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Bancos europeus querem se unir para enfrentar gigantes de pagamentos dos EUA

Mais de 30 instituições se juntam para criar serviço de pagamento e rivalizar com PayPal, Mastercard, Visa e Apple

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Olaf Storbeck
Frankfurt | Financial Times

Mais de 30 dos maiores bancos e serviços de processamento de cartões de crédito da Europa vão tentar criar um gigante dos serviços de pagamento capaz de derrubar um “oligopólio” dominado por empresas dos Estados Unidos.

Um empreendimento baseado em Bruxelas, que no momento emprega 40 especialistas em pagamentos, tem prazo até setembro para preparar planos para um serviço de pagamentos pan-europeu que poderá ser usado para pagamentos online e também em lojas, para pagamento de transações entre consumidores individuais, e para sacar dinheiro em caixas automáticos.

“A ideia é criar um paladino europeu no setor de pagamentos capaz de enfrentar PayPal, Mastercard, Visa, Google e Apple”, disse Joachim Schmalzl, presidente da European Payment Initiative (EPI).

Cliente usa um iPhone 7 para pagar pelo Apple Pay, em um café em Moscou, na Rússia - Maxim Zmeyev - 3.out.2016/Reuters/File Photo

Os bancos e as demais companhias que apoiam a iniciativa, entre os quais Deutsche Bank, BNP Paribas, ING, UniCredit e Santander, no momento processam mais de metade dos pagamentos realizados na Europa. O projeto tem o apoio da Comissão Europeia e também das autoridades regulatórias da zona do euro.

A EPI até o momento já recebeu mais de 30 milhões de euros das companhias envolvidas, disse Schmalzl. Ele também é membro do conselho da Associação Alemã de Bancos de Poupança, a maior organização setorial dos bancos de varejo da Alemanha, e é um dos defensores mais veementes da iniciativa, que ainda está em busca de um nome de marca.

A primeira aplicação prática do projeto —um sistema para pagamentos eletrônicos em tempo real entre consumidores— pode ser lançada no começo de 2022, enquanto uma ferramenta mais ampla para pagamentos estaria disponível a partir do segundo semestre do ano que vem, disse Schmalzl.

Burkhard Balz, membro do conselho do Bundesbank, o banco central alemão, expressou apoio à EPI, que “reforçaria a autonomia estratégica da União Europeia no mercado de pagamentos, reforçaria a competição e assim criaria mais escolhas para os consumidores”. O Banco Central Europeu (BCE) também recebeu a iniciativa com aprovação.

A Comissão Europeia descreveu a EPI como “um projeto novo, ambicioso e europeu”, acrescentando acreditar que “os cidadãos e as empresas da União Europeia devem se beneficiar de uma solução de pagamento rápida, eficiente e confiável. (...) [A EPI] seria um passo crítico e decisivo nessa direção, especialmente se cobrir um grande espectro das comunidades bancárias europeias”.

Os pagamentos realizados com cartões na Europa são processados predominantemente por companhias sediadas nos Estados Unidos. Quatro em cada cinco transações conduzidas na Europa são realizadas por meio de sistemas da Mastercard e Visa, de acordo com a EuroCommerce, um grupo de lobby de varejistas europeus.

Schmalzl alertou que uma fatia de mercado assim dominante poderia ser prejudicial para os consumidores e os comerciantes —e apontou para as tarifas relativamente altas e para questões sobre proteção de dados. “Queremos oferecer uma alternativa a esse oligopólio e dar aos comerciantes e consumidores da Europa uma escolha real”, ele disse.

Tentativas europeias anteriores de desafiar a supremacia dos serviços de pagamentos americanos fracassaram miseravelmente. O “Monnet Project”, lançado em 2011 com o apoio de 24 bancos europeus, fracassou por falta de sustentação política e por não conseguir desenvolver um modelo de negócios viável, ele disse.

As barreiras para entrada são altas porque arranjos de pagamento só são atraentes para comerciantes se muitos clientes os usarem —e vice-versa. “Superar esse impasse é o principal obstáculo”, disse Marcus Mosen, consultor de pagamentos e antigo presidente-executivo da Concardis, uma empresa alemã de serviços de pagamentos.

Um porta-voz do Deutsche Bank disse que um arranjo europeu de pagamentos era necessário para “preservar a independência”, e que o maior banco da Alemanha havia aderido à iniciativa para “apoiar esse esforço conjunto das instituições financeiras europeias”.

Eric Tak, vice-presidente mundial do centro de pagamentos do grupo holandês ING disse que “existe uma oportunidade para harmonizar o panorama europeu de pagamentos e unir as forças das soluções nacionais de escala insuficiente”, acrescentando que o grupo havia sondado outros bancos na Holanda e na Bélgica em busca de apoio

Diversos países têm soluções de pagamento bem sucedidas, em casos específicos. Por exemplo, o Girocard, alemão, e a Carte Bancaire, da França, oferecem acesso barato a saques e pagamentos no comércio, e a Holanda opera o sistema de pagamentos eletrônico iDEAL.

“As soluções nacionais não podem ser expandidas para cobrir a escala europeia”, disse Schmalzl. Ele disse que a ideia por trás da EPI era harmonizar as melhores iniciativas nacionais e estendê-las a toda a Europa.

“Ninguém [na Europa] pode competir por conta própria contra os gigantes dos cartões de crédito dos Estados Unidos. Isso será possível se nos unirmos”, ele acrescentou.

A equipe da EPI, em Bruxelas, começou a trabalhar nove meses atrás. No terceiro trimestre, os envolvidos na iniciativa decidirão se a ideia vai ser levada adiante, o que requereria capitalização adicional significativa. “Em termos de nível de investimento, alguns bilhões de euros serão necessários”, disse Schmalzl, acrescentando que “se nos unirmos, podemos obter juntos os recursos necessários, na Europa”.

Tradução de Paulo Migliacci

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