Economistas reveem previsões para 2021 após impacto menor da pandemia na economia

Dados de março mostram queda menor e números de abril apontam recuperação da atividade

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São Paulo

A economia brasileira sofreu menos com o recrudescimento da pandemia neste início de 2021, em relação ao impacto verificado em março e abril do ano passado. Indicadores de atividade deste ano mostram que a queda da atividade em março ficou abaixo do esperado e foi seguida por recuperação em abril e início de maio.

Ainda assim, os números estão praticamente no mesmo patamar do final do ano passado, e as perspectivas são de uma retomada forte apenas no segundo semestre, com o avanço no programa de vacinação.

A divulgação dos dados de março da indústria e do comércio nesta semana contribuíram para que vários economistas revisassem para cima as projeções de crescimento neste ano.

Além disso, o país está se beneficiando do forte ritmo de crescimento das duas maiores economias mundiais –Estados Unidos e China– e de um cenário externo que conta ainda com valorização de moedas emergentes e alta no preço de commodities agrícolas e minerais. Isso já se reflete, por exemplo, no dólar.

O Itaú Unibanco revisou a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2021 de 3,8% para 4%. Os números estão bem acima do consenso de mercado (3,1%), segundo a pesquisa Focus do Banco Central. A instituição espera crescimento de 0,4% no primeiro trimestre e queda de 0,1% no segundo, na comparação trimestral.

O economista do banco Luka Barbosa afirma que os resultados podem ser ainda melhores caso a pandemia seja controlada, sem que haja novas ondas de contaminação, e que a expectativa é que a economia volte ao nível pré-crise no final deste ano.

Ele cita três fatores que ajudaram a garantir o resultado positivo nos três primeiros meses do ano: a elevada taxa de poupança acumulada no ano passado, a reposição de estoques na indústria e a retomada da economia global.

“Você tem um impacto econômico da segunda onda do vírus muito menor do que na primeira. Não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Dessa vez, o fechamento foi mais seletivo, não fechou a economia inteira”, afirma Luka.

O indicador diário de atividade da instituição registrou retração de quase 50% em março do ano passado em relação ao patamar anterior à pandemia. Dessa vez, a perda ficou em torno de 20%. No começo de maio, estava cerca de 10% abaixo do nível pré-crise.

Dados sobre gastos com cartões do Santander/Getnet mostram que, depois de uma queda forte em março, os gastos no varejo e com serviços voltaram a crescer em abril. A recuperação se deu, principalmente, a partir da segunda quinzena do mês, com a reabertura de algumas atividades após a estabilização no número de mortes no país.

O economista do Santander Lucas Maynard afirma que os números mais positivos dos últimos meses colocam um viés positivo em relação às projeções atuais da instituição, feitas com base nos dados até janeiro, de crescimento de 0,2% no primeiro trimestre e queda de 0,6% no segundo. A projeção para o ano é uma alta de 3% do PIB.

Segundo Maynard, apesar do aumento nos níveis de mobilidade verificados em abril, permanece a dúvida sobre novas restrições geradas pela pandemia. “Depende da questão sanitária, se vamos ter novas ondas, novas cepas que levem a gente a permanecer em um estado de restrição de mobilidade por mais tempo. Esse é o principal risco.”

O economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos, revisou sua projeção de crescimento do PIB de 2021 de 2,7% para 3%, com expectativa de expansão de 0,1% no primeiro trimestre. Entre os motivos da revisão estão os indicadores econômicos acima do esperado no primeiro trimestre e a perspectiva de evolução da vacinação do segundo semestre.

“A reação da economia brasileira está melhor que o esperado, e os indicadores antecedentes de abril têm mostrado crescimento. Nossa avaliação é que o segundo trimestre pode ser também de crescimento, o que depende muito do comportamento pandemia”, afirma.

O indicador diário de atividade da Genial chegou a ficar cerca de 25% abaixo do nível pré-crise no começo de abril, mas já reduziu a queda para menos de 20%, como estava no início de março.

O professor Emerson Marçal, do Cemap FGV (Centro de Macroeconomia Aplicada da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas), afirma que os efeitos econômicos da segunda onda serão bem menores, embora a questão sanitária tenha atingido patamares mais elevados do que em 2020.

O modelo de projeção do Cemap FGV aponta crescimento de 0,2% no primeiro trimestre, seguido por um trimestre negativo e um resultado positivo de 2,1% no ano.

Marçal afirma que as restrições ao crescimento neste ano não podem ser superadas por meio de mais estímulos à demanda, como no ano passado, quando a retração foi muito mais forte. Para ele, o único caminho é avançar na vacinação para que seja possível a retomada de atividades que dependem de aglomerações.

“Estou um pouco mais pessimista [que o mercado], porque o modelo está sugerindo que a recuperação vai ser um pouco mais lenta.”

Nesta semana, o grupo de economistas de instituições associadas à Anbima (associação das entidades do mercado financeiro) revisou a projeção para o PIB do primeiro trimestre de queda de 0,4% para avanço de 0,05%. Para o segundo trimestre, de estabilidade para queda de 0,77%. Para o acumulado do ano, foi mantida em 3,2%.

De 2017 a 2019, o Brasil teve média anual de crescimento de 1,5%. Se for considerado o período de 2017 a 2020, ano em que começa a pandemia, a média de crescimento cai para +0,1%.

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