Bancos centrais aumentam presença no mercado de criptoativos

Decisões pró e contra moedas digitais dividem opiniões entre analistas e executivos do setor

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São Paulo

Os bancos centrais ao redor do mundo têm marcado cada vez mais presença no mercado de criptoativos, e a tendência é que, seja por decisões pró ou contra as moedas digitais, o segmento ganhe cada vez mais atenção entre investidores e consumidores.

Os analistas e executivos do setor dividem opiniões sobre os efeitos que a maior presença das entidades monetárias pode trazer ao segmento.

Enquanto alguns defendem que atitudes pró-criptoativos por parte dos bancos centrais podem aumentar a segurança jurídica, outros acreditam que tais ações podem criar barreiras regionais para o avanço dessas moedas –que atualmente não são emitidas, garantidas ou reguladas por nenhuma autoridade monetária.

Decisões de bancos centrais ao redor do mundo variam entre pró e contra criptomoedas
Decisões de bancos centrais ao redor do mundo variam entre pró e contra criptomoedas - Dado Ruvic/Reuters

As decisões dos bancos centrais ao redor do mundo são variadas. De um lado, alguns países tentam proibir a mineração, a compra ou a venda de criptoativos –como é o caso da Índia e da Nigéria, por exemplo.

Na mão contrária, outros acendem o debate sobre a tributação da moeda, como é o caso dos Estados Unidos, passam a aceitar o pagamento com criptomoedas (como o Irã), ou mesmo miram uma moeda digital própria –como fazem a China, o Japão e até o BC brasileiro.

“São posições completamente diferentes e que têm impactos grandes nessas regiões, mas não necessariamente no preço do ativo, que tende a oscilar apenas quando países de peso [que mais negociam os criptoativos], como os da Europa, os EUA e a China, fazem alguma movimentação”, afirmou o presidente da Bitcoin Trade, Bernardo Teixeira.

Um exemplo dessa oscilação de preços aconteceu em meados de abril, quando veio a mercado a notícia de que o presidente americano, Joe Biden, estava planejando alterar os modelos de tributação atualmente vigentes nos EUA.

O plano de quase dobrar os impostos sobre ganhos de capital no país pressionou os preços das criptomoedas para baixo e fez com que cerca de US$ 200 bilhões (R$ 1,1 trilhão) desaparecessem desse mercado em um dia, segundo informou a rede americana CNBC.

Para João Canhada, presidente da Foxbit, quanto maiores forem os indicativos de interferência do governo ou de um banco central nos criptoativos, pior tende a ser a percepção do mercado.

“Dependendo de como os governos se posicionem em relação às criptomoedas, eles têm o poder de barrar ou dificultar o seu uso. Mas é exatamente a liberdade transacional desses ativos que atrai seus usuários”, afirmou o executivo.

“Mas é preciso entender que as moedas digitais como o bitcoin não têm domínio bancário. Isso significa que mesmo que um país coloque barreiras, ele não pode impedir que seus cidadãos transacionem criptomoedas”, completou Canhada.

Uma das maneiras legais para a transação seria, por exemplo, a abertura de contas bancárias ou em corretoras (exchanges) em países pró-criptoativos.

No Brasil, os executivos do setor destacam a maior abertura do Banco Central em relação à inovação e destacam os avanços da autoridade monetária na criação de uma moeda digital brasileira.

Em 18 de abril, o presidente do BC brasileiro, Roberto Campos Neto, afirmou que deve trazer novidades sobre o lançamento do dinheiro digital oficial em breve e que o BC já trabalha na produção de um relatório com alternativas para a implementação da moeda até 2022.

“Essa movimentação do BC brasileiro é positiva e indica um olhar mais voltado para a inovação, que não tem sufocado. Isso acaba criando segurança jurídica e pode impulsionar as criptomoedas no país”, afirmou o presidente da Alter, Vinícius Frias.

O executivo menciona, ainda, o recém-criado ETF (fundo de índice) de criptoativos da B3, primeiro da categoria na Bolsa brasileira que, em sua estreia, subiu 12,26% e movimentou R$ 156 milhões.

Segundo a analista de fundos da XP Carolina Oliveira, a gestão terceirizada em criptoativos pode ser uma saída para o investidor que quer entrar no mercado, mas que ainda não tem segurança em fazer esse tipo de alocação por conta própria.

“Um dos principais riscos é a perda ou o roubo da chave privada [que dá acesso à criptomoeda quando o investidor compra o ativo], o que é diluído no caso de um ETF. Além disso, há uma maior diversificação da carteira. Essa pode ser uma porta de entrada”, disse.

Além disso, apesar de o debate existir, a adoção das criptomoedas como investimento e meio de pagamento oferecem dinâmicas diferentes. Segundo Canhada, da Foxbit, a tecnologia para que as criptomoedas sejam usadas como meio de pagamento no dia a dia ainda não está pronta.

“As transações de bitcoin hoje têm custado cerca de US$ 10 (R$ 53,66) cada. Então a operação ainda não faz sentido se eu quero ir comprar um pão na padaria, por exemplo. Mas já existe uma tecnologia em teste que tem grande potencial de fazer isso ser uma realidade e a tendência é positiva para o segmento ao redor do mundo”, afirmou o executivo.

Os executivos e analistas do setor alertam, ainda, sobre os riscos atrelados aos criptoativos, que envolvem a alta volatilidade característica das moedas digitais –que chegam a oscilar 10% em um dia, por exemplo– e as chamadas pirâmides financeiras: prática ilegal que consiste em uma estrutura insustentável de repasses que, com a falta de novos participantes, deixa quem está na base sem nenhum recurso.

“Não existe milagre nem lucro garantido com bitcoin, então desconfie de grandes promessas e estude bem o assunto antes de investir”, disse Teixeira, do Bitcoin Trade.

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