PIB (Produto Interno Bruto) da indústria, é mais uma a se desencantar com a condução econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido).

Luiz Carlos Moraes, da Mercedes, é o novo presidente da Anfavea
O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes - 23.abr.19/Divulgação

Moraes disse que o recado não é para um ou outro, mas para o centro dos poderes em Brasília, incluindo o Congresso.

A entidade subiu o tom durante a apresentação dos resultados de produção em março, mês em que a pandemia de Covid-19 chegou ao seu momento mais grave no Brasil. A montagem de veículos teve alta de 5,5% em relação ao mesmo período de 2020 e de 1,7% sobre fevereiro. No acumulado do primeiro trimestre, há crescimento de 2%.

Segundo a Anfavea, os entraves que envolvem as questões orçamentárias no Brasil e as rusgas entre os poderes são definidas como “ruídos políticos inaceitáveis” pelo presidente da entidade.

“Estamos conversando sobre novos investimentos, e esse ambiente econômico não ajuda e até assusta nossas matrizes”, diz Moraes.

O distanciamento entre montadoras e governo se intensificou neste início de ano. As empresas cobram aceleração na campanha de imunização e ainda não digeriram as críticas diretas feitas por Bolsonaro logo após a Ford anunciar o fechamento de suas fábricas no Brasil, em janeiro.

A Anfavea não foi convidada para o jantar de empresários com o presidente, que será realizado nesta quarta. Moraes deu a entender que, caso fosse chamado, não compareceria. “Não estou saindo de casa.”

Segundo a Anfavea, foram fabricadas 200.340 unidades em março, dado que inclui carros de passeio, comerciais leves, ônibus e caminhões. Contudo, a base de comparação é rasa: as empresas frearam a produção logo após a pandemia ser decretada, em 11 de março de 2020. Isso disfarça os efeitos das paralisações atuais por falta de peças ou em obediência a novas regras estaduais e municipais de isolamento social.

No dia 31 de março, 14 montadoras passavam por paradas totais ou parciais, que atingiram 30 fábricas e 65 mil funcionários em seis estados, segundo a associação das montadoras. Nesta quarta (7), cinco montadoras e 10 plantas permaneciam com linhas de montagem interrompidas.

A falta de componentes tem sido monitorada semana após semana e segue como principal problema do setor. A empresa mais afetada é a General Motors, que só deve retomar a produção plena em Gravataí (RS) no mês de julho. O resultado da parada se reflete no ranking de vendas: líder de mercado nos últimos anos, o Chevrolet Onix fechou o mês de março em terceiro lugar no ranking de vendas, atrás de Fiat Strada e Hyundai HB20.

“Todas as montadoras voltaram nesta semana, mas há riscos, é um problema que ainda não foi resolvido lá fora. Existem problemas que podem ocorrer nas nossas matrizes, que fornecem componentes para nós. Esse assunto ainda não está resolvido”, afirma Moraes. “Há muitos veículos incompletos no pátio, faltando alguma peça.”

Em 2020, os emplacamentos diários tiveram picos de 12 mil unidades emplacadas por dia nas duas primeiras semanas de março. Os números despencaram com a pandemia, em um período de lojas fechadas e desconhecimento sobre a Covid-19.

Hoje, ao dividir os números por categorias, é possível ver o desequilíbrio. Enquanto a queda no segmento de automóveis de passeio ficou em 11% na comparação entre os meses de março, os emplacamentos de comerciais leves e caminhões tiveram altas de 17% e 30%, respectivamente.

As explicações estão no avanço do delivery durante a pandemia –que impulsiona a comercialização de vans, furgões e picapes– e na expansão do agronegócio.

No geral, o estoque atual de 101 mil unidades é o suficiente para 16 dias de vendas nos patamares atuais. Esse dado tem se mantido sem grandes variações desde dezembro e deve permanecer assim.

O nível de empregos manteve-se estável entre fevereiro e março. Em relação a março de 2020, houve redução de 2.300 postos de trabalho, uma queda de 2,1%.

O primeiro trimestre de 2021 terminou com 528 mil veículos leves e pesados emplacados, uma queda de 5,4% nas vendas na comparação com igual período de 2020. Os dados se baseiam no Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores).

As exportações tiveram alta de 19,5% em relação a março de 2020. No trimestre, os embarques subiram 7,8%. Argentina, Colômbia e México estão entre os principais destinos, e uma das razões do resultado é o lançamento de novos veículos nacionais em mercados da América Latina, como a Fiat Strada e o Volkswagen Nivus.

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