Descrição de chapéu Folhajus

Com Pai Nosso, bolsonaristas incentivam presidente a atacar STF, governadores e prefeitos

Manifestantes vestidos de verde e amarelo usam 1º de maio para protestar contra urna eletrônica e isolamento social na pandemia

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São Paulo, Salvador e Brasília

Bolsonaristas vestindo verde e amarelo realizaram neste sábado (1º) manifestações em várias cidades do país em sinal de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pela defesa do voto impresso e da abertura do comércio sem restrição durante a pandemia e contra o STF (Supremo Tribunal Federal), governadores e prefeitos que fazem oposição ao governo federal.

Tradicionalmente, quem vai às ruas no 1º de maio, Dia do Trabalhador, são as centrais sindicais que, por segurança, organizaram encontros virtuais pelo segundo ano consecutivo de pandemia.

Ocorreram atos de bolsonaristas em capitais como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e Fortaleza, e também em cidades do interior. Os manifestantes também pediram intervenção militar, o “fim do comunismo” e entoaram várias palavras de ordem. “Nós te autorizamos, presidente” foi uma das mais repetidas em vários pontos do país.

Éder Câmara de Oliveira, voluntário que coletava assinaturas para a criação do partido Aliança pelo Brasil na avenida Paulista, local onde os manifestantes se concentraram em São Paulo, disse à reportagem que “esse é o momento em que os brasileiros autorizam o presidente a seguir a Constituição contra os que não a seguem: o STF, os governadores e os o prefeitos. O presidente precisa botar ordem”.

O evento, sem estimativa de público, também reivindicou o voto impresso, seguindo declarações infundadas contra a urna eletrônica que o presidente vem fazendo desde antes de ser eleito.

Pediu, ainda, medidas como a abertura de estabelecimentos comerciais sem restrições, ação defendida também por Bolsonaro, apesar de a suspensão das operações de comércio e serviços ser uma medida que contém o alastramento do vírus, que já matou mais de 400 mil pessoas no Brasil.


Em determinado momento, um dos participantes do protesto, que ocupava um caminhão parado em frente ao prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), avisou que “o presidente está chegando”. Bolsonaro foi aguardado por horas em São Paulo, mas não participou do evento —ele estava em Brasília, onde sobrevoou manifestação similar organizada na Esplanada dos Ministérios.

Os manifestantes em São Paulo rezaram o Pai Nosso e a Ave Maria. Um pastor leu uma passagem da Bíblia e, outro, que assumiu o microfone pouco depois, afirmou que “crente não tem medo de morrer”, referindo-se às milhares de pessoas que participam do ato, aglomeradas e muitas sem máscara.

“Prefiro morrer de Covid do que de tristeza”, disse ele, que foi aplaudido. Após pedir que o público se ajoelhasse, o pastor começou a gritar ofensas ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB). “Doria maligno”, disse o pastor aos gritos, criticando medidas restritivas impostas no estado.

A certa altura, as orações incomodaram alguns participantes. "Isso aqui não é missa. Eu vim para apoiar o presidente”, disse uma bolsonarista.

A mulher, que não quis se identificar, estava atrás do caminhão de som. Com ela, outros apoiadores de Bolsonaro reclamavam da presença de pastores em cima do veículo. Houve um princípio de tumulto, que se desfez com a participação de políticos como Roberto Jefferson, presidente do PTB, e Carla Zambelli, deputada federal (PSL-SP), no ato.

Em Brasília, Bolsonaro mobilizou dois helicópteros da Força Aérea Brasileira para sobrevoar a manifestação na Esplanada dos Ministérios. O protesto teve as participação de aliados do presidente, como os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF).

​Em live nas redes sociais, o filho do presidente apareceu provocando aglomerações e abraçando simpatizantes com a máscara no queixo. Em discurso em um caminhão de som, ele distribuiu adesivos do "Ditadória", referência ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB). A crítica se deve à adoção de medidas de restrição social em São Paulo para diminuir o contágio pelo coronavírus.

"O presidente joga nas quatro linhas da Constituição Federal, mas há outras autoridades que não seguem", disse. "Hoje, o presidente é tolhido por outros Poderes", acrescentou.


Em vídeo divulgado nas redes sociais, Kicis mostrou manifestantes aglomerados em frente ao Congresso, muitos deles sem máscara de proteção facial. O grupo gritava repetidas vezes "voto auditável já"​.

"A Esplanada começou fechada para carros, o que dificulta muito a manifestação em Brasília. Mas o povo foi em peso para as ruas e o governo do Distrito Federal teve que ceder”, afirmou.

A Polícia Militar do Distrito Federal informou que dois grupos se reuniram na Esplanada dos Ministérios na manhã deste sábado, um a favor e outro contra Bolsonaro.

O deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, discursou durante manifestação em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters

A aglomeração maior, de apoio ao presidente, ocorreu em frente ao Congresso Nacional, e a Polícia Militar disse não ter feito estimativa de público.

Em Salvador, os manifestantes fizeram uma marcha na avenida Oceânica entre o Farol da Barra e o monumento do Cristo, área que se tornou um ponto tradicional de manifestações de grupos de direita na Bahia.

Os manifestantes cantaram músicas de protesto e também fizeram uma roda de orações pelas vítimas da Covid-19 no Brasil.

Entre as principais pautas do movimento, destacam-se a defesa do voto impresso e o apoio ao presidente, além de críticas a medidas restritivas como forma de combate à pandemia.

“Viemos apoiar o presidente Bolsonaro nessa luta insana que ele está travando contra o sistema” disse Cezar Leite, ex-vereador em Salvador e representante do movimento Médicos Pelo Brasil.

No protesto, manifestantes vestidos de verde e amarelo carregaram faixas com a mensagem “presidente, eu autorizo”. De acordo com Cezar Leite, a mensagem é um incentivo ao presidente para agir de acordo com o que acredita.

“Não somos a favor de intervenção militar. Seria até mesmo falta de inteligência defender intervenção quando temo o presidente no governo. Não defendemos nada fora da Constituição”, disse Leite.

Além do Médicos pelo Brasil, participaram do ato movimento como o Nas Ruas, oAvança Brasil e o Direita Salvador.

No Rio de Janeiro, os manifestantes aliados ao presidente tomaram as ruas na avenida Atlântica, na altura de Copacabana. Em sua maioria, estavam vestidos de verde e amarelo e carregavam bandeiras e cartazes.

Um pequeno grupo no Rio levou faixas defendendo “intervenção militar com Bolsonaro no poder”, intervenção militar no Supremo Tribunal Federal e investigação dos ministros da Corte.

Os manifestantes não respeitaram medidas de distanciamento e não usavam máscaras de proteção contra a Covid-19.

Em Fortaleza, manifestantes também realizaram uma carreata em apoio ao presidente. Houve críticas ao governador Camilo Santana (PT). O protesto saiu da avenida Aguanambi em direção à a BR-116, na saída da cidade.

Ao todo, 17 pessoas que participaram de uma manifestação na capital cearense foram conduzidas para delegacias por infringirem o decreto estadual que proíbe aglomerações. Elas prestaram depoimentos, assinaram termos circunstanciados de ccorrências e foram liberadas.

A manifestação também foi em formato de carreata em Porto Alegre, onde os motoristas saíram da Rótula das Cuias até o Parcão, no bairro Moinhos de Vento. Além da defesa do presidente, houve pedidos de intervenção militar e críticas ao governador Eduardo Leite (PSDB).

Na capital mineira, onde houve passeata e carreata, manifestantes carregavam faixas com as mensagens “o poder emana do povo”, “eu autorizo” e “faça o que deve ser feito”.​

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